A notícia corre de boca em boca, depois de o Governo ter apresentado para discussão pública o projeto de Plano Ferroviário Nacional, que fica fechado até 2050, onde está previsto que os sanjoanenses continuem impedidos de entrar no comboio....
A notícia corre de boca em boca nas últimas semanas, depois de o Governo ter apresentado para discussão pública o projeto de Plano Ferroviário Nacional, que fica fechado até 2050, onde está previsto que os sanjoanenses continuem impedidos de entrar no comboio em S. João da Madeira e seguirem viagem em direção ao Porto, sem que, para isso, tenham que mudar de comboio.
Tudo porque o plano estabelece que a linha do Vouga mantenha a sua atual bitola (distância entre carris). Tal significa que a linha do Vouga será a única do país com bitola métrica, ficando todas as restantes linhas com a chamada bitola ibérica. De salientar que decorre, desde dezembro, uma petição pública com o intuito de “reverter os objetivos de modernização da linha do Vouga, previstos pelo Plano Ferroviário Nacional (PNF)”, que, à hora de fecho desta edição, somava cerca de 900 assinaturas. Esta semana, ´O Regional´ começou por ouvir os partidos com representação municipal. Eva Braga, do Bloco de Esquerda, recorda que há vários anos que o partido defende uma “requalificação e modernização” da linha do Vouga e a sua ligação à linha do Norte e ao Porto. Do lado do PS, Leonardo Martins enfatiza que este troço ferroviário está “há demasiados anos isolado”, “degradado e sem cumprir o seu papel”, defendendo a reabilitação em curso. Gonçalo Fernandes, do PSD, refere que a linha deve ser aproveitada para “substituir os milhares de carros e autocarros” que, diariamente, se deslocam para o Porto, explicando que, para isso, a linha do Vouga não poderá continuar “separada” da restante rede ferroviária. Por fim, Rita Mendes, da CDU sustenta que é “crucial e urgente” que a linha do Vale do Vouga, “com alterações de bitola ou sem ela”, possa garantir um transporte “eficiente e rápido, com horários adequados até ao Porto”. O tema vai ser alvo de esclarecimento e discussão pública, promovida pel’O Regional, no início de fevereiro, com a presença de técnicos especialistas do sector. Mais tarde será a vez dos deputados da Assembleia da República eleitos pelo distrito de Aveiro também vão ter voz sobre este assunto.
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* O Plano Ferroviário Nacional prevê que a linha do Vouga seja a única linha de bitola métrica e que, por essa razão “funciona separada da restante rede ferroviária”. Agrada-lhe que a linha que serve S. João da Madeira fique separada da restante rede? Julga que tal situação é conveniente para os interesses desta cidade?
* O Plano Ferroviário prevê também que a linha do Vouga, “enquanto única linha de via estreita que resta, permite potenciar viagens de material circulante histórico”. Qual considera a prioridade mais relevante: tornar as deslocações para o Porto mais rápidas e confortáveis (em bitola ibérica) ou preservar o potencial de turismo ferroviário histórico da linha do Vouga (em bitola métrica)?
* Aprovaria uma proposta em defesa da alteração da bitola da linha do Vouga entre Oliveira de Azeméis e Espinho para permitir a circulação de comboio direto até ao Porto?
* Vê alguma vantagem na manutenção da bitola métrica entre Oliveira de Azeméis e Espinho? Qual?
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“Começa a fazer-se justiça às populações que assistiram ao definhar
da Linha do Vouga nas últimas décadas”


deputado do Partido Socialista
* A Linha do Vouga está há demasiados anos isolada da restante rede, degradada e sem cumprir o seu papel. Por isso, defendemos a reabilitação em curso para que essa realidade se altere o mais rapidamente possível. A novidade relevante é que, pela 1ª vez em décadas, este Governo do PS conseguiu garantir financiamento para as intervenções já em execução e previstas no Ferrovia 2020 e no PNI 2030. Estamos a falar de um investimento que pode ir até aos 100M€ que vão permitir reabilitar a totalidade da Linha do Vouga, a automatização das passagens de nível e a reabilitação de estações e apeadeiros. Este investimento só é possível pela persistência dos autarcas e porque o Governo priorizou a ferrovia, como não há memória em Portugal, não podendo aqui deixar de referenciar um dos maiores responsáveis por isso, o nosso conterrâneo Pedro Nuno Santos. Mas defendemos mais: a eletrificação da linha, a reabilitação e aquisição de novo material circulante e a criação de um novo interface em Espinho, prolongando a linha cerca de 500m, o que permitiria um transbordo confortável, simples e rápido para os serviços de longo curso da Linha do Norte, mas também aos serviços suburbanos para o Porto ou Aveiro.
