Sociedade

A perseverança que transforma a vida dos animais de rua num Natal de Focinhos Unidos

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Mas para os animais errantes, a época festiva não é sinónimo de conforto. É neste contexto que a Associação De Focinhos Unidos, de São João da Madeira, redobra esforços para garantir que cães e gatos acolhidos não sejam esquecidos.

“Somos uma associação que nasceu há cinco anos e que nos diferenciamos das outras porque não temos espaço físico próprio”, explicou Joana Oliveira, presidente da direção da associação, em entrevista ao Jornal ‘O Regional’. “Trabalhamos maioritariamente com famílias de acolhimento temporário e, quando necessário, em regime de hotel, sempre garantindo que os animais tenham cuidados adequados, apesar das limitações financeiras.”

Recolha alimentar para animais

A gestão dos cuidados é rigorosa, sobretudo nesta altura do ano. A associação suspende as adoções durante o Natal e outras épocas festivas. “Não acreditamos em dar animais como prenda. Se alguém nos contacta a pedir um cão ou gato como presente, nunca o entregamos sem antes avaliar a situação e garantir que o animal vai para um lar responsável. Todos os animais saem esterilizados ou castrados, uma condição obrigatória na nossa associação”, detalhou Joana Oliveira. Cuidado este que evita a reprodução descontrolada, uma das principais causas do elevado número de animais abandonados no país.
Para os animais que ainda não atingiram a idade para esterilização, a associação garante microchip em nome da instituição e assina-se um termo de compromisso para que o procedimento seja realizado mais tarde. “Controlamos constantemente as condições em que os animais se encontram. Caso algo não corra bem, o animal volta para nós e procuramos outro lar seguro”, acrescentou.
O inverno, aliado à falta de abrigo, exige ainda mais atenção. “Nesta altura, os animais ficam mais vulneráveis a doenças. Por isso, reforçamos a alimentação, criamos abrigos improvisados e investimos em tendas e casinhas, garantindo proteção contra o frio. Nem sempre conseguimos famílias, mas ao menos asseguramos condições dignas para os que permanecem na rua”, explicou a presidente da direção, destacando a importância do programa CED (Captura, Esterilização e Devolução) aplicado a gatos.
O trabalho da associação estende-se para além do município. “Acreditamos que os animais não têm fronteiras. Alimentamos e acompanhamos colónias e matilhas em Oliveira de Azeméis, Cesar e outros pontos próximos.”

Koa, resgatado em 2020 pela Associação

A gestão financeira é outro desafio. Sem apoio do Estado ou da Câmara Municipal, a associação depende do apoio de particulares e sócios. “Os nossos sócios pagam uma anuidade de 15 euros e têm acesso a descontos em clínicas parceiras. Mas cada mês é uma luta: temos hotéis, rações específicas, medicações e consultas veterinárias. Não podemos deixar de agir por falta de recursos, porque senão nada faria sentido”, revelou.
Rita Oliveira, presidente da assembleia geral da associação, salientou a importância da visibilidade do trabalho da associação, em que “as pessoas conhecem mais algumas associações antigas, mas é fundamental dar a conhecer outras, como nós, que também salvamos vidas todos os dias. Estando atentas às nossas redes sociais, encontram sempre apelos e iniciativas que precisam de apoio.”
Apesar das dificuldades, a associação mantém iniciativas de angariação durante o Natal. Rifas, cabazes e pequenos eventos ajudam a gerar fundos para os cuidados contínuos. “É uma altura em que conseguimos sensibilizar as pessoas. Um pequeno gesto, seja um donativo, uma ração ou uma partilha, pode mudar a vida de um animal que, anteriormente, estava na rua. No Natal, essa solidariedade ganha ainda mais significado”, interpelou Joana Oliveira.
O voluntariado é outro desafio constante. “Não temos espaço físico, então não precisamos de ajuda para limpar ou cuidar de instalações. Precisamos de pessoas para campanhas, mercadinhos ou recolhas, mas é difícil encontrar voluntários suficientes. Às vezes ficamos o dia inteiro a gerir tudo, porque não há quem nos ajude nem por uma hora”, revelou Rita Oliveira.

Abrigo de colónia de gatos

Além das ações de socorro, a associação promove educação e sensibilização sobre a proteção animal. Incentiva esterilização, vacinação e microchipagem, oferecendo apoio e descontos através das parcerias com clínicas veterinárias. “É um trabalho contínuo, mas acreditamos que cada animal salvo e cada vida protegida faz diferença. É por isso que insistimos na esterilização obrigatória e no acompanhamento dos adotantes”, explicou Joana Oliveira.
Mesmo com desafios diários e o inverno rigoroso, a Associação De Focinhos Unidos continua a garantir que animais vulneráveis não sejam esquecidos. O Natal torna-se assim uma oportunidade de solidariedade e cuidado, lembrando a todos que um gesto, por menor que seja, pode salvar uma vida.
Neste Natal, a Associação De Focinhos Unidos apela aos sanjoanenses e a todos que desejem ajudar a instituição, a levar calor e esperança aos focinhos que mais precisam, lembrando que um pequeno gesto pode transformar uma vida.

 

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