A causa animal continua a merecer a atenção da Câmara Municipal de S. João da Madeira, mas há munícipes que exigem mais ação.
A câmara prepara-se para implementar uma resposta para colónias de gatos na cidade, mas há ativistas sanjoanenses que acusam a autarquia de apenas anunciar as campanhas nas redes sociais.
Há uma petição online, e uma semelhante será levada a Assembleia Municipal, pela promoção do bem-estar animal na cidade e que contava, na terça-feira, dia 19, com 313 assinaturas. Uma das munícipes que assina a petição é Ana Couto, que salientou alimentar uma colónia na Avenida do Brasil e que “é um drama” alimentar gatos de rua, pois já teve “de correr com cães” que ocuparam o espaço dos gatos, sujeitando-se “a ser mordida”.
Contactada por ‘O Regional’, a Câmara de S. João da Madeira informou que se prepara para lançar um programa CED — Captura, Esterilização, Devolução, uma das exigências da petição.
Segundo a autarquia, o programa “terá início logo que estejam instaladas, previsivelmente neste mês de janeiro, as primeiras estruturas para colónia de gatos a disponibilizar no concelho, que se localizarão na Avenida do Brasil, junto à zona desportiva”.
Mas há outras questões no quadro da causa animal. A munícipe Ana Couto acusa a autarquia de não lhe dar respostas a perguntas “já colocadas por escrito”.
Apesar de a Câmara Municipal ter lançado uma campanha de sensibilização para adoção — outra das exigências da petição — a munícipe considera que as medidas da autarquia passam sobretudo por “anunciar nas redes sociais”. “As campanhas que fazem são anunciadas, mas, depois, não se concretiza nada”, referiu, em declarações a ‘O Regional’.
Questionada pelo nosso jornal, a autarquia, indicando que as perguntas da munícipe serão “oportunamente respondidas” e agradecendo-lhe “o interesse pelas questões da cidade e a dedicação voluntária” à causa animal, relembrou que o presidente e o vice-presidente têm-se reunido com Ana Couto e que os seus contributos têm sido tidos em conta, sendo exemplo a adoção dos gatos Sanjo e Oliva pelo gabinete de vereação e a criação do programa de recolha de lancetas.
Quanto à campanha de adoção, que foi lançada em dezembro, não foi possível à autarquia apresentar dados “que permitam aferir o seu impacto em termos numéricos”. O mesmo não sucede no caso do programa de apoio à esterilização, cuja execução que Ana Couto coloca igualmente em causa.
“Põem uma campanha de esterilização de animais de companhia para pessoas carenciadas e quantos animais é que foram esterilizados? Perguntei várias vezes em assembleia”, sublinhou Ana Couto, acrescentando que também foi feita uma reclamação à Presidente da Assembleia Municipal, solicitando “respostas concretas”.
Sobre o programa de apoio à esterilização de cães e gatos, que abrange os animais de pessoas e famílias carenciadas, a munícipe denuncia ainda que foi “com uma pessoa carenciada no dia 8 de outubro fazer a inscrição, até hoje a pessoa não teve resposta”. No entanto, a Câmara Municipal disse, sobre essa inscrição, que “de acordo com os serviços, a mesma não reunia os critérios constantes do regulamento, tendo sido a requerente notificada dessa decisão”. A autarquia esclareceu o nosso jornal que se registaram, até ao momento, “dois pedidos que satisfaziam as condições regulamentares, sendo que uma dessas pessoas, entretanto, desistiu”.
Outro ponto da petição é a criação de um gatil, em S. João da Madeira, para acolher gatos recolhidos nas colónias. “É muito grave porque temos as casas cheias de gatinhos de rua, primeiro não fazem a esterilização e a associação não tem sítio onde colocar os gatinhos”, indicou Ana Couto, questionando se a autarquia tem as famílias de acolhimento referenciadas e sabe quantos animais têm.
Sobre este assunto, a câmara “através da colaboração direta com a ANI S. João” tem “conhecimento destas famílias de acolhimento, sendo o processo gerido por essa associação de proteção dos animais”, segundo disse a autarquia ao nosso jornal.
Ana Couto encontra-se cética em relação ao já anunciado gatil para o canil intermunicipal, localizado em Ossela (Oliveira de Azeméis), considerando que “o canil intermunicipal não vai ter gatil nenhum”.
Por sua vez, a câmara sublinhou que as medidas direcionadas aos animais errantes têm sido implementadas e definidas a nível intermunicipal, no quadro da Associação de Municípios das Terras de Santa Maria, por a problemática ser transversal, já que os animais circulam pelos concelhos. E deu nota de que, depois da obra do parque de matilhas, será reabilitado um armazém para animais perigosos e de que “no âmbito do contrato-programa estabelecido com a Direção-Geral das Autarquias Locais, irá também dar-se início ao lançamento da empreitada da construção de mais 8 celas”, bem como “da construção de um novo edifício destinado às intervenções de esterilização e instalação de Gatil, por forma a serem criadas as condições adequadas para a realização de cirurgias e dar-se resposta aos inúmeros casos de gatos errantes”.
Uma das medidas no quadro da causa animal e recentemente noticiada foi a nomeação de Ângela Quaresma para provedora dos animais. A sanjonense Ana Couto vê com bons olhos a implementação deste cargo de provedora, cuja nomeação será discutida na assembleia municipal do próximo dia 28, conforme adiantou a autarquia. “É espetacular o provedor”, tecendo mais uma crítica à câmara, referindo que “até tinha trabalhado com a ANI no regulamento, mas o município não aproveitou uma linha de qualquer sugestão”.
“Nós achamos muito bem, mas ela tem de tomar posse e depois deixarem-na fazer o seu trabalho, e, nas designações do trabalho que ela vai fazer, tudo vai depender do senhor presidente”, reforçou.
Segundo os dados da Câmara Municipal, nos últimos anos, foram esterilizados no canil intermunicipal da Associação de Munícipios das Terras de Santa Maria 1644 animais, entre novembro de 2017 e dezembro de 2020, sendo 295 em 2018; 391 em 2019 e 904 em 2020. Além disso, nestes três anos registaram-se 840 adoções.