Nos últimos 100 anos, foram muitas as mudanças de paradigmas e perspetivas na sociedade e, consequentemente, no jornalismo e n’O Regional.
Mas, em 1922, era normal que o jornal desse nota, pormenorizadamente, não só dos nascimentos, batizados e casamentos realizados em S. João da Madeira, como das ofertas dos convidados.
Nesse sentido, ‘O Regional’ apresentava a lista de prendas recebidas pelos bebés e pelos noivos, indicando quem oferecia e tecendo as considerações entendidas pertinentes à época.
“Ao noivo: de seus pais – uma valiosa e artística cesta de prata, para pão; da mãe da noiva – uma rica salva de prata; de sua irmã Maria Emília – um lindo galheteiro de cristal e prata; de sua irmã Branca – um interessante trinchante em prata; de seus primos Valentina, Maria e Francisco – um estojo para refresco em cristal e prata; de sua prima Margaridita – uma argola de prata para guardanapo; do irmão da noiva, Joaquim – um estojo m prata para barba; da irmã da noive, Judit – uma elegante compoteira em cristal e prata” (...) lê-se na edição de 9 de abril de 1922. Se a lista parece extensa, é apenas um excerto de uma das várias longas colunas que, pelas edições d’O Regional fora, vão contando o que se oferecia e o que se recebia nas celebrações de há um século.
Na mesma edição, Firmeza fala, desta vez, do serviço de encomendas postais na estação telegrafo-postal de S. João da Madeira e da “enorme pilha de encomendas que na estação todos os dias se vêem”, apelando à Associação Industrial e Comercial para que seja mais interventiva, já que esta “não deve existir apenas para cobrar a quota de cada associado”. E chega mesmo a sugerir que se nomeie uma comissão de industriais “que vá a Lisboa tratar do caso”, remetendo para a importância do transporte de encomendas no desenvolvimento da indústria. “Sem este serviço bem e rapidamente feito, é impossível que as nossas indústrias progridam”, sustenta.
Logo na edição seguinte, de 23 de abril, o autor volta a ocupar grande parte da primeira página do jornal para revelar que se “consta” que a associação tomara “a sério” o artigo anterior e garantira que a situação das encomendas teria então uma “solução condigna”.
Há, na primeira edição de abril de 1922, um texto de Manoel Alves Martins Junior, de Cucujães, que contesta o referido em edições anteriores: “não há motivo para afirmar-se que a instrução em Cucujães está confiada a 9 professores”, lê-se no artigo onde é dito também que das 931 crianças matriculadas apenas 256 frequentam com regularidade a escola. “Irrisório, de facto, o número, mas o mal é geral”, salienta.
O Presidente da Junta de Freguesia de S. João da Madeira, António Ribeiro Leite da Silva, torna público que haverá “arrematação do lanço de estrada, do lado ocidental da Capela de Santo António” e que se recebem “propostas, em carta fechada, que só serão abertas no dia da arremetação em sessão pública”.
Em 1922, quase tudo ia parar ao jornal, servindo de registo sobre o desenvolvimento da comunidade sanjoanense e dos arredores. Era dada nota de quem se casava, de quem era pedida em casamento, de quem estava doente, de quem viajava, de quem se batizava e até de quem se suicidava.
N’O Regional, há 100 anos, era assim.