Sociedade

Rostos sem Máscara - 49 - Francisco Macieira: “Os sapateiros são escravos do trabalho. Sempre o foram”

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É uma profissão transmitida de geração em geração. Mãos sábias que fazem renascer o que para muitos parece ter os dias contados. Francisco Macieira é um desses homens que “gosta muito” daquilo que faz. Conserta e constrói de raiz um sapato.

A profissão de sapateiro foi sobrevivendo através dos séculos e adaptando-se aos novos tempos. Francisco Macieira, 56 anos, é dos poucos sapateiros em S. João da Madeira que conserta, constrói de raiz um sapato e realiza trabalhos vários na área do calçado, dando-lhe “uma nova vida”.
Aprendeu tudo o que sabe com o pai. “Era um mestre do calçado. Sabia fazer de tudo. Herdei essa sua sabedoria”. Depois de um grave acidente do progenitor, que o obrigou a uma recuperação muito longa, assumiu o negócio até aos dias de hoje. “Estou nesta profissão porque não sei fazer mais nada. A verdade é essa. Não estudei nem nunca tive tempo de me dedicar a outras coisas”, uma vez que a profissão que escolheu “ocupava todo o meu tempo”, enfatiza.
Sapateiro profissional há 34 anos, não esconde durante a conversa o gosto por aquilo que faz. ”Coloco capas, solas, fechos, elásticos, palmilhas e faço ainda muitos outros trabalhos”. Clientes parecem não lhe faltar. “Vêm de todo o país, pois fazemos aqui determinadas transformações no calçado que as empresas não conseguem”, nomeadamente calçado adaptado para determinadas patologias. Relativamente aos seus fregueses, revela que “há de tudo”. Se uns “respeitam” quem está por detrás do balcão, outros parecem não o fazer. “Encontramos muitas vezes os sapatos mal tratados, sujos. Pessoas nada asseados que pensam que, por pagarem, podem tudo”, assegura o entrevistado.
Macieira, como é conhecido pela maioria dos clientes, afirma também que,  apesar de muito antiga a profissão, “é, infelizmente, um pouco ingrata, desde sempre pouco valorizada” que, ainda assim, vai resistindo à crise e ao tempo. “Hoje, os nossos jovens não querem profissões que sujem as mãos. Ser sapateiro é uma arte muito mal paga, mas deve ter seguidores. É lamentável dizer que em sapatos se ganha o ordenado mínimo. Recebem apenas o que a lei diz para pagar. Ninguém reconhece o esforço desta arte”. Francisco Macieira não sentiu a “crise” da pandemia no seu negócio. “Sei que muitos, infelizmente, perderam o negócio por falta de clientes. Isso não aconteceu comigo. Continuo a manter os prazos de entrega”.
A sua loja, na Rua Oliveira Júnior, em S. João da Madeira, está repleta de sapatos, a maioria para consertar, lembrando, a quem ali entra, uma mistura entre uma sala de costura e uma oficina.

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