O Movimento Cívico pela Linha do Vouga mostra-se “preocupado” com o futuro desta ferrovia e apresenta várias razões.
A Linha do Vouga já fez correr muita tinta nos jornais, mas ultimamente a temática “tem perdido bastante fulgor”, constata o Movimento Cívico pela Linha do Vouga (MCLV). Se no início do ano o tema aqueceu e mobilizou a região, com debates, conferências, entrevistas e reportagens em torno da requalificação da Linha do Vouga, nos últimos meses são “poucas as notícias divulgadas na imprensa”. A discussão pública do Plano Ferroviário Nacional findou no final de fevereiro mas, afirma o movimento, “parece pairar no ar o sentimento de que já pouca gente se lembra de que urge uma rápida modernização desta via férrea”.
No que toca às infraestruturas, o MCLV lamenta que entre 2015 e a atualidade, apenas 28 quilómetros dos cerca de 98 que continuam em funcionamento tenham sido renovados e que os 29 que perfazem o troço central permaneçam sem serviço de passageiros desde 2013. O movimento recorda que foram já intervencionados os 15 quilómetros entre Águeda e Sernada do Vouga, bem como os 13 quilómetros que ligam Oliveira de Azeméis a Santa Maria da Feira, mas o “grande problema” está no “atraso das restantes obras de renovação que já deviam estar a decorrer, ou até mesmo a terminar”. Entre elas, explica o MCLV, estão a requalificação do troço central entre Oliveira de Azeméis e Sernada do Vouga, uma intervenção inicialmente prevista iniciar-se no 3º trimestre de 2022, a finalização da renovação do troço norte entre Santa Maria da Feira e Espinho, prevista para o 4º trimestre de 2022, ou a finalização da renovação do troço sul entre Águeda e Aveiro, prevista para o 1º trimestre de 2023.
Enumerando outras intervenções previstas, como a automatização de passagens de nível ou a reposição da ligação do Museu Ferroviário de Macinhata do Vouga à rede ferroviária, o MCLV resume, numa palavra, o que se passa ao nível das infraestruturas nesta ferrovia: “atraso”. Apesar de considerar positivo o esforço de diversas entidades na recuperação de vários edifícios de estação, o movimento lamenta que “quase nenhuma” dessas reabilitações esteja a ser realizada com o objetivo “de servir os passageiros” da Linha do Vouga.
“Os atrasos na recuperação da infraestrutura estão a hipotecar o interesse na utilização desta linha”, alerta o movimento, que frisa que a situação prejudica, acima de tudo, os passageiros. Apesar de ter sido informado pela Infraestruturas de Portugal (IP) que a renovação do troço central teria início no 2º semestre deste ano, o MCLV duvida que esta previsão se concretize, apontando que não tem conhecimento de “máquinas no terreno”. No ar, ficam a pairar várias perguntas, escreve o MCLV. Entre elas, quais os motivos da IP que justificam os atrasos nas diversas intervenções da ferrovia, mas também para quando, afinal, arrancam os trabalhos de renovação.
Ritmo na recuperação do material circulante “abrandou”
Recordando o “sucesso das campanhas do comboio histórico que tiveram início em 2017, a aposta e o investimento no turismo ferroviário”, o MCLV lamenta que o rumo de “transformar esta linha num autêntico museu vivo” pareça estar a perder o foco. Num texto onde elenca, em detalhe, o resgate e a recuperação de variado material circulante nos últimos anos e que faziam antever “um futuro promissor” para esta ferrovia, o movimento interroga-se agora sobre o porquê de a Comboios de Portugal (CP) ter abrandado o ritmo destas recuperações. Questiona também porque é que algum material, já recuperado, continua retido em Contumil e Guifões, e ainda o porquê de a CP não alugar ao estrangeiro “mais material circulante para reforçar a frota do serviço regular”. E remata com a questão: “Por todos estes motivos, o que (não) se passa na Linha do Vouga?”