* A equação que esta questão apresenta pode prejudicar a perceção da realidade por parte dos leitores, uma vez que dá a entender que só a alteração para a bitola ibérica resolveria essas questões e que a manutenção da bitola métrica vai circunscrever o serviço ao turismo e ambas as premissas são falsas:
1º: os estudos mais recentes são claros e demonstram que o traçado sinuoso da Linha do Vouga não é compatível com os ganhos que se pretenderiam na alteração para a bitola ibérica, que custaria muitos mais milhões de euros.
2º: porque as melhorias já em curso e previstas vão permitir que a Linha do Vouga, mesmo com a bitola métrica, sirva adequadamente as populações.
Por isso, a prioridade é óbvia: tornar as deslocações mais rápidas, confortáveis, fiáveis e seguras. Se a isso pudermos conjugar o potencial turístico desta linha claro que o devemos fazer, beneficiando com isso a economia do país e da região.
* Se a engenharia e a física comprovassem os ganhos que justifiquem esse investimento, claro que sim. Todavia, os estudos que são conhecidos não detetam ganhos que justifiquem essa opção, sobretudo devido ao traçado sinuoso e que atravessa inúmeras zonas construídas. Não somos fundamentalistas, pelo que defendemos a solução que tem por base a viabilidade técnica e a boa gestão dos recursos públicos. Por isso, se os que agora têm propalado um mar de rosas tiverem outros estudos que suportem e validem a sua opinião devem divulgá-los rapidamente a bem do interesse público. De outra forma, ficará a ideia de que estão apenas a criar ruído, tentando inquinar a opinião pública, como se de falsos vendedores de sonhos se tratassem, de forma extemporânea, numa altura em que as obras já estão no terreno, o financiamento europeu garantido e finalmente se começa a fazer justiça às populações que assistiram ao definhar da Linha do Vouga nas últimas décadas.
* Neste caso, a questão que se impõe deve ser precisamente a oposta: há alguma vantagem na alteração para a bitola ibérica? Essa questão está respondida anteriormente: que conheçamos não. Por isso, não contém com o PS para uma discussão que iria bloquear o investimento público em curso, com financiamento europeu garantido. Continuaremos disponíveis para discutir todas as opiniões que sejam sustentadas, mas não deixaremos nunca de trabalhar para defender a Linha do Vouga, pugnando sempre para que esta preste um bom serviço às populações, o mais rapidamente possível.
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“Se os Sanjoanenses tiverem oportunidade de entrar no comboio e seguir diretamente até ao Porto, não há dúvida que farão essa opção”


* Não. Esta solução não nos agrada e acredito que não agrade à generalidade dos Sanjoanenses. O que está em causa neste momento é a vontade do Governo do Partido Socialista em manter na Linha do Vouga a sua atual bitola métrica, em contraponto com o que sucede nas restantes linhas do país – que dispõem de bitola ibérica –, impedindo os comboios que circulem na Linha do Vouga de circularem na Linha do Norte e impedindo os Sanjoanenses de entrarem no comboio e seguirem diretos até ao Porto, sem terem de mudar de comboio. Esta decisão transformará a Linha do Vouga numa “ilha ferroviária”, incompatível com toda a restante rede ferroviária nacional. Não podemos, por isso, aceitar esta solução, que não serve nem os interesses da cidade nem os interesses dos Sanjoanenses. Em primeiro lugar, porque o canal ferroviário existente deve ser aproveitado para substituir os milhares de carros e autocarros que diariamente se deslocam para o Porto, não podendo, para tal, a Linha do Vouga continuar separada da restante rede ferroviária. Em segundo, porque se os Sanjoanenses tiverem oportunidade de entrar no comboio na sua cidade e seguir diretamente até ao Porto, não há dúvida que farão essa opção, em detrimento do transporte individual. Se, pelo contrário, tiverem de mudar de comboio em Espinho e depois em Campanhã, isso fará toda a diferença e desincentivará o transporte ferroviário, favorecendo o automóvel.
