
O movimento intensifica-se nas ruas, nas lojas e no mercado municipal, onde as encomendas de doces tradicionais aumentam a cada dia e as compras de última hora multiplicam-se, mas sem sinais generalizados de excessos.
A contagem decrescente para o Natal faz-se sentir no aumento do movimento nas ruas de São João da Madeira, nas lojas e no mercado municipal, com encomendas de doces da época e compras de última hora. Há mais vida na cidade, mas sem sinais generalizados de exagero. A quadra intensifica encontros e tradições, embora nem todas as famílias vivam estes dias em clima de abundância ou consumo alargado.
“O Natal transformou-se numa festa de consumo e o espírito acaba por se perder”, sustenta Natália Castro, 56 anos. Recorda um tempo em que havia menos à mesa e maior sentido de partilha. “Não havia muita fartura, mas havia o essencial. A família começava a preparar tudo na véspera e cada um contribuía como podia. A noite era longa e especial”. Criada num ambiente religioso, cresceu entre presépios e com presença regular na missa do galo. Atualmente desempregada, antecipa uma quadra marcada pela contenção. “Nunca fui de excessos. Hoje prefiro comprar duas ou três iguarias. Só o meu marido é que come. Acaba por se estragar”, conta. “Será um Natal em família, simples, porque a vida assim o exige”.
O marido, António Gomes, partilha a mesma leitura. Apesar de a família não ser numerosa, diz que esta época foi sempre vivida com emoção. “Havia muito sentimento. O Pai Natal tinha poucas possibilidades e um presente simples era motivo de alegria”. A união familiar, sublinha, manteve-se ao longo dos anos. “A família esteve sempre presente neste dia. Não abdico disso”.
As luzes e as decorações ocupam montras e avenidas de São João da Madeira. O cheiro a açúcar e canela acompanha quem percorre o centro da cidade, num cenário que convive com memórias de outros tempos. O Mercado Municipal reflete também essa dinâmica, com uma aposta crescente na restauração e em pequenos negócios ligados à gastronomia.
Um dos exemplos mais recentes é a Dona Chá, espaço de pastelaria artesanal que abriu portas há poucos dias. A proprietária, Carla Pinho, explica a `O Regional´ não ter mãos a medir nesta altura e acrescenta que a escolha do local se deve à convicção de que o mercado tem margem para crescer. “Apostei neste espaço por várias razões. Acredito que o mercado tem potencial para atrair muitos clientes e quero contribuir com a minha arte doce”. Formada em Cozinha e Pastelaria pela Escola de Turismo de Portugal, concretizou um projeto pessoal centrado na confeção de bolos e num atendimento personalizado.
Nostalgia no Natal
Com a aproximação do Natal e da passagem de ano, a procura tem aumentado, sobretudo ao nível das encomendas. Cada bolo é preparado de acordo com a ideia do cliente, desde os sabores à forma e à decoração. O espaço, de ambiente acolhedor, convida à permanência, seja para provar os chás disponíveis ou para acompanhar o fabrico artesanal dos doces, reforçando a vitalidade do mercado como ponto de encontro na cidade.
Uns metros mais à frente, encontramos Carla Coelho, natural de Oliveira de Azeméis. “Quanto mais longa é a vida e maior a família, até me sinto nostálgica no Natal, porque nada é como era”, observa, acrescentando que guarda recordações marcantes dos Natais da infância, vividos em torno da família alargada. “Primos, tios, avós e até amigos próximos. A consoada e o dia de Natal eram uma verdadeira festa”. À mesa chegavam as iguarias da época, confecionadas pelas mulheres, enquanto “os homens compravam o bacalhau e escolhiam o vinho”.
O ritual manteve-se durante anos, até às primeiras perdas familiares. “Aos poucos entrámos num Natal mais consumista e egoísta. Hoje está longe do que foi. E todos temos responsabilidade nisso”.
Também Lourdes Rodrigues, residente há vários anos no concelho, associa o Natal a uma vivência familiar sem excessos. “Sempre foi uma época mágica lá em casa, mas não gosto de exageros. Tento fazer as iguarias da época. A família é importante o ano inteiro”.
Apesar de a quadra ser frequentemente associada ao consumo e ao aumento da despesa, a maioria das famílias contactadas por `O Regional´ garante que irá manter uma celebração contida, sem alterações significativas face aos anos anteriores.
Para João Pedro, o Natal deste ano será semelhante aos anteriores. “Não somos de exageros. Compramos apenas o necessário, sem desperdício de dinheiro nem de comida”. A poupança, diz, faz parte do quotidiano. “Estamos habituados a viver assim”. Lá em casa também opta por comprar as iguarias. “Gosto de ter um pouco de tudo. Por isso, escolho as unidades em função das pessoas que tenho em casa”, admitindo que não compensa “o que se gasta a fazer os doces em casa”.
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