Ovos, tartes, folares, pães de ló… A lista de doçarias pascais é extensa e há para todos os gostos. Na Páscoa, há doces que são típicos, tradicionais e que não faltam na mesa. O jornal “O Regional” esteve à conversa com alguns estabelecimentos para tentar perceber o nível de adesão dos sanjoanenses a esta altura do ano, nomeadamente no que diz respeito à tradição da doçaria convencional.
Pão de ló, seja húmido ou tradicional, sericaias, semifrios, bolos, entre muitas outras iguarias, são os produtos mais vendidos na (re)conhecida Padaria e Confeitaria ‘A Mina da Estação’. “A tradição é tradição e vendemos muitos sortidos; a compra de doces ou de folares mantém-se e cada vez mais”, considerou Adelaide Ferreira, em entrevista ao jornal “O Regional”. “As pessoas gostam muito do nosso produto e procuram-nos durante todo o ano; a Páscoa não é exceção à regra”, contou, mostrando-se orgulhosa de todos os prémios e medalhas arrecadados pel’A Mina ao longo dos anos.
Outra das iguarias procuradas é a regueifa da tia que, na Páscoa, ‘A Mina’ batiza de ‘regueifa da Páscoa’. “Mudamos o nome desta regueifa nesta altura por causa da Páscoa, mas o nome é mesmo ‘regueifa da tia’. Antigamente, as nossas avós faziam-na em casa”, esclareceu Adelaide Ferreira. “Fazemo-las todo o ano, mas na Páscoa vendemos bastante este produto. Acho que é por que as pessoas se lembram dos tempos antigos”, comentou.
Apesar do movimento n’A Mina se manter ao longo de todo o ano, Adelaide Ferreira considerou que as pessoas, antigamente, ficavam mais ansiosas com a chegada da Páscoa. “Agora, durante todo o ano, as pessoas podem comer coisas boas; sabemos que, antes, não era bem assim, porque existiam alturas específicas para comer uma determinada refeição ou doce”, afirmou, acrescentando que as tradições respeitantes à doçaria não se perderam ao longo do tempo. “Há clientes que compram pão de ló e que o levam para o Algarve. Uma mesa recheada de iguarias pascais é importante para as pessoas, pelo menos do que vejo pelos nossos clientes que compram regueifas, sortidos ou pão de ló”, exemplificou.
A única queixa dos clientes diz respeito à atual conjuntura económica, dado que os tempos “não estão fáceis”. Adelaide Ferreira e a restante equipa d’A Mina tentam encarar a Páscoa de forma semelhante aos anos anteriores. “Estamos com espírito de Páscoa, aliado com muito trabalho árduo. Para nós, é uma Páscoa normal; o movimento habitual”, explicou, satisfeita.
‘A Mina’ já conquistou mais de 100 prémios Dos cerca de mais de 100 prémios e medalhas arrecadados pela Padaria e Confeitaria ‘A Mina da Estação’, o mais recente foi atribuído pela Associação do Comércio e da Indústria de Panificação (ACIP). O vencedor do ‘X Concurso ACIP – O Melhor Folar e Pão de Ló de Portugal’ foi ‘A Mina’. “Isto significa que mantemos a qualidade do nosso produto. Aliás, é essa mesma qualidade que nos permite ganhar estes prémios”, declarou Adelaide Ferreira, que contou, entre risos, que algumas medalhas ou prémios não estão expostos na padaria por “falta de espaço”. “A regueifa da tia já ganhou duas vezes a medalha de ouro”, exemplificou. “Dos 31 anos em que cá estou, sempre ganhamos prémios todos os anos. Bronze, prata, ouro… Tudo isso faz número”, afirmou, contente.
Da loja… para a mesa (de Páscoa)
No estabelecimento Dona Chá, a Páscoa está a ser vivida “de maneira muito tradicional”. Muitos ovos com chocolate, assim como doces convencionais, podem ser encontrados nesta loja. “O ovo, sem dúvida, está na moda e é o número um. Todas as nossas iguarias são caseirinhas; não há nada que não seja feito por nós”, adiantou a proprietária da Dona Chá, Carla Pinho, em entrevista ao jornal “O Regional”.
