
É um dos mais respeitados pediatras da região e ao longo dos anos tem marcado gerações. Homem de sorriso fácil, Miguel Costa confessa que o facto de ser muito procurado o “enche de orgulho” e é um reconhecimento por aquilo que faz.
Jornal ‘O Regional’ - Há quem diga que é ou já foi o pediatra de grande parte dos sanjoanenses. Que marcou muitas gerações. Esta procura é o maior reconhecimento que pode ter enquanto médico?
Miguel Costa – Já sou pediatra há muitos anos. E já tenho no meu ficheiro muitas crianças cujos pais foram meus utentes. Claro que esta procura me enche de orgulho e me realiza como profissional, pois prova que confiam em mim. Mas, gerações… poderá ser pelo menos por agora um pouco exagerado (risos).
Sempre quis ser médico? Escolheu a medicina já a pensar na pediatria?
Não. Passei pelas fases de querer ser padre, ator, engenheiro, professor… Só pensei em medicina no final da adolescência. Nessa altura, os bons alunos seguiam medicina e eu sempre fui um aluno aplicado. Ser pediatra só equacionei depois de terminar o curso. Nessa altura existiam inúmeras especialidades que me agradavam. Mas esta falou mais alto e atualmente não me vejo noutra profissão e especialização.
Com uma longa carreira dedicada às crianças, entende que para se ser pediatra é necessário ter traços especiais de personalidade?
Não tenho qualquer dúvida em relação a isso. Gostar muito do que se faz, ter sensibilidade e muita paciência, e não é só para as crianças. Os pais e mesmo os avós às vezes são muito mais difíceis de lidar. Também é necessária uma atualização permanente do ponto de vista médico e ser um profissional disponível. Aliás, diria mesmo, muito disponível.
Há quem diga que os médicos e os padres são ótimos confidentes. É mesmo assim?
É mesmo assim (risos). Durante as doenças ou noutro tipo de problemas, as pessoas estão mais fragilizadas e acabam por confiar no médico e desabafar. Claro que estamos abrangidos pelo segredo profissional, o que dá segurança aos utentes. Muitas vezes, uma parte do tratamento médico é ouvir e saber ouvir.
Desde o início da sua carreira, certamente muito mudou no exercício da profissão. Da tecnologia aos pais, necessariamente diferentes, quais são as mudanças mais significativas?
Mudanças tecnológicas, registos nos computadores, receitas eletrónicas, programas informáticos sempre a mudarem, novos exames complementares, informações cruzadas entre unidades de saúde – mas também nas famílias – pais jovens, ambos trabalhadores, mais inexperientes e com falta de apoio dos avós e familiares. Falta a experiência e o bom senso dos mais velhos.
“Ser pai ou mãe não é um concurso de popularidade”
Imagino que um pediatra, mais de que qualquer outro médico, seja massacrado com pedidos de auxílio fora de horas. Estabelece limites?
Não, mas devia (risos). A minha forma de ser obriga-me a responder e a tentar ajudar sempre que possível, mas a fronteira com o abuso é ténue: telefonemas noturnos, desrespeito pelas férias, feriados, muitos dizem mesmo, sei que está de férias, mas questionarem-me sobre xaropes para a tosse durante um funeral de um familiar… muitas vezes não é fácil estar sempre disponível, mas tento. Como costumo dizer, respondo sempre, logo que seja possível.
Qual é o conselho mais importante que se pode dar aos pais?
Os pais não são os amigos dos filhos. São aqueles que mais gostam e se preocupam com eles.
Quer com isso dizer que pais são pais e os amigos os filhos que os escolham, é isso?
É exatamente isso. Os pais, para continuarem a educar e manterem a autoridade, nunca podem entrar numa relação de amizade. Não podemos confundir os papéis e ser pai ou mãe não é um concurso de popularidade. Temos muitas vezes de tomar decisões que, mesmo que nos custem muito, terão de ser implementadas. Não temos de ser os pais porreiros.
Qual é a primeira pergunta que lhe fazem quando entram aqui pela primeira vez?
Geralmente apresentam-se e explicam como vieram parar aos meus cuidados, indicação de alguém, ouviram falar. E depois se disponibilizo o número do telemóvel, redes sociais, mail´s (risos). É esta disponibilidade que pretendem saber se tenho e dou.
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