S. João da Madeira perdeu aquele que foi o escritor mais premiado de sempre na cidade. Manuel Córrego, pseudónimo literário do advogado Manuel Pereira da Costa, ex-diretor de ‘O Regional’, morreu, ontem de manhã, aos 90 anos.
Manuel Córrego, pseudónimo literário do advogado Manuel Pereira da Costa, nascido em 1932, ex-diretor de ‘O Regional’, morreu, ontem de manhã, dia 2, aos 90 anos. Além do direito, o jornalismo foi sempre uma atividade a que se dedicou, desempenhando funções de diretor do semanário ‘O Regional’, de S. João da Madeira, cidade onde sempre residiu.
A paixão pelas letras sempre o acompanhou, e assumiu várias vezes em entrevistas que não conseguia deixar de escrever, descrevendo tratar-se de uma espécie “de stress muito ativo e sempre presente” na sua vida. A prova disso foi o prémio literário nacional João Araújo Correia, que venceu com o conto “O porteiro de Rachmaninov”, aos 86 anos.
Manuel Córrego é responsável por uma vasta coletânea literária, que passou do romance ao teatro e à poesia, e tornou-se o escritor mais premiado da cidade. A elevada qualidade das diversas obras, como “Campo de Feno com Papoilas” e “Os Sapatos Vermelhos do Papa”, proporcionaram-lhe prémios e distinções, que foram sempre motivo de honra para o autor, mas também para S. João da Madeira.
Recebeu o prémio Ler-Círculo de Leitores com o romance “Campo de Feno com Papoilas” (1998), e o prémio da Ordem dos Advogados, com o romance “Vento de Pedra” (2008). O Grande Prémio Inatel de Teatro de 1998, 2002 e 2004 foi concedido à trilogia sobre os descobrimentos: “O Testamento do rei D. João Segundo”, “O Casamento do rei D. Manuel”, “A Rainha e o Cardeal”.
Manuel Córrego nasceu em Couto de Cucujães, onde desenvolveu o gosto também pelo teatro. Fez parte do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC). Impulsionou a criação do Núcleo Amador de Teatro de S. João da Madeira. Nesta cidade, onde residia, dedicou-se ainda à encenação e criação dramática.
A família foi sempre o seu pilar. A esposa, Ilda Costa, era para si como “um anjo da guarda” e fazia mesmo questão de salientar que o amor do casal foi “à primeira vista” e que esta vida em conjunto durante mais de 50 anos foi para si a melhor coisa que lhe aconteceu.
Recentemente, Manuel Pereira da Costa tinha manifestado a vontade de se afastar do encargo da direção deste semanário e os proprietários compreenderam e aceitaram esta decisão, embora cientes de que estavam a perder um “extraordinário valor” que, se mais não fosse, só pelo seu nome, já prestigiava o semanário.
De destacar que durante longos anos sempre prestigiou este semanário com os seus editoriais, onde dava as suas opiniões com frontalidade e com coerência.
Manuel Pereira da Costa sempre foi reconhecido ao longo dos anos como um homem “sensato”, muito vivido e com grande capacidade para analisar e refletir sobre os problemas que vêm afetando a vida da sociedade.
Logo após ser conhecida a sua morte, começam a surgir as primeiras reações ao desaparecimento do jurista e escritor sanjoanense.
Manuela Rebelo assume que a “cidade vê partir um dos melhores advogados da sua geração” considerando mesmo que advocacia “perdeu um dos seus mais notáveis membros” com quem teve “o privilégio de o ter como patrono“. A Presidente da Ordem dos Advogados de S. João da Madeira manifestou o seu mais profundo pesar pelo falecimento do “Ilustre colega, Dr. Manuel Pereira da Costa”, e apresentou sentidas condolências à esposa e restante família.
“Personalidade de grande prestígio no nosso concelho e na região, foi, a convite do presidente da Câmara, o primeiro comissário das comemorações da elevação de S. João da Madeira a Cidade, em 2018, ano em que se instituiu essa figura”, recorda, por sua vez, a Câmara Municipal. Esta entidade endereça “as mais sentidas condolências à família e amigos de Manuel Pereira da Costa, cujo falecimento constitui uma grande perda para a nossa cidade, onde será para sempre recordado como um cidadão de referência, um humanista e um vulto da nossa cultura”.