Sociedade

Obras tornaram mercado mais “arejado”, mas sem aumento de clientes

• Favoritos: 54


Entre os vendedores, há um sentimento generalizado de desânimo. O mercado municipal parece ter conhecido melhores dias no que respeita à procura de clientes. As obras arrancaram em 2019, e chegaram ao fim nos últimos dias.

Quem vende no mercado municipal diz que as obras tornaram o mercado mais “arejado”, mas sem aumento de clientes. A intervenção de reabilitação já terminou, segundo a autarquia, mas há comerciantes que não partilham da opinião, referindo até que “falta muito para que isso aconteça”.
A trabalhar no mercado há mais de 50 anos, Victor Bastos conhece bem os cantos à casa e lamenta que as intervenções que ali foram feitas não tenham sido as mais indicadas, e que “nem isso” permitiu o aumento de clientes que por ali passam. “Contam-se pelos dedos, e estamos desanimados com esta situação. Foram anos de obras e pouco mudou”, garante.
Apesar de considerar que as obras tornaram o mercado mais “airoso e com um ar mais arejado”, não terá sido suficiente para “atrair” os clientes. “Vendemos muito pouco, as pessoas entram e pensam que o mercado ainda está em obras, pelo aspeto do primeiro piso, e nem se apercebem que estamos aqui em baixo”, explica.
O comerciante critica a autarquia de “nunca nos ouviram, pediram opinião”, pois defende que os comerciantes instalados no mercado municipal “conhecem muito bem o que é melhor e pior” para quem vende e para quem ali compra. “Fomos sempre ignorados”, diz revoltado.
Aponta ainda o dedo a “erros”, que entende não fazerem sentido, e que “podiam” ter sido evitados. “As bancas não são funcionais. Só têm uma entrada. Dificulta para quem vende e para quem compra”. Relativamente à conclusão das obras anunciadas, lembra que, na sua opinião, isso não corresponde “à realidade”, e para isso basta entrar no mercado e observar.
Mas Victor fala ainda da falta de estacionamento para os comerciantes. “As carrinhas grandes não cabem no parque de estacionamento. Eu, para descarregar aqui à porta do mercado, tenho que vir para cá de madrugada para conseguir estacionar”, revela.
Maria Alice Gomes, vendedora de frutas e legumes, disse a ´O Regional’ que “antes das obras ainda se vendia alguma coisa”, mas o “longo” tempo da intervenção “afastou os clientes deste espaço, que concentra o maior volume de clientes aos sábados. Foi uma saturação para todos”. A comerciante recorda os tempos em que trazia o camião cheio e vendia tudo num só dia. “Hoje vem metade e voltam coisas para o dia seguinte”.
As obras ali realizadas parecem levantar dúvidas também a esta comerciante. ”Não estão funcionais. Os comerciantes deveriam estar mais juntos uns dos outros, tornar o espaço mais acolhedor. O piso 1 não tem ninguém, nós estamos cá em baixo. Aos têxteis e vestuário poucos sobem”. Maria Alice também partilha da ideia que as “bancas” não são funcionais e “pioraram muito” o negócio. “Eu para decorar a banca tenho que sair, pois, dentro, não consigo. Há apenas uma entrada. Antes das obras tínhamos condições, as bancas eram largas e muito funcionais”, revela, lamentando a falta de “diálogo” por parte da autarquia.
A trabalhar no mercado há mais de 30 anos, já conheceu várias fases do espaço. Primeiro, como funcionária, e, mais tarde, como comerciante. Maria dos Anjos faz arranjos de costura e vende artigos de vestuário. “Tem dias em que não vendo nada. O que me mantém aqui são os arranjos de costura”, garante.
A comerciante tem o seu espaço no piso 2 e entende que as obras realizadas pela câmara municipal foram “saturantes pelo tempo que demoraram”, não tendo, em sua opinião, acrescentado “nada de especial” àquela estrutura. ”Tentámos falar várias vezes com o responsável das obras para lhe explicar determinadas situações, que considerávamos pertinentes para serem corregidas, e nunca se mostrou recetivo”, assume. Entre os “defeitos”, aponta a qualidade e a forma como foi colocada a lona nos espaços. “Não o protege de um possível assalto, e é muito difícil descer e subir a lona”.
O Presidente da câmara municipal de S. João da Madeira disse a ´O Regional’ que o desenho do projeto do mercado foi feito por uma equipa que “fez inquéritos aos comerciantes”, e realizaram-se ainda “várias sessões de trabalho com os comerciantes, designadamente, uma delas, na Casa da Criatividade”. Jorge Vultos Sequeira garantiu que o projetista é especializado em mercados e “fizeram auscultações aos comerciantes”. Garantiu também que a autarquia está “sempre disponível para rever a área das bancas e a sua condição”.

 

Poderá ter acesso à versão integral deste artigo na edição impressa n.º 3949, de 20 de julho ou no formato digital, subscrevendo a assinatura em https://oregional.pt/assinaturas/

 

54 Recomendações
148 visualizações
bookmark icon