O que podemos fazer para mudar esta narrativa fatalista? Existem várias agendas a nível internacional que pretendem mudar, positivamente, o rumo atual da sociedade.
Permitam-me começar este artigo ao identificar aqueles que, para mim, são os vários elefantes na sala: Primeiro, sustentabilidade não é um sinónimo de (apenas) conservação da natureza. Seguidamente, princípios de gestão sustentável de recursos não pertencem a uma ideologia política, não são um quadrante no qual nos podemos dar ao luxo de posicionar como sendo mais sustentáveis ou menos sustentáveis. Posto isto, o que é, então a sustentabilidade?
Remetendo à definição de Desenvolvimento Sustentável da Comissão de Brundtland de 1987 (exatamente, relatório escrito há 34 anos), este é um modelo de desenvolvimento que garante as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades. Um leitor mais crítico poderia parar-me aqui e levantar a seguinte questão: “Mas no meu dia-a-dia, eu não consumo mais do que as minhas necessidades. Através das minhas ações, não estou a comprometer a geração do meu filho”. A esta questão eu responderia: sim, o leitor pode ter razão.
O leitor pode ter um carro elétrico, recusar descartáveis, ter uma dieta vegetariana, doar semanalmente para ONGAs e, ainda assim, ter uma pegada ecológica 10 vezes superior que um cidadão mediano do Sul Global. Isto deve-se a duas coisas muito simples: Por um lado, o conceito de “necessidade” alterou-se drasticamente desde a revolução industrial e tecnológica. Isto é maioritariamente verdade para os cidadãos europeus e norte-americanos. O nosso consumo “necessário” não se extingue naquilo que colocamos na reciclagem, composto, ou lixo comum. Este consumo “necessário” tem externalidades negativas que se multiplicam ao longo da cadeia de produção de todos os produtos e serviços dos quais dependemos. Por outro lado, somos 7 mil milhões de pessoas a pensar desta forma. Se todos os cidadãos do mundo vivessem como o cidadão mediano português, no dia 16 de maio de 2021 esgotaríamos todos os recursos disponíveis no Planeta Terra para o presente ano.
Então, e agora? O que podemos fazer para mudar esta narrativa fatalista?
Existem várias agendas a nível internacional que pretendem mudar, positivamente, o rumo atual da sociedade. Temos a Agenda 2030 das Nações Unidas, que estabelece 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para atingirmos, coletivamente, até 2030 – sim, temos 9 anos para agir enquanto cidadãos, empresas, ONGs e como Governo.
O leitor crítico e atento que mencionei acima, poderia (e deveria) perguntar-me qual o espaço de implementação desta agenda num sistema capitalista, altamente globalizado e de ritmo acelerado de crescimento? A resposta é: pouco espaço ou nenhum. Como o próprio nome indica, um sistema capitalista baseia-se em capital e propriedade privada. Isto explica de forma muito automática a forma como temos vindo a gerir de forma insustentável todos os bens públicos, como a água, ar e serviços de ecossistema dos quais dependemos. Porquê? Porque não há uma valoração do capital natural, este capital partilhado que não se renova ao ritmo do nosso crescimento exponencial.
Trabalhar na área da sustentabilidade é repensar, constantemente, os sistemas estabelecidos. É fazer mais e melhores perguntas, sem nos precipitarmos com respostas rápidas, com trade-offs que temos pouca oportunidade de prever. O capitalismo não é o sistema ótimo para esta mudança regenerativa, mas é o sistema que temos e temos pouco tempo para o mudar. Acredito que este percurso sustentável existe, está estudado e traçado. A minha única questão é: estaremos a caminhar rápido o suficiente?
Verónica Belchior
Co-fundadora da C. Circulare freelancer em educação não-formal para a sustentabilidade