Educação

“O chamado burnout tem causas específicas no âmbito da organização do trabalho”

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Historiadora e professora universitária na Nova de Lisboa, Raquel Varela defendeu nas Jornadas da Educação, que se realizaram esta semana em S. João da Madeira, que a Síndrome de Burnout tem “causas específicas” no âmbito da organização do trabalho.

Jornal ´O Regional’ - “Gestão do Stress e prevenção do Burnout”: Qual foi a principal mensagem que deixou nas Jornadas da Educação, em S. João da Madeira, numa altura em que está prestes a arrancar mais um ano letivo?
Raquel Varela - O chamado burnout tem causas específicas no âmbito da organização do trabalho, a começar pelas condições de trabalho dos próprios docentes. É necessário fazer da escola um lugar de cooperação, solidariedade com objetivos humanizados de aprendizagem, e isso passa pela luta para transformar os locais de trabalho, que se tornaram alienantes e tóxicos, levando ao adoecimento .

A Síndrome do Burnout não é um assunto novo. O esgotamento físico e mental aumentaram com a pandemia ou já se verificavam e os números não eram contabilizados?
Desde os anos 70 nos EUA e dos anos 90, na Europa, com os novos métodos gestionários, que as queixas de sofrimento no trabalho dispararam, não há ainda dados sólidos para se afirmar que a pandemia piorou o cenário que, sublinho, já era catastrófico, por exemplo nos docentes mais de 80% estão em exaustão emocional, em graus variáveis.

Dados avançados pela consultora Mercer, a partir de um estudo global a percentagem de casos de Burnout subiu de 63% em 2020 para 81% este ano. Como se previne estes números?
Mudando as relações de trabalho de competitivas para cooperativas, substituindo a denúncia e o assédio pelo trabalho em equipa, com gestão democrática, acabando com a avaliação individual de desempenho, definindo metas justas de avaliação, igualitárias, e fazendo da escola um lugar onde se ensina conhecimento e não “tarefas” para o mercado de trabalho.

Numa altura em que Portugal se prepara para o arranque de mais um ano letivo, já se fala de uma greve dos docentes, como é que estes profissionais consegues estar “mentalmente bem” para ensinar?
O problema não é da greve, aliás na greve encontra formas de estar (não em todas as greves, mas em muitas) que não encontram no dia a dia do trabalho: na greve falam uns com os outros, cooperam, decidem coletivamente, agem -são sujeitos e não apenas vítimas, na greve sentem que estão a fazer algo útil, transformando realmente ou lutando para isso. A rigor há vasta literatura que vem desde Rosa Luxemburgo a Simone Weil demonstrando que na greve os trabalhadores reconciliam-se com o trabalho e que no trabalho querem fugir deste porque é desprovido de sentido.

Poderá ter acesso à versão integral deste artigo na edição impressa n.º 3952, de 7 de setembro ou no formato digital, subscrevendo a assinatura em https://oregional.pt/assinaturas/

 

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