As comemorações do 98.º aniversário da Emancipação Concelhia ficaram marcadas pelo elogio do papel dos “muitos sanjoanenses estiveram na linha da frente” do “difícil e longo combate pela democracia”, como salientou o presidente da Câmara Municipal.
A importância de S. João da Madeira como polo económico mereceu as primeiras palavras do presidente da Câmara, na sessão solene do 98.º aniversário da emancipação concelhia, no último sábado, 11 de outubro. “Tudo começou com a indústria da chapelaria e, a partir daí, emergiram em S. João da Madeira polos de inovação e de desenvolvimento que ofereceram ao país produtos e marcas que assinalam o imaginário nacional, como as máquinas de costura OLIVA, as sapatilhas Sanjo, os lápis Viarco, as mochilas Montecampo, os colchões Molaflex, as camisas Victor Emanuel, entre muitos outros”, disse Jorge Vultos Sequeira, no início do seu discurso.
Alicerçando-se na pujança industrial, a autonomia administrativa - conquistada em 11 de outubro de 1926 – converteu-se em mais “desenvolvimento económico e social”, acrescentou o autarca, para depois se focar numa outra vertente, habitualmente menos referida, da história do concelho: a sua afirmação como “centro de resistência e de liberdade”. É que, como assinalou, “muitos sanjoanenses estiveram na linha da frente” do “difícil e longo combate pela democracia”.
Nesse sentido, o edil lembrou a greve de 1943 do setor do calçado, em que os trabalhadores e muitas outras pessoas se manifestaram, “exigindo aumentos salariais e melhores condições de vida, face à fome, miséria e grande repressão que sofriam”. Uma “ação de luta”, que, como salientou, “foi alvo de uma intensa repressão”, situação que “já motivou uma recente homenagem por parte do Município”, evocando esses sanjoanenses, “pelo exemplo que nos deixaram de coragem e de resistência à opressão da ditadura do Estado Novo”.
Vitória da democracia no concelho
O chefe máximo do executivo abordou ainda “outro momento marcante de afirmação de S. João da Madeira enquanto espaço de resistência à ditadura”, que foi a vitória no concelho, nas eleições presidenciais de 1958, do general Humberto Delgado, candidato da oposição ao regime. S. João da Madeira foi “um dos 16 municípios” onde o Estado Novo “não conseguiu, através das suas manobras repressivas e fraudulentas, falsificar os resultados eleitorais”, frisou.
O autarca salienta o papel de quem ocupava esse mesmo cargo no final da década de 50 do século passado, Manuel Vieira Araújo, que, “pelos ecos que nos chegam desses tempos” – terá exercido uma “defesa arrojada da lisura do processo eleitoral” em S. João da Madeira, o que “veio somar-se à ação de uma vasta rede de homens e mulheres locais, atuando na clandestinidade, que frustrou, no nosso concelho, os intentos controladores e manipulatórios do regime de Salazar sobre o processo eleitoral”.
Lembrando que a campanha de Humberto Delgado ficou marcada pela frase “Obviamente, demito-o”, que proferiu em relação a António de Oliveira Salazar, Jorge Vultos Sequeira entende que “a vitória do General sem Medo em S. João da Madeira foi também uma declaração inequívoca do povo sanjoanense de que, obviamente, queria a demissão do ditador e o fim do Estado Novo”.
Para Jorge Sequeira, esse é “um dos momentos mais marcantes” da história do concelho, que fica perpetuado com a inauguração, na tarde deste mesmo Dia do Município, de uma estátua de homenagem a Humberto Delgado, junto à Praça Luís Ribeiro. Um monumento que é, simultaneamente, evocativo do “extraordinário exemplo de coragem e de apego à democracia” dos sanjoanenses e que “interpela permanentemente os cidadãos para os valores da democracia”.
Protocolo com a Fundação Mário Soares
O edil acredita que a estátua de Humberto Delgado pode ser um contributo para que “os jovens tenham a noção de que a democracia em que todos vivemos desde há 50 anos não é um dado adquirido e que muitas são as ameaças que hoje enfrenta – como o crescimento do radicalismo, da desinformação, da xenofobia e das visões autoritárias do mundo”, Exige-se, por isso, como enfatizou, “uma constante vigilância para evitar retrocessos na liberdade que tanto custou a conquistar”.
Nesse contexto, Jorge Vultos Sequeira salientou a “participação empenhada e de grande qualidade das escolas sanjoanenses” no programa do 11 de Outubro, nas comemorações do 25 de Abril e noutras iniciativas como o programa Erasmus Municipal e a Assembleia Municipal Jovem, que promovem a intervenção política e cívica dos jovens, para o que contribuirá igualmente, segundo afirmou, protocolo de colaboração estabelecido com a Fundação Mário Soares e Maria Barroso, que foi assinado nesta sessão solene do Dia do Município.
A autarquia formalizou, assim, a sua associação ao centenário do nascimento de Mário Soares, que se completará a sete de dezembro deste ano, efeméride no âmbito da qual serão realizadas atividades de “promoção de uma cultura cívica e democrática, causa que todos os poderes públicos têm o dever de assumir como uma emergência à luz do contexto político atual, em defesa das conquistas do 25 de Abril”.
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