Jornal ´O Regional´- Qual é, neste momento, a principal missão do Centro de Emprego e Formação Profissional do Entre Douro e Vouga?
Fátima Bastos - Em linha com aquela que é a missão do IEFP, IP, combater o desemprego, promovendo o empreendedorismo, a criação, a formação e qualidade do emprego, o Centro de Emprego e Formação Profissional de Entre Douro e Vouga, proporciona aos trabalhadores/desempregados acesso a formação profissional, a medidas ativas de emprego e de reabilitação profissional, bem como, procura estabelecer a ligação entre aqueles que procuram trabalho e as empresas que necessitam de trabalhadores, promovendo a inserção no mercado de trabalho dos desempregados, e respondendo em simultâneo às necessidades identificadas pelos empregadores da região.
Quais são os principais desafios que enfrentam, na região, em termos de empregabilidade e formação?
O desafio intemporal será sempre aproximar com sucesso os desempregados dos empregadores, respondendo às expetativas de uns e às necessidades dos outros, ou seja, concretizar um matching entre a procura e a oferta.
Numa perspetiva mais abrangente, a instabilidade económica e conjuntura internacional de incerteza, podem afetar de um instante ao outro a empregabilidade, produzindo mudanças rápidas e imprevisíveis no mercado de trabalho, desde o desemprego à criação de novas oportunidades de emprego; e ainda à conversão de ofertas formativas existentes em obsoletas, requerendo ofertas qualificantes em novas saídas profissionais. Ora, do ponto de vista da implementação, por força do necessário prévio enquadramento legal, a rápida construção de respostas, é um desafio em si.
Atualmente, quantos desempregados estão inscritos no Centro de Emprego? Destes, quantos são de S. João da Madeira e qual é a média de idades?
Os últimos dados estatísticos do desemprego registado na área de intervenção deste Centro (Arouca, Oliveira de Azeméis, Santa Maria da Feira, S. João da Madeira e Vale de Cambra) reportam-se ao mês de março. Assim, no fim deste mês encontravam-se inscritas 8.276 pessoas. Do total de inscritos, 1.022 residiam no concelho de S. João da Madeira. Na distribuição por género 453 eram homens e 569 mulheres. Num estudo efetuado recentemente, observou-se que a média da idade dos inscritos em S. João da Madeira, era 42 anos.
"O Serviço de Emprego tem recebido algumas ofertas de trabalho, que não tem conseguido satisfazer, precisamente pela inexistência de profissionais qualificados para ajustar às mesmas"
Quais são as áreas ou setores com maior empregabilidade na nossa região?
A indústria, desde a metalúrgica e metalomecânica, aos moldes e plásticos, componentes para automóvel, têxtil, cortiça, madeiras, calçado ou alimentar; mas também hotelaria e restauração; e serviços, incluindo cuidados pessoais.
Há necessidade de Portugal, e nomeadamente a região, recrutar imigrantes, havendo desempregados inscritos nos centros de emprego? Quantos imigrantes estão inscritos?
Não me caberá a mim, nem julgo que ao IEFP pronunciar-se de forma cabal sobre as necessidades de recrutamento de mão de obra imigrante ou medidas e políticas que nesta área foram e venham a ser criadas.
De facto, o Serviço de Emprego tem recebido algumas ofertas de trabalho, que não tem conseguido satisfazer, precisamente pela inexistência de profissionais qualificados para ajustar às mesmas. Não obstante, e pautando-nos pelo indicador de atividade “taxa de satisfação da oferta”, este serviço tenha encerrado o ano 2024 com uma taxa de satisfação global de 90,64% e no final de abril de 2025, apresentava 81,05% . Por último, e sobre os imigrantes, os dados estatísticos disponíveis (reportados a fevereiro 2025), estão desagregados ao nível da região, sendo que, na região Norte onde se insere este CEFP, no total de desemprego registado de 128,631 pessoas, 14,728 eram não nacionais (11,45%).
Mas em que áreas estão a faltar esses profissionais qualificados?
A avaliar pelas taxas de desemprego do país e da região, assim como, a mão-de obra requerida pelos empregadores, e particularmente em alguns sectores como agricultura, cuidados pessoais, hotelaria e restauração, construção civil, indústria transformadora, vêm sendo apontadas dificuldades de recrutamento, tanto pela disponibilidade de trabalhadores (no caso de mão de obra não qualificada), como pela inexistência de profissionais qualificados.
