Sociedade

Iniciativa pioneira promoveu o debate entre psicólogos, atletas e treinadores sobre a saúde mental no desporto

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Com um programa completo e participativo, o evento reuniu especialistas e atletas para discutir os desafios de uma área ainda pouco visível, mas cada vez mais urgente: o equilíbrio entre rendimento e saúde mental.

Ao longo do dia, painéis temáticos abordaram tópicos como burnout, desporto feminino, perturbações alimentares, desporto ada­ptado e o impacto da competição nas crianças e jovens. O momento de abertura contou com Daniela Couto, atleta de alta competição e participante em mais de 15 provas de Hyrox, que trouxe à conversa o lado invisível do seu esforço.
“Nós podemos estar muito bem fisicamente, estar bem preparados, mas se há alguma coisa que afeta a parte psicológica, já não vai ser bom”, partilhou Daniela Couto, destacando que a gestão emocional é, por vezes, o fator decisivo numa prova. “Há dias em que simplesmente não nos apetece treinar. E é nesses dias que mais se trabalha a vertente mental”.
A atleta sublinhou ainda o papel central do treinador no apoio emocional, revelando a importância da relação próxima com Tiago Alonso, responsável pela sua preparação. “Ele sabe sempre como estou, sem que eu precise de dizer”.
Mas não são só os atletas que trazem a saúde mental para o centro da prática desportiva. Liliana Rodrigues, psicóloga especializada na área, alertou para a necessidade de intervenções psicológicas mais profundas quando o sofrimento já compromete o desempenho. “Quando o atleta já está a sofrer com uma problemática, quando há desgaste, ansiedade excessiva, já não estamos nos níveis preventivos. A partir daí já será necessário intervir de forma especializada”.
Chamando também a atenção para a dificuldade em criar redes de apoio eficazes, sobretudo nas camadas mais jovens, a psicóloga referiu que “o treinador é quem socorre mais a vertente de acompanhamento psicológico. Até porque, muitas vezes, está mais próximo do atleta do que o psicólogo.” Liliana Rodrigues referiu ainda os obstáculos à colaboração com os pais, sublinhando que “A intervenção dos pais nem sempre é benéfica, nomeadamente nos treinos”.
Além disso, salientou que são os próprios pais, por vezes, “a exercer uma pressão desmedida sobre os filhos, projetando neles as expectativas do que gostariam que tivessem sido ou atingido”. Uma projeção que alimenta o stress e a ansiedade nos jovens, sobretudo quando o foco passa a ser o desempenho e não o gosto pela atividade.
De acordo com a experiência partilhada, os pedidos de apoio surgem, em muitos casos, apenas quando já existe uma dor instalada. “Geralmente, só vêm falar com o psicólogo quando a criança ou o jovem já está em sofrimento e tal começa a afetar o seu desempenho e nós mesmos conseguimos perceber que o desempenho está a ter ali algum tipo de défice”, algo que poderá estar associado a uma má gestão emocional.
No encerramento, ficou o apelo à continuidade deste tipo de iniciativas, que colocam no mesmo plano o corpo e a mente, o treino e o cuidado, o rendimento e o bem-estar. Porque, como resumiu Daniela Couto: “Para atingir os nossos objetivos, tem de haver uma junção de todos os valores”.
O evento contou ainda com intervenções de outros nomes relevantes como Joana Costa, Tiago Targino, Sofia Magalhães, Joana Correia e Inês Miguel, que enriqueceram o dia com experiências práticas e conhecimento científico.

 

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