Sociedade

Há 100 anos n´O Regional

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As duas edições d’O Regional em março de 1922, que saíram a 12 e 26 do mês, trouxeram reflexões sobre as dinâmicas locais, mas também notícias de fora do território nacional.

Na sequência de um texto sobre “os menores empregados nas fábricas e a sua instrução”, em que Firmeza defendia que os industriais deviam vedar a entrada às crianças que não soubessem ler, considerando assim que “a instrução é, como a economia, a base da riqueza”, escreveu na edição de 12 de março António Francisco Nogueira. Na primeira página, é possível reparar no artigo com o título “Os filhos menores dos operários de S. João da Madeira, perante a instrução.--- uma refeição diária”, no qual o então diretor das escolas sanjoanenses apontava uma solução, mas também criticava a escassez de professores.
“Pode, pois, dizer-se que a instrução em Cucujães está confiada a 9 professores. E para igual população escolar, S. João da Madeira tem apenas 4 professores oficiais!”, comparava as duas freguesias que pertenciam, na altura, ao mesmo concelho (Oliveira de Azeméis).
No seguimento, António Francisco Nogueira propunha que cada operário fizesse uma contribuição para ficar em depósito na empresa, que, por sua vez, faria também uma contribuição. “As verbas serão destinadas a livros, vestuário, e a uma refeição diária aos filhos menores dos operários, enquanto frequentarem a escola”. Antes disso, as verbas deveriam destinar-se à montagem de um edifício adequado para as aulas. O autor do artigo reconhecia ainda que “as escolas são providas pelo Governo, e o Estado paga aos professores, o que já é uma enorme vantagem”.
Na edição seguinte (26 de março), Firmeza reagiu, pedindo que o “digno diretor das escolas de S. João da Madeira” desenvolvesse e completasse o seu raciocínio e vincando o seu desejo de ver “esta localidade entrar, de vez, no caminho largo do progresso citadino”. Considerava ainda que a Associação Comercial e Industrial deveria iniciar “as necessárias negociações” para que não se admitissem mais menores nas fábricas.
Regressando à primeira edição do mês, “em breve”, reúne-se em assembleia geral a Santa Casa da Misericórdia para eleger a primeira mesa, que irá gerir a irmandade no biénio 1922-1924. Um irmão destaca a “competência profissional” e o “amor e espírito de sacrifico pelo hospital” dos irmãos eleitores.
João [da Silva] Correia traz notícias de França, contando que “rolou a cabeça de Landru”. O assassino em série, conhecido por ‘Barba Azul’, que serviu no exército durante a I Guerra Mundial e seduzia viúvas de guerra para as assassinar e ficar com os seus bens. Henri Désiré Landru foi depois julgado e condenado à morte, por guilhotina, a 25 de fevereiro de 1922. Escrevia o sanjoanense que “um homem que de tal modo despreza a vida própria: não há de prezar muito mais a vida alheia”, face ao desprezo de Landru pela guilhotina.
Raul da Silva Veiga continua a assinar um conto, que continua a cada edição. Mas, a 26 de março, assina ainda uma longa carta (dispersa pelas três páginas de texto do jornal), onde comenta as cartas trocadas entre Zeca e Serafim.
Depois de, a 12 de março, Serafim se assumir como “irmão mais velho” e relembrar lições de educação, Raul S. V. aproveita para dissertar sobre a mulher (enquanto conceito), bem como para lembrar os “manos(?)” que a injúria e o insulto “são frutos da exaltação e a exaltação, sendo má conselheira, faz desprezar a dignidade própria e alheia e... põe em fuga as Musas”.
De salientar, ainda, que os assinantes continuam a receber o jornal com atrasos de dias, ou, por vezes, há periódicos que são mesmo devolvidos. ‘O Regional’ avisa os leitores que o devem receber ao domingo, exceto em Cucujães, onde deverá ser distribuído à segunda-feira.
N’O Regional, há 100 anos, era assim.

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