Para muitos sanjoanenses, a Páscoa continua a ser uma época marcada pelos reencontros familiares e pelas memórias partilhadas. Entre celebrações religiosas e almoços em família, o compasso envolveu, em S. João da Madeira, 120 pessoas nas 25 equipas de visita pascal, que este ano chegou a mais casas. Segundo o pároco, a Semana Santa registou uma participação “expressiva da comunidade”.
Entre a força da fé, os almoços em família e a nostalgia dos ovos de Páscoa, esta época festiva continua a ser vivida com intensidade pelos sanjoanenses. A festividade religiosa em S. João da Madeira é, assim, uma época de reencontros e tradições, mas também de mudanças. Embora a celebração tenha perdido alguma força junto de algumas famílias, o convívio familiar continua a ser uma parte importante para muitos.
A Semana Santa em S. João da Madeira registou uma participação “expressiva da comunidade”, segundo Álvaro Rocha, pároco de S. João da Madeira, com cerca de 120 pessoas envolvidas nas 25 equipas de visita pascal, além de sete elementos que se dedicaram à visita na Santa Casa da Misericórdia. Embora não tenha sido possível contabilizar o número exato de famílias visitadas, o abade sublinha que há “alguns elementos que nos fazem concluir que mais casas abriram a porta para o compasso”.
Pedro Marques e Ana Maria, um casal de 55 anos vindo de Viana do Castelo, fazem questão de celebrar a Páscoa em família, onde nunca falta o tradicional cabrito assado. Para eles, esta é mais uma oportunidade de juntar a família em S. João da Madeira do que um momento de celebração religiosa. “Para nós, é mais um feriado. É um dia religioso e é uma altura para estar com a família e as crianças. Quando há crianças por perto, qualquer época do ano é especial”, dizem. De acordo com Pedro, esta tradição deveria “manter-se nas famílias” e isso depende, segundo ele, “da continuidade da tradição dentro da família. Páscoa e Natal são para reunião familiar”, vinca.
No último domingo, 20 de abril, foram muitos sanjoanenses que participaram na tradicional visita pascal, um dos momentos mais marcantes da Páscoa para os católicos. Para um elevado numero de sanjoanenses, este dia representa a celebração mais importante do calendário religioso. Enquanto alguns mantiveram a tradição de reunir a família em casa para o almoço, outros preferiram almoçar fora. Luísa Santos, por exemplo, revelou à nossa reportagem que, nos últimos anos, a sua família optou por almoçar num restaurante. “Temos mais tempo para nós e não há tanta azáfama. Fica marcado todos os anos no mesmo restaurante”, explicou.
Maria Pinho, uma sanjoanense de 67 anos, tem a Páscoa como um momento muito importante para a sua família. “Somos católicos. Receber o padre e a cruz sempre foi sagrado. A tradição parece ter mudado, mas eu faço questão de manter a tradição de família. Não compro nada feito. Na Sexta-feira Santa, junto-me com a minha cunhada, filha e nora e começamos a preparar as iguarias. Não se comia carne nesse dia, e isso mantém-se até hoje em minha casa”, conta Maria, que ainda se lembra da grande limpeza que a sua família realizava para preparar a casa para a celebração. “A maior limpeza da casa era feita na Páscoa. Janelas, estores, tapetes... A casa tinha que estar a brilhar. E não podiam faltar as jarras com flores”, recorda com saudade.
Pedro Gomes, um jovem sanjoanense de 20 anos, vê a Páscoa de forma diferente. “Quando era criança, a Páscoa era uma época divertida, cheia de ovos de chocolate e amêndoas, mas atualmente já não ligo muito. Prefiro ir viajar ou estar com amigos”, revela. Para ele, a vertente religiosa da Páscoa perdeu significado, e o convívio familiar não está limitado a uma data específica. “As famílias podem reunir-se em qualquer altura do ano, desde que combinem as agendas e haja vontade.” No seu caso, o dia foi passado no cinema com amigos, afirma.
Menos famílias a ausentarem-se na Páscoa
Álvaro Rocha integrou uma das equipas de visita pascal e percorreu os lugares de Fundo de Vila e Orreiro. Este ano, destaca-se a participação de migrantes originários do Brasil no compasso — um sinal de que a Semana Santa “não está a perder adesão”. Para o abade, a comunidade continua a valorizar estas celebrações, e a caminhada da catequese teve uma adesão muito positiva. “Sabemos que, numa cidade, há sempre uma grande mobilidade de famílias nesta época, mas pareceu-nos que, este ano, menos famílias se ausentaram da cidade”, revela.
No domingo de Páscoa, a Igreja Matriz acolheu três eucaristias “bastante participativas”, e uma teve lugar na Capela do Parrinho. O encerramento do compasso foi marcado por uma celebração festiva, com a procissão a partir da Capela de Santo António até à Igreja Matriz. As 25 equipas de visita pascal chegaram à igreja acompanhadas de campainhas, sinos e foguetes, trazendo um tom festivo à caminhada.
As celebrações da Semana Santa contaram ainda com grande afluência de fiéis, com destaque para o Domingo de Ramos e a Quinta-feira Santa. A Igreja Matriz encheu-se na Sexta-feira Santa, durante a celebração da Paixão e Adoração da Cruz. Devido ao mau tempo, a tradicional Via-Sacra pública foi adaptada para o interior da igreja, onde os grupos conseguiram ajustar as suas encenações ao espaço disponível. A Vigília Pascal foi um momento de alegria especial, com o batismo de 13 crianças em idade de catequese, que irão realizar a Primeira Comunhão em maio. Cerca de 35 cantores, oriundos dos diversos grupos corais da paróquia, também participaram nas celebrações, enriquecendo a solenidade dos momentos.
Visita Pascal: Testemunho de fé e união comunitária
Maria José Santos, que integra a Visita Pascal há três anos, considera esta iniciativa um “verdadeiro testemunho de fé viva, que une gerações, fortalece laços e renova a esperança de todos nós.” Participar na Visita Pascal é, para Maria José, uma maneira de partilhar a fé e a esperança com os outros paroquianos. “Vivo esse dia com muita alegria, por ter a oportunidade de levar a mensagem do Cristo Ressuscitado a cada casa. Sabemos que as vidas e os ambientes são diferentes, e as pessoas recebem-nos por acreditarem num Jesus vivo, para que os seus corações fiquem mais fortalecidos”, explica.
Além de ser membro do Grupo de Leitores, do Movimento de Cursilhos de Cristandade e do Grupo de Catequistas da Adolescência, Maria José também vê a Visita Pascal como uma oportunidade para levar uma “mensagem de amor e esperança” a cada lar. Para ela, cada casa representa uma partilha de sentimentos, “identificando-nos com as vidas, as dores e as alegrias das pessoas que encontramos.”
Joana Cerqueira, por sua vez, estreou-se na Visita Pascal este ano, motivada pela necessidade de “fortalecer a minha espiritualidade” e “crescer interiormente”. A experiência, de acordo com Joana, foi enriquecedora: “Cada família, uma nova experiência. Deixamos um pouco de nós, mas levamos muito de cada família.” Através dos olhares das famílias que visitou, Joana sentiu a esperança à chegada do compasso: “Vi alegria, lágrimas — umas de felicidade, outras de solidão.”