Os sanjoanenses com 65 ou mais anos estão a ser convidados a participar num estudo promovido pela Câmara Municipal e desenvolvido pela Universidade de Aveiro (UA), que “incide em aspetos como o estado de saúde, a participação social, os estilos de vida e a utilização dos serviços sociais e de saúde por parte desta população”, como explicou a ´O Regional´ Ana João Santos, Investigadora do Departamento de Educação e Psicologia da UA, que integra a equipa que está a realizar este inquérito.
A iniciativa integra-se no Plano de Ação das Operações Integradas em Comunidades Desfavorecidas, com financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), através da Área Metropolitana do Porto. O principal objetivo é ouvir, diretamente, as pessoas mais velhas sobre os seus desafios, necessidades e bem-estar. Através deste inquérito, pretende-se aprofundar o conhecimento sobre o estado de saúde, a participação social e o acesso aos cuidados e serviços deste grupo da população.
“A recolha de dados está a ser realizada presencialmente por profissionais das áreas da psicologia e da gerontologia, através de entrevistas diretas”, durante as quais “são abordados temas como a saúde, as condições de habitação, o acesso a cuidados e serviços, bem como a perceção das próprias pessoas sobre o seu envelhecimento”, adianta Ana João Santos, acrescentando que “são também feitas medições de peso, altura e força de preensão manual”.
Dessa forma, será possível fazer “uma caracterização detalhada da população idosa do concelho, com base em indicadores reconhecidos nacional e internacionalmente como fundamentais para um envelhecimento ativo e saudável”. Seguidamente, os dados recolhidos serão “analisados pela equipa da Universidade de Aveiro e os resultados serão divulgados publicamente de forma agregada e anónima”. Esses procedimentos rigorosos de segurança e confidencialidade asseguram a privacidade de todos os participantes, sem prejudicar a obtenção de um retrato global da realidade vivida por este grupo etário, o que passa por “captar as suas experiências de envelhecimento e identificar áreas prioritárias de intervenção”.
Trabalho “claramente inovador”
De acordo com Ana João Santos, “numa fase inicial, o estudo envolveu o contacto direto com munícipes previamente identificados pela Câmara Municipal, a quem foi enviada uma carta seguida de contacto telefónico”. Mas a equipa da UA pretende ir mais além, “para garantir uma representação mais precisa e fidedigna da diversidade existente entre os seniores do concelho — um grupo naturalmente heterogéneo”. Ou seja, “quanto mais ampla for a participação, mais completas serão as conclusões do estudo, permitindo assim desenvolver políticas e respostas ajustadas às reais necessidades da população sénior de S. João da Madeira”.
Este inquérito a decorrer em S. João da Madeira é ainda mais relevante se se tiver em consideração que, como revela a investigadora da UA, “não é frequente ter estudos que procuram obter uma amostra representativa ao nível local”, devido aos “desafios logísticos e limitações de financiamento que tornam difícil” a sua implementação. Mas é dessa forma que se torna possível “captar dimensões do envelhecimento que não são acessíveis através das bases de dados institucionais”. Por isso, Ana João Santos considera que a iniciativa que está a ser desenvolvida pela autarquia sanjoanense e pela UA “assume um carácter claramente inovador, sobretudo ao nível local”.
A investigadora não tem dúvidas das vantagens que daí vão resultar para S. João da Madeira, pois vai permitir aos serviços da autarquia “aceder a informação rica, contextualizada e fundamental para o desenho de políticas mais eficazes e ajustadas”. E isso é tão mais importante quanto “é cada vez mais consensual que as estratégias de promoção de um envelhecimento ativo e saudável devem partir do conhecimento concreto das realidades locais».
Combater receios e chegar às 700 entrevistas
Até ao final da semana passada, a equipa da Universidade de Aveiro já havia realizado mais de 317 entrevistas, com os participantes a revelarem, de um modo geral, uma reação “muito positiva”, como disse a ´O Regional´ Ana João Santos “as pessoas têm sido muito generosas ao disponibilizar o seu tempo e partilhar connosco as suas experiências e opiniões”, revelou a investigadora do Departamento de Educação e Psicologia daquela instituição de ensino superior, deixando “um sincero agradecimento a todos os participantes que, com paciência e simpatia, partilharam as suas vidas e experiências”.
Neste contexto, o maior desafio tem sido lidar com o facto de muitas pessoas idosas serem “alvos frequentes de burlas e esquemas, por isso é natural — e até desejável — que tenham algum receio quando recebem um telefonema ou convite inesperado”. Daí que seja determinante reforçar a divulgação da iniciativa, o que está a ser feito através de “vários canais” e da disponibilização de contactos telefónicos “para que qualquer pessoa possa confirmar a legitimidade do projeto”.
Paralelamente, “as entrevistas têm sido feitas em espaços bem conhecidos da comunidade, como a Universidade Sénior e o Espaço Fantasia e Vida da Câmara Municipal, o que transmite confiança e mostra que esta é mesmo uma iniciativa da autarquia em parceria com a Universidade de Aveiro”. A expetativa é que, com mais informação acessível, cada vez “mais pessoas se sintam seguras e motivadas a participar”. O objetivo é chegar a cerca de 700 entrevistas e concluir o estudo até meados de agosto, pelo que “os próximos dois meses serão decisivos para atingir esta meta”.
Reconhecendo que se trata de “um projeto ambicioso, mas também uma oportunidade única para mostrar a força e o espírito participativo da população de S. João da Madeira”, Ana João Santos acredita que “envolver este número de pessoas será uma prova clara de que este concelho se destaca — pela sua capacidade de mobilizar e pela proximidade à comunidade”.
Apelo à participação
Dirigindo-se ao público-alvo deste estudo, Ana João Santos, Investigadora do Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro, destaca que a opinião dos seniores sanjoanenses “conta muito”, acrescentando que o trabalho que está a ser realizado “só faz sentido” por partir “das pessoas, das suas histórias, das suas dificuldades e conquistas”. ´É verdade que “os números e as estatísticas são importantes”, mas essa relevância só é efetiva “quando refletem o que se vive no dia a dia”. Por isso, os seniores do concelho são essenciais para “ajudarem a perceber como é, de facto, envelhecer hoje em S. João da Madeira”.
Nesse sentido, Ana João Santos deixa uma mensagem aos destinatários deste inquérito à população com 65 ou mais anos: “Acredito que este grupo é muito heterogéneo e que cada pessoa tem uma experiência particular e específica que pode partilhar. É isso que queremos ouvir. Não há respostas certas ou erradas — o mais importante é que possamos recolher o maior número possível de vozes para que o retrato final seja representativo”.
E conclui: “A entrevista é simples, feita com todo o respeito, e até inclui um pequeno lanche como forma de agradecimento. Mas, acima de tudo, é uma oportunidade para fazerem ouvir a vossa voz e contribuírem para que o concelho possa ter respostas melhores e mais ajustadas às vossas necessidades”. Assim, quem reside em S. João da Madeira e tem 65 anos ou mais, pode participar neste estudo, entrando em contacto com um dos entrevistadores da Universidade de Aveiro, através dos seguintes números: 964 160 682, 964 160 625 ou 964 160 604.