Aquilo que se diz muitas vezes, porém, é que as pessoas não querem trabalhar ou não estão dispostas a fazer determinadas tarefas. É mesmo assim?
Certamente, que cada pessoa tem as suas expetativas e projetos pessoais, que nem sempre estão alinhados com as oportunidades em aberto no mercado de trabalho.
No geral, acredito que as pessoas não só estão dispostas a trabalhar, como precisam de trabalhar, aspirando, porém, e legitimamente a condições condignas e uma remuneração justa.
Verifica-se alguma mudança no perfil dos desempregados, ao longo dos últimos anos?
Centrando-me apenas nas diferenças ou perfis cuja representatividade cresceu nos últimos anos, destacaria: por grupo etário, é notório o aumento nos desempregados com idade igual ou superior a 55 anos e nos jovens NEET (não está nem a trabalhar, nem a estudar ou a frequentar qualquer tipo de formação); e por nível de escolaridade, observa-se que os detentores do 12º ano de escolaridade são um grupo em crescimento.
Como vê a dinâmica empresarial e de emprego na região?
Desde a primeira metade do século passado que esta região se destaca pela sua expressão industrial, continuando a afirmar-se no contexto nacional e internacional, ocupando algumas empresas posições cimeiras ao nível das exportações, e concentradas em três importantes setores produtivos: a indústria de moldes e componentes para indústria automóvel; a indústria da cortiça; a metalomecânica ligeira e pesada; e ainda a do fabrico de calçado.
Gostaria de destacar o surgimento de projetos ligados à natureza, com grande predominância no turismo e na descoberta do património e cultura, com estratégias de enorme relevância, potencialidade de crescimento e, por conseguinte, de elevado impacto em toda a região.
Poder-se-á dizer que a riqueza do território está na diversidade e na complementaridade das suas atividades.
Como perspetiva a evolução do mercado de trabalho nos próximos anos, no Entre Douro e Vouga?
Considerando as vivências dos últimos anos, com a pandemia, guerras, crises económicas e financeiras, que nos mostraram que repentinamente tudo pode mudar; também porque percebemos que alguns sectores, em resultado de conjunturas internacionais/globais, apresentam alguma instabilidade; será mais prudente não avançar com projeções de crescimento ou recuo na criação de emprego e ainda possível crescimento do desemprego. Diria, porém, que tenho a expetativa que a região continue a criar emprego e o Serviço de Emprego em particular a colaborar no recrutamento e seleção de trabalhadores, respondendo às necessidades dos nossos empregadores, e a fazê-lo numa posição de destaque na região e no território nacional, como tem acontecido nos últimos anos.
É possível e tem sido possível articular o trabalho do Instituto com as escolas, aproximando-os?
O caminho que está a ser trilhado, iniciado este ano, é precisamente da concertação de rede das ofertas profissionalizantes, designadamente, dos Cursos Profissionais e dos Cursos de Educação e Formação, com definição de propostas de afetação de cursos, trabalhados em articulação pelas entidades intermunicipais, DEGESTE e IEFP, IP.
Tendo sempre presente que, o horizonte de quem forma e qualifica é a empregabilidade, a finalidade é formar para o trabalho.
No que diz respeito aos cursos de formação, quais têm tido mais procura?
Os candidatos procuram formação nas áreas de saúde e farmácia, cabeleireiro, estética, cuidados e apoio a idosos e crianças, novas tecnologias, multimédia e programação, logística, eletricidade e canalizações, automação e metalomecânica/CNC e ainda cozinha e pastelaria.
As entidades, para os seus ativos, procuram nas áreas de informática (distintas aplicações), gestão de redes, cibersegurança, CRM, programação (Python), marketing, business intelligence e neurobranding, manutenção industrial, entre outras.
Quanto às necessidades de recrutamento, na área da indústria, manutenção industrial, automação, robótica, mecatrónica e CNC, assim como, tecnologias digitais, logística e distribuição; nas áreas de hotelaria, restauração e turismo; em serviços pessoais, saúde, gerontologia e infância; ou ainda áreas como jardinagem, pintor de construção civil e canalizações.