Segundo Carla Pinho, o doce que mais vende é o pão de ló, assim como os ovos recheados, principalmente para oferecer aos padrinhos ou aos afilhados. Em relação aos doces mais tradicionais, a responsável enalteceu o pão de ló da casa, feito com uma receita própria. Afirmou, convicta, que “toda a gente gosta”. “Não há ninguém que o tenha provado e dito que não gostou”, contou, entre risos, explicando que o que distingue o seu pão de ló é o facto de ser semi-húmido, extremamente cremoso e que se pode comer à colher, mas sem ser líquido. “É aquele pão de ló que, para quem gosta de o comer acompanhado com queijo, é qualquer coisa de incrível”, descreveu, confiante.
Entre as iguarias que os clientes mais pedem, a torta de bolo de chocolate, uma receita antiga, é também um “sucesso” da casa. Recheada com chocolate, ovos moles e creme brûlée, tem sido um dos produtos mais apreciados pelos clientes. “Se um cliente não pode ingerir muito açúcar, fazemos um bolo à sua medida. Para quem quer algo muito doce, fazemo-lo dessa forma. O nosso conceito é mesmo esse; vamos sempre de encontro às necessidades específicas do cliente, através de um serviço personalizado”, acrescentou Carla Pinho.
Os ovos não podem faltar na Páscoa e é por isso que, desde o ovo red velvet até ao crocante, Carla Pinho idealiza estas doçarias do zero. “Como fazemos tudo fresquinho, a encomenda tem de ser feita com antecedência. O chocolate tem de estar à temperatura certa, os cremes têm de ser feitos um a um, o caramelo salgado tem de estar naquele ponto específico, os morangos são transformados em puré para fazer aquele creme”, enumerou, enaltecendo o “trabalho meticuloso” que este trabalho exige. “Quando fazemos aquilo que gostamos, não é trabalho; é dar asas à nossa imaginação e à nossa criatividade”, admitiu.
Os clientes têm feito encomendas a propósito da Páscoa e isto diz a Carla Pinho que é sinal que querem, de facto, festejar e celebrar este período pascal. No entanto, em relação a anos anteriores, a responsável da ‘Dona Chá’ considerou que a Páscoa já não tem a tradição que tanto a caracterizava – “em todos os aspetos”. “Em termos económicos, as pessoas estão extremamente retraídas. Não é de agora, mas foi-se agravando com o tempo”, opinou Carla Pinho. “Mesmo a nível religioso, as pessoas já não estão tão ligadas… Acho que olham para a Páscoa como um período de férias e não tanto pelo significado original. A tradição de religião, de família, não é a mesma”, lamentou, acrescentando: “Gostava que fosse, mas não é a realidade.”
A Páscoa também pode ser um momento de inspiração em alternativa ao que é comum ter na mesa. Na ‘Azeda – Padaria Artesanal’, Bárbara Mota revelou ao jornal “O Regional” que estão a testar algumas receitas de pão de ló, confecionadas à maneira da ‘Azeda’. “É húmido e fofinho", descreveu Bárbara Mota. “É um género de pão de ló, realizado sem o fermento químico que é normalmente utilizado. A nossa massa-mãe dá-lhe um travo azedo; é um travo diferente, como o do pão alentejano”, explicou. “De resto, é igual, mas sem passar pelo processo químico e com uma fermentação mais lenta. Isto significa que nos faz melhor à saúde em relação ao pão branco, que é fermentado”, distinguiu.
Desde que abriram a padaria artesanal Azeda, esta é a primeira vez que estão a confecionar algo diferente para a Páscoa, uma vez que os doces da Azeda são específicos, feitos, geralmente, à base de folhados. “O pão de ló é típico da nossa zona, gostamos imenso e queríamos experimentar fazer esta receita sem o fermento. Foi iniciativa própria; temos de inovar, sempre!”, considerou Bárbara Mota.
Do feedback dos clientes em relação à Páscoa, Bárbara Mota referiu que as pessoas gostam de chocolates e do inegável e delicioso pão de ló; daí terem decidido experimentar algo diferente. “Acho que as pessoas gostam de ter uma mesa recheada de doces. A Páscoa é mais um motivo para reunir a família, conviver e comer”, simplificou, entre risos. “O importante é celebrar a Páscoa à maneira de cada um”, enalteceu. Mesmo que a Azeda não tenha produtos específicos que lembram a Páscoa, à exceção da criação do arrojado pão de ló, Bárbara Mota realçou que o movimento comercial se mantém. “Apesar de tudo, gostamos muito desta época. Tentamos sempre juntar toda a família à mesa. Mesa recheada, ovinhos e boa conversa”, concluiu, bem-disposta.