Sociedade

“O melhor é olhar com prudência para 2023”

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À frente da Associação Comercial e Industrial de S. João da Madeira, Paulo Barreira, de 44 anos, mostra-se otimista relativamente ao trabalho desenvolvido pela associação, que assinala na próxima semana seis anos de atividade

Jornal ‘O Regional’ - Numa altura em que se assinalam seis anos de atividade da Associação Comercial e Industrial de S. João da Madeira (ACIsjm), quais têm sido as linhas gerais da vossa missão e os principais objetivos?
Paulo Barreira - Queremos promover dois objetivos que consideramos essenciais para o desenvolvimento sustentável das empresas, em particular das PME que representamos: reter e fidelizar pessoas no território e promover a produtividade industrial e comercial. Em suma, pessoas e produtividade.
Por essa complexidade de ação, definimos dois eixos de gestão: organizacional e estratégico. Neles estão elencados um conjunto alargado de objetivos que, obviamente, estão sujeitos a uma constante avaliação em busca da melhoria contínua e, principalmente, na adaptação que se impõe no aparecimento de novas realidades e desafios dos vários setores económicos.
No nosso ponto de vista, o modelo associativo empresarial está acomodado aos serviços tradicionais; nesse sentido, embora seja um trabalho moroso, estamos focados em melhorar o nosso próprio modelo de gestão, mais abrangente, formativo, inclusivo, inovador e sistemático, não só para os associados, mas também para a comunidade, parceiros e outras entidades interessadas.
Queremos ser um agente promotor e dinâmico no desenvolvimento da comunidade. Neste âmbito, é importante estabelecer canais de comunicação eficientes e fortalecedores da relação entre todos, implementar e dar continuidade a projetos que facilitem a participação ativa da ACIsjm na comunidade, promovendo uma maior abertura ao exterior, é uma forma de dar a conhecer o que fazemos e de fortalecer a circulação de pessoas e de ideias.

Quantos sócios tem a associação?
A associação, antes da voluntária isenção de cotas em período pandémico, contava com 93 associados. Essa isenção estende-se até ao final do ano de 2022, devido à consolidação da fusão com o Clube dos Empresários, que obviamente leva à reestruturação da Associação. Portanto, esperamos que a partir de janeiro 2023 a contagem efetiva do número de associados seja estabelecida.

Já é possível à ACIsjm fazer um balanço do impacto da pandemia covid-19 no tecido empresarial do concelho de S. João da Madeira, nomeadamente no comércio e, principalmente, na restauração?
O balanço do impacto da pandemia no nosso tecido empresarial está em linha com o resto do país. Não temos dados concretos e específicos do impacto da pandemia nas empresas sanjoanenses. Agora, devido à proximidade que mantemos com os associados, temos a perceção de que o impacto foi demasiado penalizador para o comércio de rua, que antes resistia, hoje sobrevive! Quanto à restauração, o impacto foi menor, não tão invasivo. Já nos bares foi arrasador e preocupante.

Houve muitos encerramentos, insolvências, tiveram alguns pedidos de ajuda?
Os empresários do concelho foram resistindo, foram lutando contra as evidências. Existiram de facto alguns empresários que optaram por fechar portas, contudo, a perceção que temos é que no cenário que se encontrava o país, a quantidade espaços a encerrar podia ter sido catastrófica. Tivemos nessa altura alguns pedidos de esclarecimento sobre a existência de apoio às rendas e pedidos de informação sobre moratórias.

As sucessivas medidas de apoio do Governo foram e têm sido adequadas?
O apoio às empresas nem sempre foi tão atempado e eficaz como esperado, os serviços públicos responsáveis pelo processamento de pedidos de apoio tiveram dificuldades na gestão da sobrecarga anormal de trabalho, levando a atrasos na implementação. É exemplo o processamento de pedidos no contexto do regime temporário de lay-off simplificado. Os bancos que participaram na implementação das linhas de crédito enfrentaram problemas semelhantes.
Algumas empresas aguardaram tempo excessivo por decisões ou pagamentos de sistemas de apoio, e as pequenas empresas queixaram-se do excesso de burocracia associada.

E da parte do Município?
Nesse período, a ACIsjm enviou à Câmara Municipal um conjunto de sugestões e medidas que julgávamos ser fundamentais para fazer face ao encerramento obrigatório de parte das empresas e ao dever de confinamento social. Não foram acedidas algumas das nossas sugestões, no entanto, existiu abertura parcial para suprir necessidades que achávamos imprescindíveis para a continuidade de atividades comerciais.
O direcionamento para o e-commerce, na altura, era a melhor estratégia de resiliência comercial a utilizar para minimizar a redução do volume de vendas. Através de uma proposta que fizemos, a autarquia subsidiou a app CTT comércio local, garantindo que o consumidor tivesse uma interação direta com o comerciante, nomeadamente no que concerne à encomenda, ao pagamento online de produtos e às respetivas entregas. Esta foi a mediada que teve mais impacto e a aceitação das pequenas empresas de comércio.

E novos negócios a abrir, ou em vias de abrir?
As intenções de investimento comercial estão bastante condicionadas pela constante instabilidade dos mercados e pelo aparecimento de novas profissões. Em simultâneo com o aparecimento de novas tendências, novos hábitos comerciais, a mudança de rotinas do consumidor, este mais exigente e mais informado que no que no passado.
A tendência de mercado pós-pandemia mostra o aumento do uso da tecnologia, crescimento do trabalho em home office. A transformação digital está a criar um padrão de consumo. Estes fatores, entre outros, condicionam o aparecimento de novos espaços comerciais.
Por outro lado, existe atualmente uma crescente procura por espaços para exercer a atividade de cabeleireiro/a, embora impulsionado pelo aumento da comunidade estrangeira em S. João da Madeira, em particulares de nacionalidade brasileira, assim como, a abertura de grandes superfícies do ramo alimentar.

Há quem fale em “falta de dinâmica” de muitos comerciantes para diversas atividades. Concorda?
Compreendo que os empresários do comércio de rua estejam descrentes e não se sintam motivados a dar passos no sentido de uma mudança estética, mais atrativa e adotar dinâmicas de promoção conjunta. Mas considero um bem necessário. Tenho a convicção de que o comércio de rua tem de criar sinergias conjuntas, desenvolver uma marca local para vender as nossas ruas.
Essa será uma tarefa a desempenhar e cabe também à Associação estimular o empresário e fazer com que acredite nessa estratégia. Porém, este tipo de estratégia não funciona de forma isolada, a Câmara Municipal assume um papel determinante na conciliação de vontades e na definição do que pretende para o tecido comercial da cidade e em particular para a atratividade das ruas do concelho. O Planeamento de uma gestão dinamizadora pode ser o rastilho para que essa dinâmica do empresário do comércio surja.

Poderá ter acesso à versão integral deste artigo na edição impressa de 24 de novembro ou no formato digital, subscrevendo a assinatura em https://oregional.pt/assinaturas/

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