Foi lançado este mês um livro sobre a entrevista que Ricardo Araújo Pereira deu ao jornalista João Francisco Gomes, com o título “O que é que eu estou aqui a fazer?”
O jornalista Ricardo Araújo Pereira declarou-se ateu, embora tenha estudado em escolas religiosas, mas era fascinado pela Bíblia e tem muitas em casa, bem como livros sobre as questões de Deus.
Como surgiu o livro com este nome? Na entrevista aludiu a uma pergunta feita pelo seu professor de Religião e Moral de um colégio Franciscano em Lisboa, andava o humorista no oitavo ano. Essa pergunta devia ser escrita num papel, pois o professor responderia a quem estivesse interessado em saber.
Como é normal, numa aula de Religião e Moral, a mesma seria sobre religião.
Ricardo Araújo Pereira escreveu: O que é que eu estou aqui a fazer?...
Logo uma estrondosa gargalhada dos colegas fez-se ouvir, pensando ser uma crítica ao professor, mas o aluno devia ter acrescentado à frase, neste planeta.
Esta entrevista foi gravada entre dezembro do ano passado e Julho deste ano.
Este ateu mostra tanta inquietação pela sua ausência de fé em Deus e procura a verdade.
Ele diz que a fé implica dúvidas. Diz também que Jesus nas parábolas recorria ao humor.
Usava, como o Ricardo, o paradoxo e como exemplo citava frases de Jesus, tais como: “Os que veem são cegos e os cegos conseguem ver”. Este paradoxo referia-se aos religiosos fariseus e aos pecadores.
Jesus descobria fé no sítio improvável, nos pecadores. Tinha por companhia os impuros: os cobradores de impostos como Mateus, o ladrão Zaqeu e a prostituta arrependida Maria Madalena. Ela chora, porque nenhum homem a olhou com a ternura do Mestre. De joelhos as suas lágrimas encharcam os pés de Jesus. Muito atrapalhada, enxuga--os com os seus longos cabelos. Leva um frasco de perfume caríssimo, para o derramar sobre eles, pois podiam ficar a cheirar mal. É que a higiene nesse tempo era muito deficitária.
Também o paradoxo aparece na comédia e o Ricardo usa-o com total mestria.
O prefácio do livro foi escrito pelo cardeal D. Tolentino Mendonça numa reunião em que estiveram o jornalista e o humorista, na capela do Rato em Lisboa.
O cardeal sente o maior respeito pela posição do Ricardo. Nesta posição há um elevado padrão moral na busca sincera da verdade e até formas de espiritualidade, quando ele afirma não ser indiferente em morrer com a consciência de ter procurado o bem em vez do mal.
Meus queridos leitores, este livro pode ser uma boa prenda a oferecer neste Natal a alguma pessoa que não tenha fé.