Hoje vou falar de couves. Agora que o outono tomou conta da horta, as couves são o sinal de resistência que importa louvar. Elas, os nabos, as nabiças e os alhos franceses são a prova viva de que as estações frias não são sinónimo de morte.
Falemos então de couves, não como agrónomo, que não sou, mas como mero curioso das coisas vegetais.
“Couves, há muitas!” diria o Vasco Santana, se se dedicasse à agricultura, em vez de andar pelo Jardim Zoológico a provocar elefantes e a roubar chapéus aos desprevenidos. Numa pesquisa não muito exaustiva, encontrei estas: a couve galega, a lombarda, a crespa, a penca, a tronchuda, a bastarda, a coração, o repolho, a roxa, o brócolo e até a couve flor!
De todas, a mais modesta é, sem dúvida, a “couve galega” que, na minha terra, se chama “couve ratinha”. Tentemos explicar esta diferença onomástica. A couve galega ou ratinha é uma couve coriácea, resistente, que sobrevive em solos pobres. No Norte, os homens que mais se identificavam com essas caraterísticas eram os imigrantes galegos, trabalhadores humildes e incansáveis. No Sul, quem melhor vestia essa pele eram os “ratinhos”, populações migrantes da Beira Baixa, que iam trabalhar nas ceifas do Alentejo, também eles humildes e resistentes. Então, por associação de ideias, no Norte a couve foi batizada de “galega”, enquanto no Sul recebeu o nome de “ratinha”. Razões do povo… Na América, as couves galegas, germinadas de sementes levadas pelos emigrantes europeus, receberam o nome de “collards”, palavra derivada do termo medieval “colewort”, couves de folhagem aberta, sem repolho.
Como alimento, além de rica em ferro e de ter a fama de curar e evitar múltiplas doenças, a couve galega é pouco utilizada na culinária, salva-se o caldo verde, a couve picada da feijoada à brasileira e pouco mais. Na minha família, as couves nunca tiveram boa fama. O meu pai repetia, com alguma insistência, o adágio “se queres ver o teu marido morto, dá-lhe couves em agosto”. Já o meu avô António era bastante mais radical. “Couves ratinhas, só devia haver uma em cada freguesia, plantada no cimo de uma serra e com uma cabra ao pé”.
Querem um conselho? Comam couves!