
Este ano, a minha ameixoeira deu dez ameixas. Há três anos tinha dado uma, no ano passado não deu nenhuma. Mas este ano deu dez e colocou-me perante um imbróglio jurídico de difícil resolução. Plantei-a há três anos, na fronteira entre a horta municipal e o talude da linha do vale do Vouga. Pode dizer-se que a ameixoeira tem três donos: eu próprio que a comprei e plantei, a Câmara Municipal de S. João da Madeira onde se alimentam as raízes a nascente, e a Infraestruturas de Portugal (IP), onde se alimentam as raízes a poente. Agora que a ameixoeira deu dez frutos, encontrei-me num dilema: de quem são os frutos? Dividindo as dez ameixas por três, dá qualquer coisa como 3,3 ameixas a cada um, resultado problemático para quem teve sempre negativa a matemática.
Mas, além dos três donos, esta árvore tem também três nomes: ameixoeira, ameixeira ou ameixieira. Já quanto ao fruto, as opções são apenas duas: ameixa e amêixoa. Esta abundância de nomes tem uma correspondência nas variedades e nas cores: sete variedades dominantes e uma paleta cromática onde constam o roxo, o vermelho, o amarelo e o verde, algumas delas com cambiantes. Quanto às transformadas, temos as saborosas ameixas de Elvas, as passas de ameixa, a compota e os licores. Naturais ou transformadas, são bem conhecidas as propriedades laxantes da ameixa.
Quanto à origem da árvore não há certezas, mas já apareceram vestígios em povoados da idade do bronze. Há até quem admita que tenha sido a primeira árvore a ser cultivada pelo homem. A Síria e o Egito foram lugares de cultivo, mas a árvore só se propagaria na Europa a partir de finais da Idade Média. Consta que a Segunda Cruzada, de Luís VII e Conrado, não conseguiu qualquer sucesso militar na Síria e a única coisa que se aproveitou foram os pés de ameixoeira que de lá trouxeram. Dessa história até resultou o ditado francês «y aller pour des prunes» (ir lá pelas ameixas, ou seja, por quase nada). Nalgumas regiões de Portugal, a expressão “estar com uma grande carga de ameixas” significa, que se está com um ataque de preguiça daqueles que nem apetece levantar um braço. Pelo seu lado, os militares utilizam a palavra de forma mais enérgica, para designar as munições das armas de fogo. Deixando de lado essas variantes semânticas, a verdade está no sabor das minhas dez ameixas que comemos em família. Ainda não sei se são Rainha Cláudia ou Santa Rosa, mas uma fruta com nomes de santos e de rainhas tem forçosamente que ser boa. Espero reencontrar-vos em setembro, com fruta, ou com outras variantes hortícolas. Boas férias aos meus leitores e à equipa do jornal “O Regional”.
Duas referências particulares ao apoio dos meus amigos e antigos colegas de profissão Daniel Neto e Norlinda Lima. A minha amiga Norlinda telefona-me todas as quintas feiras de “hortalices”, com apreciações elogiosas e interessantes sugestões. Obrigado a eles e também aos leitores que me acompanham no Facebook e no site de 'O Regional'.

