Sociedade

“O choque foi vir embora e pensar que não posso fazer mais nada”

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Ana Teixeira esteve três semanas a trabalhar num campo de refugiados, em Atenas, na Grécia. Agora diz querer voltar àquele campo onde trabalhou sobretudo com crianças.

Ana Teixeira esteve três semanas a trabalhar num campo de refugiados, em Atenas, na Grécia, conforme já havia contado a ‘O Regional’, na edição de 20 de maio. A jovem arrifanense, que se envolveu pela primeira vez numa ação de voluntariado enquanto estudante na escola Oliveira Júnior, admite agora querer voltar àquele campo, onde trabalhou sobretudo com crianças em atividades lúdico-pedagógicas, mas onde também distribuía comida e outros bens pelas tendas. Não compreende, todavia, as burocracias que enviam as pessoas de volta aos seus países, deixando-as em situações de perigo e insatisfação.

Na sequência da nossa conversa, em maio, o livro “Uma esperança mais forte do que o mar”, sobre refugiados, da autoria de Melissa Fleming, sempre coube na mala?
Coube. Não consegui ler muito porque não tinha muito tempo lá. Nas viagens de avião – odeio andar de avião – aproveitei para ler alguns bocadinhos e agora estou a ler em casa.

E como foi a leitura?
Comecei a ler a ir, não é que não me tocasse porque já estava sensível para o assunto, mas a vir, quando voltei a pegar no livro, parecia que estava a ler os refugiados que tinha conhecido.
Como foi o choque de realidades que perspetivavas?
Para ser sincera, acho que só quando se chega a Portugal é que se começa a sentir a diferença. Lá, nunca senti, em nenhum momento, que precisava de mais. Não têm condições, não têm casa de banho com condições, mas o que me custou mais foi pensar que, quando saísse, eles ficavam lá. Quando regressei a Portugal, ficaram lá não sei por quanto tempo. Acho que foi essa a diferença. Nunca me faltou nada, podia não ter as condições a que estava habituada, mas acho que o choque foi mesmo o momento de vir embora e pensar que não posso fazer mais nada e eles podem ficar ali durante anos.

Que imagem trazes da Grécia e dos gregos?
Nós só conhecemos uma voluntária grega. Não quero dizer que eles esquecem [o problema dos migrantes], porque se esquecessem não havia tantos campos de refugiados — também são obrigados a ter porque são dos principais países onde chegam refugiados — mas não sinto que haja muita sensibilidade para o tema lá.

Ar­tigo dis­po­nível, em versão in­te­gral, na edição nº 3853 de O Re­gi­onal, pu­bli­cada em 22 de julho de 2021.

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