Rostos Sem Máscara - 52 - “A pandemia veio impulsionar este sector e trazer outro reconhecimento que não tinha”
Entregar Pizza em casa pode ser considerado para muitos um trabalho difícil, mal pago e nada aliciante. Alberto Fernandes, 44 anos, faz cerca de 10 entregas por dia, aproximadamente 60 quilómetros, e já nem necessita de GPS para chegar ao destino.
Ao contrário de muitos estafetas, que prestam serviço para empresas que andam na cidade a entregar as encomendas de refeições feitas de porta em porta, e que reclamam das condições de trabalho, principalmente do valor que recebem, há, no entanto, quem esteja totalmente satisfeito, e vê neste segundo emprego uma “verdadeira terapia”. É o caso de Alberto Fernandes, 44 anos, funcionário da Telepizza de S. João da Madeira, há seis anos.
Em dias de sol ou de chuva, coloca o capacete e liga a moto que lhe dá “liberdade de espírito para trabalhar”. Depois de um horário laboral rotineiro, numa escola, no concelho de Ovar, é nas entregas das pizzas que Alberto “voa” na sua multifacetada carreira. “Esta é, na verdade, uma atividade que me complementa”, não só para rentabilizar o tempo livre que tinha depois de sair da escola, “como me permite assegurar um outro conforto financeiro”, enfatiza.
Na empresa que representa, este funcionário diz orgulhosamente que a mesma “trata os funcionários com enorme dignidade”, pois “tenho contrato de trabalho, os meus direitos assegurados, como férias, subsídios, seguro”, e até hoje, “nunca” se arrependeu desta escolha.
Possivelmente, são poucos os que pensam quais são as motivações, para andar, de um lado para o outro na estrada, percorrer muitos quilómetros por dia, a fazer num horário pós laboral a entrega de uma refeição ao domicilio, mas para Alberto são várias. “É, entre muitas, o poder andar de mota, uma libertação, um verdadeiro prazer, o contato com pessoas diferentes em sítios diferentes”, e assegura mesmo que todos os dias “há coisas novas para ver e sentir”. A juntar a tudo isto: “também gosto de ser avaliado. Só assim serei melhor em tudo aquilo que faço”, assume.
Com a chegada da pandemia, a profissão passou a ser muito mais do que o homem da Pizza. “Começaram a olhar para esta profissão com mais dignidade” porque, na verdade, estes homens não deixaram de levar a refeição, quando o cliente a solicitava. “Com o confinamento, as pessoas viram-se privadas de sair de casa, as entregas ao domicílio foram a única alternativa, e veio mesmo impulsionar este setor e trazer outro reconhecimento que até aqui esta profissão ainda não tinha conquistado”.
A pandemia também colocou à prova estes profissionais. “Claro que tínhamos receio, medo e incertezas, mas as pessoas necessitavam de se alimentar, e muitas delas também se encontravam a trabalhar, e pedir comida era, muitas vezes, a solução para darem continuidade a muitos turnos.” Aquilo que mais visível encontrou no cenário pandémico foi a “ausência de movimento de pessoas, como se de uma cidade fantasma se tratasse”.
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