É um dos mecânicos mais antigos da oficina, onde trabalha há 40 anos e nunca se arrependeu da escolha que fez aos 14 anos. João Silva é mecânico e o que mais gosta de fazer é reparar uma avaria, e que o cliente fique satisfeito com o seu trabalho.
O sorriso e a paixão com que respondeu às nossas perguntas não deixam dúvidas que estávamos perante alguém que gosta muito daquilo que faz. João Silva, 54 anos, tem, desde adolescente, a paixão por automóveis.
Aos 14 anos, e ainda na escola, decidiu, no período de férias, conciliar a aprendizagem com a mecânica de automóveis na Garagem de Arrifana. E nunca mais de lá saiu. “Faço 40 anos de casa dia dois de agosto”, o que faz de si um dos funcionários mais antigos da empresa. “O meu maior gosto foi, no meu primeiro dia de trabalho, chegar a casa sem lavar as mãos. Era o gozo de mexer em distribuições, transmissões” e de dizer à família “que já trabalhava”, revela.
Apesar de nunca “ter sonhado ser mecânico”, o desenho, as artes, as ferragens eram a sua grande paixão. “Eu na verdade nunca fui muito sonhador e uma pessoa de arriscar”. Quando acabei o serviço militar, ainda pensei o que fazer da vida”. Já que sempre foi um “habilidoso” e fazia um pouco de tudo poderia ter escolhido um “outro caminho”.
E, nessa altura, Armando Amorim, fundador da oficina, foi um dos responsáveis por continuar ligado à mecânica. “Sempre teve uma maneira muito especial de nos convencer a ficar por aqui. Foi sempre uma pessoa muito educada e com bons modos”, enfatiza.
Atualmente, arrepende-se não ter estudado mais. Conciliou os estudos com o trabalho, mas “por culpa minha e muitas vezes por limitações da vida”, diz mesmo que poderia ser hoje engenheiro mecânico.
Teve a sorte de ter ao seu lado, durante cinco anos, “um mestre” que sempre o valorizou e com ele aprendeu quase tudo relativamente a esta profissão. Foi, na verdade, a minha grande escola. O mestre Humberto Leite da Silva foi sempre “uma pessoa muito respeitada e respeitador”, e isso, “reflete-se” muito naquilo que João Silva é atualmente como profissional.
João, especializou-se na área da mecânica e frequentou várias formações. O que mais gosta de fazer é reparar uma avaria. Identificar o problema que o automóvel tem, e pô-lo em condições para que seja entregue ao cliente. Explica também que, ao longo dos anos, a eletrónica tem tido “grandes evoluções”, mas “não basta ligar o computador à viatura” que se descobre de imediato o problema. Para si, a parte mais interessante é descobrir “o mistério” e resolver a anomalia. Mas, quando isso se torna mais difícil, tem a “sorte” de ter por perto colegas que “se aproximam logo. Aqui sempre existiu o espirito de entreajuda”.
Há ferramentas nesta profissão que começam a ficar de lado. “O martelo, o alicate pouco se usam. Por um lado ainda bem”, mas confessa que, muitas vezes, sente saudades de as ter por perto.
Artigo disponível, em versão integral, na edição nº 3883 de O Regional,
publicada em 17 de março de 2022