
Num tempo em que tanto se fala de inclusão, diversidade e responsabilidade social, continua a existir um enorme fosso entre o discurso e a prática, especialmente quando falamos da empregabilidade de pessoas com deficiência, seja ela física ou intelectual.
A realidade é dura e inegável, o mercado de trabalho continua, em larga medida, fechado para quem vive com limitações funcionais. O preconceito ainda persiste, muitas vezes camuflado por argumentos como “falta de condições”, “dificuldade de adaptação” ou “complexidade na integração”. Mas o problema não está nas pessoas, está no sistema.
Os apoios do Estado aos empregadores que acolhem pessoas com deficiência são, na sua maioria, ridiculamente insuficientes. Falamos de incentivos que não cobrem sequer as adaptações mínimas que muitos postos de trabalho exigem. E quando os encargos superam os benefícios, os empregadores recuam. O resultado? Mais exclusão. Menos oportunidades.
Estamos numa era de grande avanço tecnológico, onde as ferramentas digitais e os processos automatizados poderiam e deveriam ser colocados ao serviço da inclusão. A tecnologia tem hoje capacidade para se adaptar a diferentes necessidades, softwares com leitura de ecrã, interfaces simplificadas, comandos por voz, ergonomia avançada… nunca foi tão possível integrar pessoas com deficiência no mundo laboral como é hoje. E, paradoxalmente, nunca foi tão ignorada essa possibilidade.
É urgente olhar para esta questão com proximidade e humanidade. Porque o trabalho é mais do que rendimento, é dignidade, é participação, é reconhecimento. Negar essa possibilidade a uma parte da população é recusar-lhes um lugar na sociedade.
A mudança começa na forma como olhamos estas pessoas, não como um “problema” a resolver, mas como um recurso humano valioso, com capacidades, com talento e, muitas vezes, com uma força de superação que inspira.
Por isso, refletir sobre este tema é essencial. Não se trata apenas de direitos, trata-se de justiça. Trata-se de transformar a teoria da inclusão numa prática viva. E para isso, é preciso um Estado mais presente, um setor empresarial mais consciente, e uma sociedade mais empática.
O caminho é longo, sim. Mas cada passo conta.

