A horta era uma creche do despertar para o mundo, uma pré-primária do conhecimento da natureza, um centro da aprendizagem da vida e da responsabilidade.
No campo era diferente. Nas cidades talvez já houvesse creches, infantários e amas. As mães iam trabalhar para a fábrica ou para o escritório e os filhos eram entregues à guarda dessas instituições.
Nas aldeias, não era assim. As crianças encontravam-se totalmente integradas e dependentes da família. Muitas vezes, nem as avós podiam servir de recurso à guarda das crianças, porque elas próprias também trabalhavam no campo.
Antes de entrarem na escola primária, e logo que tivessem condição para suportar os calores do estio e as friagens do inverno, as crianças acompanhavam a família para todo o lado. Nos primeiros tempos, as mães transportavam os berços para as hortas, colocavam-nos debaixo de uma árvore ou noutro local abrigado e iam fazendo o seu trabalho, sempre atentas ao estado dos filhotes. Quando havia sinais de fome, o refeitório estava perto…
À medida que os anos iam passando, as crianças iam crescendo e aprendendo nas hortas e com as hortas. A imaginação infantil não tem limites, por isso não era difícil inventar brincadeiras: casinhas de pedra, pequenas barragens nos regos da água, moinhos de vento com as “camisas” do milho, baloiços nas árvores, descoberta e vigilância dos ninhos da passarada, captura de grilos, banhocas na ribeira… Cada horta tinha o seu encanto próprio: numas havia uma nascente, noutras uma árvore especial, noutras uma cabana de colmo, outras ficavam ao lado da ribeira, havia que aproveitar as condições do lugar.
A horta era uma creche do despertar para o mundo, uma pré-primária do conhecimento da natureza, um centro da aprendizagem da vida e da responsabilidade.