* As pessoas estiveram, estão e estarão sempre no centro da nossa ação política. Todas as políticas devem ser tomadas considerando as necessidades das pessoas. É por isso que, em primeiro lugar, pensamos nos milhares de cidadãos que não têm maneira de se deslocar até à nossa capital metropolitana e regional de forma económica e ambientalmente sustentável. É no Porto que muitos Sanjoanenses, tal como eu, trabalham, estudam e usufruem dos seus tempos livres. Com a instalação da bitola ibérica e a consequente correção de traçados, seria possível fazer o percurso entre S. João da Madeira e o Metro do Porto, nas Devesas, em menos de 45 minutos, por um custo mensal de apenas 40 euros (o atual custo mensal do “andante metropolitano”), o que traria claras vantagens económicas e sociais para as populações. Além disso, São João da Madeira pertence à Área Metropolitana do Porto e, da mesma forma que os municípios do norte da Área Metropolitana têm acesso direto ao Porto, através do Metro do Porto, também os municípios do sul da área metropolitana devem ter uma ligação direta ao Porto através da Linha do Vouga. De igual forma, a não inclusão da bitola ibérica na Linha do Vouga ignora a enorme importância do eixo Oliveira de Azeméis/São João da Madeira/Santa Maria da Feira/Espinho, que por ser fortemente industrializado e exportador tem um grande peso na economia do nosso país. Esse dinamismo não é, naturalmente, compatível com visões de museologia ferroviária e saudosismos associados às memórias do comboio a vapor e de tempos que não voltarão, que acabarão por condenar esta região ao isolamento ferroviário.
* Obviamente que sim. Entendemos que se trata de estar do lado certo da história. Está nas mãos desta geração garantir um novo impulso que coloque a Linha do Vouga ao serviço do desenvolvimento económico, das acessibilidades, do bem-estar e da sustentabilidade desta região. Se a manutenção da bitola métrica na Linha do Vouga ficar consagrada no Plano Ferroviário Nacional, toda esta região ficará, pelo menos até 2050, desprovida de ligações ferroviárias e tal significará a continuação da morte lenta desta linha.
*Face ao que disse acima, não.
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“Há vários anos que propomos uma requalificação
e modernização da linha do Vouga”


* O Plano ferroviário nacional prevê que a linha do Vouga seja a única linha de bitola métrica e que, por essa razão “funciona separada da restante rede ferroviária”. Agrada-lhe que a linha que serve S. João da Madeira fique separada da restante rede? Julga que tal situação é conveniente para os interesses desta cidade?
Para o Bloco de Esquerda, deixar a rede ferroviária da Linha do Vouga separada da restante rede ferroviária, mais moderna e mais veloz, é deixar que toda a região fique cada vez menos desenvolvida em termos de mobilidade ficando, assim, limitada ao uso do transporte rodoviário, principalmente ao rodoviário particular, já que quanto ao transporte rodoviário público, esta região também se encontra mal servida. Numa altura em que os governantes têm a obrigação de repensar toda a forma de mobilidade das pessoas e das mercadorias, porque a responsabilidade em termos ambientais assim o impõe, não se compreende que o transporte ferroviário não seja opção como verdadeira alternativa à mobilidade nesta região do distrito de Aveiro.
A opção do Governo do PS, ao isolar a linha do Vouga, não é conveniente aos interesses de S. João da Madeira, aos interesses da região, aos interesses do país e aos interesses do Planeta.
