Sociedade

Rostos sem Máscara -19 - “Nas horas de aflição, esquecemo-nos que os bombeiros são Homens e Mulheres de carne e osso”

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Ana Cláudia, 39 anos, é bombeira há 15. Defensora de que não há profissões para elas ou eles, pois entrou numa altura em que não havia mulheres bombeiras no corpo ativo. A adaptação “foi difícil para todos” e, atualmente, faz um pouco de tudo

Ana Cláudia, também é fisioterapeuta reconhece que os sanjoanenses “respeitam” os bombeiros mas, nas horas de maior aflição, estes homens e mulheres, por vezes, são “esquecidos”.
Entrou para os bombeiros de S. João da Madeira em 2007, tinha 24 anos. “Aceitei o desafio, inicialmente, por brincadeira”, mas rapidamente se apaixonou e hoje é “realmente uma grande paixão”.
Ana Cláudia, não sabia muito bem onde se iria meter, pois o único contacto que tinha, na altura, com os bombeiros, era quando faziam transporte de doentes para a clínica onde trabalha. “Foi-me proposto, por dois bombeiros profissionais, o desafio de ingressar na primeira escola aberta ao corpo feminino. E lá fui”, enfatiza.
As regras são para serem quebradas. E Ana assume que não há profissões para elas ou eles. Contudo, quando ingressou nos Bombeiros de S. João da Madeira, “nunca tinha havido mulheres bombeiras no corpo ativo”. Confidencia que, inicialmente, “foi um pouco difícil a adaptação para todos, mas com o tempo fomos mostrando o nosso valor e a nossa determinação, conquistando o respeito e o nosso lugar na instituição”, enfatiza.
Um bombeiro prepara-se para fazer tudo o que for preciso. E, aí, a sanjoanense não teve dúvidas em aprender e arregaçar as mangas, com intuito de ajudar de forma voluntária a população. “Faço um pouco de tudo. Fizemos formação inicial para bombeiros, o que nos qualifica para fazer todo o tipo de serviços. Sempre tivemos formação nas áreas necessárias. Por isso, em serviços pré-hospitalares, tanto posso sair a conduzir as ambulâncias, como a desempenhar funções de socorrista. Podemos ainda sair para incêndios urbanos, industriais, florestais, acidentes, ou qualquer situação em que sejamos necessários”.
Claro que esta vida de bombeira vai-se escrevendo uma história com episódios mais marcantes. Por exemplo, para a Ana, “os incêndios florestais em Agosto de 2013” ainda estão bem vivos na sua memória, “pois na altura tive a oportunidade de estar no CDOS (Comando Distrital de Operações de Socorro) de Aveiro. Nesse ano, o distrito de Aveiro foi muito fustigado pelos incêndios. Infelizmente, houve vários bombeiros que ficaram feridos, e, lamentavelmente, ocorreu a morte de uma bombeira, o que é sempre trágico. E que muito lamento”.
Quanto à profissão de fisioterapeuta, Ana Cláudia sente-se realizada, até porque  a entidade patronal sempre valorizou o serviço de voluntariado que realiza. “Nunca colocou entraves quando fui solicitada para ocorrências”.
Ser mulher, fisioterapeuta, bombeira, esposa e mãe parecem muitas mulheres numa só, e não é tarefa fácil, contudo, com empenho e o apoio, Ana consegue. “É impossível separar a mulher da bombeira, pois no meu dia-a-dia lido com situações em que ambas estão presentes, em casa, no trabalho, nos bombeiros ou até mesmo na rua”. Mas olha sempre em frente, com a mesma determinação.
A pandemia tem sido um desafio. Enfrentar o flagelo que existe e a necessidade de estarem na linha da frente também. Mas a bombeira explica “com muita cautela e cuidado, pois tinha receio de colocar a minha família em perigo. Tínhamos protocolos de procedimentos, que segui à risca, para me sentir mais segura. A fase inicial foi a que mais temi, pois existia um grande desconhecimento e incerteza do que realmente se tratava”.
E este é o olhar da mulher de S. João da Madeira sobre o que a população em geral transmite: “Os sanjoanenses acarinham e respeitam os bombeiros mas, por vezes, nas horas de aflição, esquecemo-nos que os bombeiros são Homens e Mulheres de carne e osso. Não nos podemos esquecer que o socorro no nosso país, em grande maioria, assenta no voluntariado. Por isso, é necessário que cada um faça a sua parte, contribuindo, assim, para que consigamos fazer o nosso trabalho da melhor forma”.
E, quando perguntamos a esta fisioterapeuta o que mais a preocupa neste nosso Mundo, a resposta é imediata: “A falta de empatia pela dor/sofrimento do outro”, rematou.

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