Há 100 anos n' O Regional...

Há 100 anos n' O Regional...

• Favoritos: 64


Os sanjoanenses ficaram envaidecidos com o resultado dos festejos, desde as atuações das bandas até à iluminação e ao fogo de artifício, passando, claro, pela procissão.

As Festas Sebastianas tiveram, como aliás seria de esperar, grande destaque na capa d’O Regional.
Os sanjoanenses ficaram envaidecidos com o resultado dos festejos, desde as atuações das bandas até à iluminação e ao fogo de artifício, passando, claro, pela procissão.
A iluminação “à moda do Minho, desde o adro até à capela, prolongando pela Avenida das Corgas” era “deslumbrante” e não se podia “desejar melhor”.
Havia, de acordo com a reportagem da época, publicada no jornal, “milhares e milhares de forasteiros”, assim como “fiéis de todas as classes sociais”.
“Nunca se fez uma procissão tão rica, e a muitas pessoas de fora de S. João da Madeira ouvimos dizer que era a mais sumptuosa e imponente que se fazia por todas estas terras circunvizinhas”, pode ler-se ainda na primeira edição de setembro de 1922.
Foram ainda angariados donativos para o hospital e lembrado o papel impulsionador do benemérito.
“Quem se lembraria hoje de Francisco Ribeiro, se em vez de nos legar um hospital, verdadeiro poema de amor e bondade, ele tivesse deixado a sua fortuna a parentes ou amigos?”
Esta edição conta ainda com as comunicações de dissolução da sociedade de Francisco de Abreu e Sousa e Manoel Soares de Barros, e da constituição da sociedade por quotas de Francisco de Abreu e Sousa.
“O objeto desta sociedade é o comércio de miudezas e artigos de chapelaria e quaisquer outros negócios que lhe convier”, sustenta a comunicação do notário Francisco Ferreira de Andrade.
Na edição de 24 de setembro, é publicada uma mensagem da Mesa da Santa Casa da Misericórdia, sendo, uma vez mais, frisada a solidariedade da população de S. João da Madeira e dos sanjoanenses espalhados pelo mundo, pelas suas contribuições para a construção do hospital.
“Ninguém mais terá o direito de duvidar dos belos sentimentos do povo sanjoanense no campo do bemfazer” e, assim, vão “os infelizes ter, dentro em pouco, um hospital onde poderão ser socorridos nas suas enfermidades”, escreve O.J.
A Mesa da Santa Casa da Misericórdia fazia assim contas e apelos.
Por um lado, contas às despesas, bem como aos custos de colocar em funcionamento uma casa, recebida por inventário, e “destinada a hospital, completamente desprovida de todos os arranjos indispensáveis ao fim a que se destina”.
Por outro lado, apelos, por exemplo, à benemérita colónia sanjoanense no Rio de Janeiro, “a quem, indubitavelmente, muito interessará o progresso desta bela instituição de assistência”.
A segunda edição de setembro, dá ainda nota dos melhoramentos no Hotel Central, que passou por “radicais transformações”, passando a apresentar-se “luxuosamente decorado e sobretudo com um mais esmerado – se tal é possível – serviço de mesa”.
Na mesma edição é ainda noticiado – registe-se que não havia, na altura, um código deontológico destinado ao jornalismo, nem havia a profissionalização que hoje conhecemos do setor — um suicídio, com a chocante publicação, nas páginas do jornal, do nome da pessoa em causa, acrescentando-se outras informações, designadamente profissionais. Ora, a causa é remetida para um “desarranjo mental” e para a preocupação de que seria olhado com desconfiança por acharem que ainda não se teria curado.
Conforme aborda a jornalista Catarina Gomes, no livro ‘Coisas de Loucos’, nesta altura ainda não havia “psicofármacos modernos”, que só chegariam na década 60. Assim, as instituições reconheciam a sua “impotência terapêutica”.
Ora, tendo esta pessoa estado internada no Conde Ferreira, no Porto, terá, portanto, regressado com a mesma doença mental (a ser uma doença mental, já que nestes anos era também comum confundir-se com doença mental tudo o que fosse diferente; dos traços de personalidade, à orientação sexual, às formas de ver e pensar o mundo). Ademais, em 1922, não existiam as redes de apoio que hoje podemos verificar, sejam os próprios avanços da psicologia e psiquiatria, sejam as linhas como a SOS Voz Amiga (213 544 545; 912 802 669; 963 524 660).
N’O Regional, há 100 anos, era assim.

 

64 Recomendações
175 visualizações
bookmark icon