Desde há vários anos que propomos uma requalificação e modernização da linha do Vouga, a sua inclusão no plano nacional de investimentos e a sua ligação à linha do Norte e ao Porto. Em 2014 apresentámos uma iniciativa legislativa para que o Governo assumisse como prioritário o projeto de requalificação da linha do Vouga no seu traçado entre Espinho e Aveiro e que procedesse à dotação de verbas necessária para a mudança bitola, eletrificação, correção de traçado, melhoria de material circulante e sinalização em toda a linha.
Estas propostas foram rejeitadas com os votos contra do PSD e do CDS e com a abstenção do PS, mas continuam a ser as propostas que interessam ao concelho, à região e às populações.
* As opções de potenciar o turismo, preservar material circulante histórico e servir as populações não são para nós, Bloco de Esquerda, contraditórias nem mutuamente exclusivas. Aquilo que defendemos é que a Linha do Vouga seja revitalizada, eletrificada e modernizada, de forma a servir a população, o que, naturalmente, promove também o turismo na região. Por exemplo, o troço entre Oliveira de Azeméis e Sernada do Vouga atravessa zonas de enorme beleza, facilitando o acesso a praias fluviais e a atividades de contacto com a natureza.
O material circulante histórico e as memórias desta Linha centenária, tão ricos, devem ser, obviamente, preservados, não só em museu, mas também no contínuo funcionamento da linha. E não há forma melhor de preservar uma linha ferroviária do que torná-la verdadeiramente circulável. Caso contrário será uma linha morta, pouca utilizada e esquecida. Esta Linha teve um passado que não deve ser esquecido, mas tem que ter um presente útil para que dure, pelo menos, mais cem anos.
* Isso não faz sentido. Se é para melhorar a mobilidade, então não pode haver encerramento de partes da linha do Vouga.
A linha do Vale do Vouga tem enormes potencialidades de interface, uma vez que a sul (em Aveiro) permite ligação à Linha do Norte, ligação essa que pode e deve ser efetuada também a norte (na zona de Espinho), e uma vez que atravessa o concelho de Albergaria-a-Velha, onde a Central de Camionagem permite a ligação a vários pontos do país (por exemplo: Braga, Porto, Viseu, Guarda, Castelo Branco, Coimbra, Covilhã, Fundão e Lisboa) pela sua proximidade com a A1 e a A25.
* O debate central sobre a Linha do Vouga não é tanto sobre que bitola se quer, mas sim sobre o que queremos para a linha em termos de mobilidade. Aquilo que queremos é uma linha rápida, segura e confortável e que ligue os concelhos, de forma direta, ao Porto e a Aveiro. Portanto, a bitola tem de ser a que garante estes objetivos.
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CDU não respondeu às perguntas de ‘O Regional’
A CDU ao contrário, das restantes forças políticas, não se mostrou disponível para responder às questões colocadas por ‘O Regional’, enviando a sua posição relativa ao assunto através de nota de imprensa. Assumem que a posição deste partido relativamente à Linha do Vale do Vouga “é clara” e conhecida há muitos anos. Explicam que, “durante muitas décadas, o investimento nesta linha foi nulo”, e garantem que a CDU “não centra a discussão nas questões técnicas, mas antes nas questões políticas”.
Consideram ser “crucial e urgente” que a Linha do Vale do Vouga, com alterações de bitola ou sem ela, possa garantir um transporte “eficiente, rápido, cómodo, barato, com horários adequados às necessidades de todas as populações, com composições modernas e com eletricidade como força motriz”.
Na mesma nota, a CDU, que tem como deputada Rita Mendes, defende que “não é aceitável” uma solução que “discrimine populações entre Aveiro e Espinho”, justificando que, para S. João da Madeira, “é absolutamente necessário um comboio que nos permita chegar - com segurança, com rapidez, com comodidade e com preços acessíveis - a Santa Maria da Feira, a Espinho, a Vila Nova de Gaia e ao Porto, mas é igualmente importante, também, que o possamos fazer, nas mesmas condições, a Oliveira de Azeméis, Albergaria, Águeda e Aveiro”.