As hortas, os campos, a agricultura são uma inesgotável fonte de poesia popular
Estamos em pleno mês de março, o tal “março marçagão” que tem a fama das “manhãs de inverno e tardes de verão”, também tempo de poesia, porque o dia 21 é o dia dela e, em S. João da Madeira, temos poesia na mesa, nas salas, peregrinando pelas praças, em todo o lado. E, porque não, na horta?
As hortas, os campos, a agricultura são uma inesgotável fonte de poesia popular, na forma de provérbios, ditados, adágios, anexins, rifões e outros ditos e sentenças, todos eles resultantes da experiência e da imaginação do povo.
E, tal como o povo a que pertencem, os poetas também vão muitas vezes ao campo e à horta, talvez não à procura de alfaces ou repolhos, mas buscando temas, imagens e palavras para os seus poéticos cozinhados.
Apesar de ser poeta pela via do teatro, foi Gil Vicente o criador de um “Velho da Horta”, vítima da paixão por uma donzela que lhe foi comprar hortaliças; Bernardim Ribeiro encanta-nos com a história de uma Joana, guardadora de patas, que as “guardava pela ribeira do Tejo”. Camões lembrou-se do óbvio, “Verdes são os campos”, mas, na pena de Camões e na voz de Zeca Afonso, essa verdade ganha outra dimensão. Podíamos continuar por esses séculos, até lembrar Eça, que, sendo citadino e romancista, não resistiu a ir procurar nas serras a poesia que não encontrara na cidade.
Quando puderem, leiam, ou releiam, Cesário, procurem o poema “Num bairro moderno” e retirem dele, além do sumo das frutas e do sabor das hortaliças, a lição de uma alma solidária, compadecida com o sofrimento dos outros: a poesia de Cesário tem tudo isso.