Cultura e Lazer

Rúben Lôpo apresentou o seu “pequeno sonho literário” na Biblioteca Municipal

• Favoritos: 47


A Biblioteca Municipal, no sábado passado, abriu portas à poesia de Rúben Lôpo, jovem autor sanjoanense, que apresentou o seu livro de estreia, “Raposas”. Perante uma plateia atenta, o escritor partilhou palavras simples e intensas, numa apresentação onde a emoção se entrelaçou com a lucidez e a intimidade dos versos se fez coletiva.
“Este livro é, basicamente, para vos apresentar textos que não eram de ninguém e agora são de alguém”, começou por dizer, numa espécie de benção informal, mas sentida, que marcou o tom da tarde. Agradeceu à Biblioteca Municipal, “que cedeu o espaço”, à Dra. Carla Relva, “que prontamente disse que eu podia estar aqui”, e aos amigos presentes e até aos que, como disse entre risos, “já estão fartos de ler a minha poesia”.
Ao contrário de quem guarda os seus poemas em gavetas fechadas, Rúben Lôpo pretende difundi-los. “Escrevo para ver como as interpretações alheias dialogam com a minha. É isso que alimenta a minha escrita”. E é precisamente essa generosidade que atravessa “Raposas”, uma obra dividida em quatro capítulos, ou quatro raposas.
“O primeiro e o terceiro capítulos são sobre a afetividade”, explicou. “O segundo e o quarto são raposas de instrospeção. Falam da condição do mundo, de como ele nos molda. Mas todos os poemas, mesmo os que se insurgem contra a ausência de amor, são sobre o amor.” O autor revelou, por exemplo, que uma das suas brincadeiras textuais consiste em revisitar o jogo do “mal-me-quer, bem-me-quer” como metáfora para os acasos e incertezas das relações humanas.
Com voz firme e olhos atentos à reação do público, confessou: “Este livro obriga-me a fazer uma viagem no tempo. A maior parte dos textos foram escritos entre 2016 e 2022. O modo como escrevia então já não é o mesmo de agora, mas faço este transporte ao passado”, para se reencontrar com o que foi.
A sua poesia oscila entre formas clássicas e livres. Há sonetos, rimas, versos quebrados e compassos musicais. “Normalmente escrevo com a ideia inconsciente de tornar os poemas em música”, referiu. E nesse dia, a música estava mesmo presente, trazida pelo amigo de longa data da faculdade Rui Jorge Ramos, que acompanhou a sessão com intervenções musicais.
Apesar de formado na Faculdade de Ciências pela Universidade do Porto, a poesia foi sempre um lugar de regresso. “Sou tão meu quando dou por mim a não querer ser”, citou. Partilhou ainda um dos seus poemas mais especiais, “Dupla Visual”, inspirado num conceito astronómico, e confessou “Incluo vocabulário técnico, da tecnologia e astronomia. São partes de mim que também vivem na poesia”.
Sobre o processo criativo, revelou que escreve num equilíbrio entre o acaso e a constância: “Raramente escrevo de forma espontânea, mas anoto todas as ideias. Muitas parecem estranhas à partida, mas com o tempo, fazem sentido.” E é assim, entre cadernos e notas, que já se desenha o próximo livro, que “está quase pronto”.
Falou ainda da inteligência artificial, que conhece de perto e diariamente, e do seu impacto na arte. “Acho que a arte sem um humano por trás perde a ligação com quem a recebe. A beleza da arte está na história de quem a fez, na ligação emocional que cria”.
“Raposas” não é apenas um livro de poesia. É uma espécie de espelho entre o íntimo e o universal. É um convite a sentir, mesmo quando o que se sente é a ausência, e a caminhar, juntos, por esse terreno fértil onde moram as palavras que ousam ser ditas.
Para quem perdeu esta apresentação, ou para quem quiser regressar ao universo de “Raposas”, “haverá nova oportunidade no dia 24 de maio, pelas 17 horas, na FNAC do Mar Shopping, no Porto”. Um novo palco para a mesma entrega.

 

47 Recomendações
1074 visualizações
bookmark icon