Há novidades previstas na oferta formativa para este ano?
Maior investimento na oferta disponibilizada para os jovens, particularmente, a oferta de nível 5 de qualificação (pós-secundário). Vamos ter novidades nas modalidades de Aprendizagem, Aprendizagem+ e Cursos de Especialização Tecnológica (CET). Todas são potenciadoras, quer da progressão dos estudos para o Ensino Superior, quer de maior empregabilidade, pois incluem no mínimo 4 meses de formação prática em contexto real de trabalho e são altamente qualificantes e alinhadas com o progresso das profissões.
Como é definido o plano de formações? Há articulação com empresas e autarquias locais?
O plano de formação é construído pelo centro, tendo em consideração as áreas designadas pelo IEFP, IP, como prioritárias e submetido à consideração da Delegação Regional do Norte, já que integrará um plano maior, que será o Regional.
Na formulação do nosso plano, auscultamos entidades empregadoras e entidades formadoras/parceiros da região, bem como as equipas da área do emprego e da formação, procurando garantir um plano cuja oferta formativa seja direcionada para as necessidades reais do tecido empresarial, formando mão-de obra qualificada, que promova a evolução das empresas/serviços e até fomente a criação de novas empresas. Acresce referir que, implementamos e desenvolvemos a formação por toda a região do Entre Douro e Vouga, com oferta dirigida a desempregados, mas também a ativos/empregados.
As políticas ativas de emprego são definidas, considerando destinatários específicos de acesso às mesmas
Que programas específicos existem para apoiar os jovens na entrada no mercado de trabalho?
No âmbito das medidas ativas de emprego, as mais direcionadas para os jovens e especificamente para estabelecer a ponte entre formação/qualificação e o mercado de trabalho, serão as medidas de estágio, sendo que na atualidade temos: Estágios de Inserção (para pessoas com deficiência e incapacidade); Estágios Iniciar (qualificação de nível 4 e 5) e Estágios + Talento (com qualificação igual ou superior ao nível 6). Nas medidas de apoio à contratação temos: +Emprego e Emprego +Talento, sem deixar de mencionar o Programa de Apoio ao Empreendedorismo e Criação do Próprio Emprego (PAECPE), que visa fomentar a criação do próprio emprego/empresas.
Que medidas têm para apoiar pessoas com mais de 45 anos ou com baixa escolaridade?
As políticas ativas de emprego são definidas, considerando destinatários específicos de acesso às mesmas, tendo em consideração o desemprego registado e suas características. A caraterização de “Pessoa com idade igual ou superior a 45 anos” consta num conjunto alargado de medidas como critério de elegibilidade dos destinatários; designadamente nas medidas de apoio à contratação.
O que gostaria de ver reforçado, num futuro próximo, ao nível do IEFP nesta região?
Com os Stakeholders externos, a concertação da oferta formativa entre todos os intervenientes na formação da região e a otimização das parcerias e colaborações estratégicas com Entidades Formadoras, Empresas, Autarquias e Instituições do Setor Social (diálogo aberto).
Internamente, melhorar as Infraestruturas, ao nível das instalações, equipamentos, tecnologia e plataformas digitais e continuar a apostar no reforço da equipa/recursos humanos e das suas competências, de forma a garantirmos uma resposta mais eficiente, atempada e de qualidade, a todos aqueles que nos procuram.
Que mensagem gostaria de deixar a quem está desempregado ou a pensar em requalificar-se?
Contacte-nos através do Serviço de Emprego de S. João da Madeira e/ou do Serviço de Formação Profissional de Rio Meão. Encontrará uma equipa especializada, que o pode elucidar sobre medidas ativas de emprego em vigor, que podem ser potenciadoras da sua (re)integração no mercado de trabalho; assim como, uma vasta oferta formativa, de curta e longa duração, em formato presencial ou à distância (online), com altíssimo potencial de empregabilidade. Pode ainda, através dum processo de reconhecimento, validação e certificação de competências, obter o reconhecimento oficial das aprendizagens e saberes acumulados ao longo da vida, tanto a nível escolar, como profissional.
A vontade, empenho e dedicação são elementos indissociáveis para o sucesso na mudança.