A poucos dias do virar da página de mais um ano, Fernanda Moreira, coordenadora do Sindicato Nacional dos Profissionais da Indústria e Comércio do Calçado, Malas e Afins, não esconde a sua preocupação quanto ao futuro da indústria do calçado
Jornal ‘O Regional’ - É coordenadora do Sindicato Nacional dos Profissionais da Indústria e Comércio do Calçado, Malas e Afins há vários anos. Qual é o ponto da situação atual, na cidade, relativamente a este setor?
Fernanda Moreira – Neste momento, temos muito menos empresas em relação às que existiam há alguns anos (uma década…). As empresas têm vindo, gradualmente, a encerrar, umas por dificuldades, outras por não terem quem assegure a sua continuação, outras, ainda, devido a má gestão.
Tem conhecimento de alguma empresa que esteja com grandes dificuldades e que possa vir a encerrar portas nos próximos tempos?
Temos algumas empresas no concelho que, recentemente, estiveram em lay-off, umas antes de férias, outras, posteriormente. Existe uma outra que também já foi uma grande referência no concelho, a Carlos Santos, que se encontra com um Processo Especial de Revitalização (PER). No entanto, não temos indicação que alguma encerre nos próximos tempos.
Nas últimas décadas, S. João da Madeira perdeu empresas de calçado emblemáticas. No atual contexto de guerras, instabilidade política e volatilidade dos mercados, que diagnóstico é possível fazer do setor do calçado nesta região?
O calçado, durante várias décadas, foi a atividade principal no concelho. Neste momento, já não é. Daquilo que é a nossa perceção, pensamos que o setor, na cidade, está relativamente estável, o que não significa que esta situação não se altere de um momento para o outro. O mesmo não acontece nos concelhos limítrofes.
Atualmente, o setor do calçado dá emprego a quantas pessoas na cidade?
Não temos números concretos, até porque só temos acesso em relação às empresas onde temos sócios, mas, talvez, rondem os 500 trabalhadores.
Dados recentes revelam que o desemprego aumentou na cidade. Como estão os dados de desemprego, relativamente ao setor do calçado?
Há vários desempregados no setor do calçado, principalmente, numa altura em que a atividade se encontra a diminuir, automaticamente também aumenta o desemprego e o número de desempregados deste setor. Quanto a números, só o Centro de Emprego poderá fornecer números concretos.
O eventual encerramento de mais empresas de calçado no distrito de Aveiro que peso pode representar nos níveis de empregabilidade no distrito?
Quer o eventual encerramento, quer as eventuais reestruturações levadas a cabo por algumas empresas, terá, com certeza, um peso significativo.
Há ordenados em atraso nas empresas de calçado na região?
Tirando as empresas que vão para a insolvência. Existe alguns casos pontuais na verdade. Esperamos que esta situação seja ultrapassada e não passe de uma situação pontual.
A entrada em cena de novos players internacionais, a preços mais competitivos, compromete a robustez e a resiliência da indústria do calçado nacional?
Sim, existem algumas fábricas do setor na região com salários em atraso. Muitas das que encerraram recentemente, fizeram-no, deixando 2 e 3 salários por pagar, para já não falar dos restantes direitos. A entrada de produtos mais baratos poderá ter algum impacto, mas, a nível de calçado de alta qualidade, pensamos que não afetará.
“O setor tem de deixar de preocupar-se com a quantidade e dedicar-se mais à qualidade”
O setor do calçado admite que o maior desafio já não é apenas exportar, mas sim produzir peças que representem valor acrescentado para a economia nacional, garantindo o verdadeiro valor do produto. As empresas desta região estão a conseguir cumprir este desafio?
Neste momento, as duas situações têm de caminhar lado a lado. Temos de nos preocupar com a exportação e temos de nos preocupar com o que as empresas produzem, que tem de ter mais qualidade para que seja mais valorizado, tanto a nível nacional como internacional. O setor tem de deixar de preocupar-se com a quantidade e dedicar-se mais à qualidade.
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