Opinião

Pobreza não é vergonha, pedir ajuda não devia ser tabu

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Em Portugal, cerca de 1.9 milhões de portugueses vivem no limiar da pobreza, sem os apoios sociais seríamos 4.4 milhões.

Acordamos todos os dias com manchetes de jornais pouco animadoras. Dizem-nos que estamos perante a maior crise desde 2008, que a inflação não pára de aumentar, que os preços dos combustíveis estão constantemente a subir. E sentimo-lo na pele.
Deambulamos por supermercados, estupefactos a olhar para preços cada vez mais elevados. Questionamo-nos se o carrinho de compras não vinha mais cheio há uns meses atrás. Ponderamos se todos os itens na lista são efetivamente necessários ou podem ser adquiridos no mês seguinte. Repetimos uma e outra vez, como uma prece para apaziguar a alma, ‘é só aguentar até ao final do mês’.
O quotidiano é vivido num constante debate interno, ‘se vestir mais uma camada de roupa talvez aguente sem ligar o aquecedor’, e num recorrente adiar do conforto, ‘ainda não está frio que chegue’. A casa é gelada, mas a luz tem que se poupar e mais uma vez repetimos, ‘é só aguentar até ao final do mês’.
Em Portugal, cerca de 1.9 milhões de portugueses vivem no limiar da pobreza, sem os apoios sociais seríamos 4.4 milhões. Muitas vezes a pobreza esconde-se entre portas fechadas, em casas frias e barrigas vazias antes de irmos dormir. A pobreza, por vezes, esconde-se por vergonha, por medo ‘do que vão pensar’. Não sabemos como pedir ajuda, não sabemos a quem. Passar por dificuldades não é vergonha, pedir ajuda não devia ser tabu.
Ser pobre não é uma falha pessoal, é uma falha social e enquanto comunidade temos o dever de entreajuda. No meio de 1.9 milhões de portugueses a passar por dificuldades encontram-se os nossos vizinhos, os nossos amigos, pessoas da nossa família, mesmo estranhos. Pessoas com as quais não temos qualquer tipo de ligação, seres humanos. Ninguém deve viver no constante aperto de não saber de onde vem a próxima refeição ou se tem casa até ao final do mês.
A comunidade sanjoanense é uma comunidade pequena, onde todos se conhecem, marcada pelo bairrismo e união. Ao contribuirmos para a comunidade, ao fazermos voluntariado, ao ajudarmos quem está a passar por dificuldades, estamos a ajudar-nos a nós também. Ao despirmos de tabus o tema da pobreza e a necessidade de pedir ajuda estamos a contribuir para uma sociedade mais aberta e preparada.

*estudante de mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto

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