André Silva é professor Universitário de Engenharia Aeroespacial, uma paixão nasce nos anos 80, com a Fórmula 1, e com o Ayrton Senna. Mas as corridas de karting a pedais nas ruas de S. João da Madeira já indicavam o seu futuro.
Jornal ‘O Regional’ - Vamos começar por viajar no tempo, e a primeira paragem pode ser mesmo a altura em que surge o seu gosto pela aeronáutica. Essa paixão começou já na adolescência em S. João da Madeira?
Professor André Silva – A paixão pela aeronáutica surge nos anos 80, com a Fórmula 1 e com o Ayrton Senna, além de que a Fórmula 1 era transmitida na RTP, de 15 em 15 dias, após o almoço.
Mas as próprias brincadeiras de miúdo já indicavam este futuro?
Sim, penso que sim. O meu irmão e eu aproveitávamos algumas descidas de S. João da Madeira para realizar umas corridas de karting a pedais.
Como tem sido todo este percurso até chegar a professor de Engenharia Aeroespacial?
Após terminar o secundário na escola Dr. Serafim Leite ingressei na Licenciatura em Engenharia Aeronáutica da Universidade da Beira Interior (UBI) na Covilhã em 1993. No final do 3º ano da licenciatura, após frequentar a unidade curricular de Mecânica dos Fluidos foi convidado pelo docente da unidade curricular, Professor Jorge Barata (Catedrático do Departamento de Ciências Aeroespaciais) para integrar o seu grupo de investigação na área de aerodinâmica e propulsão. Penso que este foi um dos momentos chave, este convite deu-me a oportunidade de participar em projetos de investigação nacionais e internacionais, apresentar e discutir o nosso trabalho com Investigadores e Professores de todo mundo, poder participar no desenvolvimento novos equipamentos ou em missões espaciais, resolver problemas na nossa sociedade. É algo extraordinário!
No ano seguinte, ainda na licenciatura, candidatei-me a uma a bolsa de investigação da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) no âmbito de um projeto de investigação para estudar o desenvolvimento de técnicas de computação paralela para modelação aerotermodinâmica de aeronaves para voo atmosférico. Após a conclusão da licenciatura consigo um bolsa do governo francês para estudar jatos de densidade fortemente variável e vou estagiar para o Laboratório de Combustão e Sistemas Reativos do CNRS (Centro Nacional de Investigação Científica) em para Orleães. Neste caso o estudo tinha como aplicação o foguete Ariane V construído pela Airbus Defesa e Espaço para a Agência Espacial Europeia (ESA) e foi patrocinado pelo governo francês através de um projeto bilateral entre Portugal e Espanha. Paralelamente, vou apresentar o meu trabalho de fim de licenciatura, o estudo da dispersão de um escoamento bifásico numa câmara de combustão de alta pressão a uma conferência a Xi’an, China. No final de 2000 consigo uma bolsa de doutoramento da FCT e regresso a Portugal para estudar experimentalmente e numericamente os aspetos físicos dos processos de injeção de combustíveis. O plano de trabalhos do doutoramento foi financiado pelo projeto Flow and Heat Transfer Characteristics of Evaporating Impinging Sprays, coordenado pelos Professores António Luís Moreira do Instituto Superior Técnico (IST) e Jorge Barata da UBI. O trabalho experimental realizado na Unidade de I&D IN+ do IST e foi enquadrada no projeto europeu DIME – Direct Injection Spray Engine Processes Mechanisms to Improve Performance. A modelação numérica, foi desenvolvida no DCA da UBI, e foi financiada pelo projeto europeu AFTUR – Alternative Fuels of Industrial Gas Turbines. Após concluir o doutoramento ingressei do DCA da UBI.
Que disciplinas ensina? E que áreas investiga?
Atualmente ensino Aerodinâmica, Turbulência, Combustão e Sistemas Avançados de Propulsão Aeroespacial, e investigo na área de aeronáutica e do espaço. Na vertente do espaço, o foco recai em áreas como a estabilização de satélites, satélites ativos e passivos, e segurança planetária. Na vertente da aeronáutica desenvolvem-se trabalhos na área de energia e propulsão, sobretudo de transporte aéreo, com grande enfoque na emissão de poluentes e redução de consumo de combustível. Mais recentemente tenho desenvolvido atividades de investigação em combustíveis sustentáveis para a aviação, tendo como objetivo reduzir as emissões de CO2, e deste modo, a obter um crescimento neutro em carbono a partir de 2020, e uma redução de 50% nas emissões líquidas até 2050, em comparação com os níveis de 2005. Atualmente, no meu grupo de investigação decorrem trabalhos de modelação de condições transcriticas e supercríticas relevantes para motores foguetes líquidos. Na modelação da combustão de misturas de Jet-Fuel e biocombustíveis, e com objetivo de contribuir para a descarbonização do transporte aéreo têm sido realizados trabalhos com nano-combustíveis, isto é, nano-biocombustíveis, onde ao biocombustível é adicionado nanopartículas de alumínio. Todas estas atividades são financiadas pela FCT.
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