Sociedade

Há 100 anos n'O Regional....

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Maio foi um mês agitado nas páginas d’O Regional, em 1922. Nelas se narrou uma agressão ao pároco, que terá resultado do que nelas se escreveu.
Na capa da edição de 7 de maio, um texto assinado por Firmesa fala da banda filarmónica de S. João da Madeira, deixando algumas críticas – construtivas, diga-se.
O autor sugere que “a nossa banda procure e crie boas vozes”, que os músicos estudassem um pouco mais e se reunissem com mais frequência, a fim de se transformar a “nossa pobre filarmónica em outra mais rica de instrumentos, de harmonias e de vozes, para que nos honre e nos dê lustre onde quer que se apresente”.
Na primeira edição do mês, é igualmente possível encontrar um texto sobre a obra ‘As Pupilas do Sr. Reitor’ de Júlio Dinis (a quem o autor da crónica, Serafim, atribui um “talento tão alevantado”), bem como uma notícia sobre o Teatro-Vista-Alegre, dando nota dos últimos espetáculos, numa casa “sempre cheia havendo, quasi, disputa de bilhetes”. E, dadas as circunstâncias, ‘O Regional’ chama a atenção para o facto de haver apenas uma porta de serviço. “A lei obriga, desde o incendio do teatro Baquet, a que as portas abram para fora”, alerta também o periódico, que avança com uma novidade: “vamos, dizem, ter cinema”.
Surge ainda um “alerta!” sobre um indivíduo que terá assassinado um marchante. “Espantoso... rir a bom rir... o homenzinho levou a pena de (não se espantem que não é caso para isso) dois anos de prisão e dez meses a tostão!!!...”, lê-se na página 2. A pontuação utilizada revela a indignação de quem escreve, vincando também a subjetividade do jornalismo. O jornal vai ainda mais longe, neste texto sem assinatura, e conclui: “quantos contos de reis valerá a vida de um homem? E fala-se da Rússia!...” Em 1922, como em 2022, a opinião pública também contestava as decisões dos tribunais.
Ora então, na edição seguinte, de 21 de maio, vários textos remetem para o que se terá passado na semana anterior. Agrediram “cobardemente o pároco desta freguesia”. Porquê? “Fora por causa de lhe atribuírem a autoria do artigo de fundo sobre a banda de música de S. João da Madeira, no nosso último jornal”.
A bem da verdade, a redação esclarece que o texto é da autoria do camarada de redação Serafim Ferreira dos Santos, que assina como Firmesa; e que o mesmo “não era uma calúnia, mas sim um incentivo”.
O verdadeiro autor agradecia a todas as pessoas que manifestaram auxílio e solidariedade ao pároco agredido, a quem presta então homenagem e admiração, em nome do jornal.
E há ainda nesta edição em comunicado, em forma de protesto, perante a agressão. Aqueles que assinaram pretendem mostrar “o sentimento de revolta que anima todo o povo de S. João da Madeira perante a vil como injustificada agressão de que traiçoeiramente foi vítima o exemplaríssimo e muito digno pároco desta freguesia, o Exmº Snr. Padre António Maria d’Almeida e Pinho”.
Entre os nomes que assinaram o protesto estão, por exemplo, João da Silva Correia, Ramiro Martins Leão, Domingos José de Oliveira, Manoel Luiz da Costa, Luiz Nicolau da Costa, Manoel Vieira de Araújo, Manoel Luiz Leite Júnior e Francisco Luiz da Costa.
É também noticiado que desde o dia 9 desse mês há greve dos operários chapeleiros do feltro, que reclamam um aumento salarial. “Quer da parte dos operários, quer da parte dos patrões, há bastante renitência”, sustenta o artigo, que dá nota de que alguns operários têm ido para Braga e outras terras do país à procura de trabalho.
‘O Regional’ anuncia ainda que no dia 28 do mesmo mês haverá a eleição da mesa dos irmãos da Santa Casa da Misericórdia, para iniciar os trabalhos de funcionamento do hospital.
N’O Regional, há 100 anos, era assim.

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