Opinião

Apoio Social – Habitação Social

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Caros Sanjoanenses
Sou a Voluntária de rua da Causa Animal de SJM.
Hoje, escrevo sobre o apoio social e a habitação social na nossa Cidade, São João da Madeira.
Relato um acontecimento por mim vivenciado, experimentado, vivido.
Há algum tempo atrás, como sou conhecida por resolver algumas questões relacionadas com animais, fui contactada por uma instituição que estaria a dar apoio social a uma pessoa que vive numa habitação social, com alguns felinos.
Fui ao terreno e constatei o que não esperava, nunca pensei que tal realidade acontecesse na minha Cidade, deparei-me com uma situação de pobreza extrema, este Ser Humano vivia no limiar da pobreza.
As condições de habitabilidade eram péssimas.
Esta pessoa tinha apenas e só um teto, nada mais, tudo o resto denunciava pobreza, pobreza.
Sendo uma pessoa precocemente envelhecida em virtude da vida passada na rua, tendo mobilidade reduzida agravada por problemas graves de saúde física, tendo peso corporal acima do aconselhável, esta pessoa vive com o rendimento social de inserção, o RSI, no valor de poucos euros e não pode trabalhar.
A questão dos felinos foi resolvida.
A questão humana, provou ser mais complicada de amenizar.
Passo a explicar.
É-nos concedido uma casa, pois vivemos na rua. Que bom, temos um teto.
Pagamos a renda mínima mediante o nosso rendimento mensal, pagamos a água, a eletricidade, o gás, e pouco resta para a nossa alimentação, para os materiais de limpeza corporal, da limpeza da casa, e outros.
Não tenho eletrodomésticos e mobiliário, venho da rua, na impossibilidade de trabalhar pois fisicamente é-me impossível, como posso adquirir tudo isto?
Recebo doações, o frigorífico já não funciona. O colchão está em condições indignas e insalubres, não tenho o estrado da cama, as cadeiras onde me sento estão quebradas, o sofá igualmente.
Não tenho roupa de cama, roupa de banho, roupa de cozinha e vestuário.
Tenho somente um teto. Já me tenho questionado, de que me serve…já pensei regressar à rua.
Quando preciso de tomar banho tenho que me deslocar ao balneário social de uma instituição pois, “o meu senhorio social” retirou a banheira porque eu caía e colocou somente uma base de chuveiro, que quando tomo banho, molho a casa e os tacos do chão já levantaram. Por isso, não posso tomar banho na casa de banho da minha habitação social. Quando questionado “o senhorio social”, referiu que não coloca resguardos nas habitações sociais para ninguém, isso tem que ser com o inclino...
Como sobrevivo, tenho teto, sou apoiada na minha alimentação, às vezes, talvez não deveria comer todos os dias, por isso por vezes vou pedir para a rua, nada a que não esteja habituada.
Os meus medicamentos, é uma luta, tendo só 61 anos, não sou ainda sénior, raramente chegam a horas.
A minha amiga, a Srª. dos gatos, ainda não conseguiu um resguardo para a minha casa de banho, assim como a roupa mínima necessária, para eu poder usufruir da minha habitação.
Ela tentou o orçamento para fazer um apelo num jornal mas o preço era exorbitante, inconcebível, indiferente.
Esta é, não a história de uma pessoa, mas a sua vida. Não sei se existirão mais, só sei que não deveriam existir se fossemos uma sociedade atenta, ao outro. Não deveríamos permitir que tal acontecesse. Devemos pois exigir um serviço público Social de qualidade adaptado às circunstâncias, adaptado às pessoas que apoiam. Vivemos numa sociedade hipócrita de valores assentes na virtualidade e num mundo que nos passa despercebido, onde a pobreza que deveria ser ajudada e acompanhada é entregue à sua sorte.
Vivemos numa sociedade onde os frágeis serão sempre entregues a si mesmos, são esquecidos.
Fiquem bem.

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