Um ano depois do início da pandemia da covid-19, os rostos dos idosos sanjoanenses continuam escondidos pelas máscaras a que já todos se habituaram. 'O Regional' passou pelo Centro de Saúde e verificou o espírito de luta das pessoas.
Um ano depois do início da pandemia da covid-19, os rostos dos idosos sanjoanenses continuam escondidos pelas máscaras a que já todos se habituaram. Os olhares não encobrem a ansiedade e a vontade de continuarem longe de um vírus que os tem obrigado a ficar fechados em casa. ‘O Regional’ passou, na última semana, pelo Centro de Saúde, local onde decorria ainda a vacinação contra a covid-19, e verificou o grande espírito de luta destas pessoas que, apesar da idade, querem muito continuar a viver e esperam que toda esta “tragédia” que o mundo vive possa “transformar” o ser humano em “melhores pessoas”.
Manuela Teixeira tem 93 anos. “Já deveria ter sido há mais tempo, para não andarmos nestas aflições. Nós já somos velhotes, mas se a vacina nos permite durar mais um bocadinho será maravilhoso”, referiu a ‘O Regional’. Nunca hesitou nem teve dúvidas de que queria ser vacinada. “Se é para nosso bem, se os médicos são vacinados, por que razão duvidar? Isto não custa nada e, depois da segunda dose, que já está agendada para março, fico muito mais descansada”.
Manuela lembra que há meses que se sente “prisioneira” dentro da sua própria casa. “Até parece que cometi um crime e não posso sair, estar com a família, como queria. Estou muito cansada com tudo isto”.
David Silva é doente de risco e foi vacinado no último dia 19, durante a tarde. Relativamente à coordenação da vacinação, considera que a mesma está a ser feita “tranquilamente, não nos cruzamos com outras pessoas e estamos todos muito bem protegidos”. Quanto à vacinação, “nunca pensei que fosse chamado tão rápido. Agora desejo vivamente que esta vacina chegue a todos os portugueses rapidamente”.
Este sanjoanense não escondeu a satisfação com a chegada deste momento. “Para mim é já um acreditar naquilo que pode começar a ser o fim de muitos dias de ansiedade que, infelizmente, não sabemos quando tudo vai acabar”. Sem medo de agulhas, recorda o ano “stressante” que tem vivido e o que a covid-19 mudou na vida. “Depois do verão, começámos a acreditar que tudo estava a acabar e hoje voltamos a estar confinados em casa. Este vírus não escolheu ricos nem pobres. Estamos saturados, cansados desta fadiga que nos está a deixar marcas negativas, a todos os níveis”, garante.
A vacinação contra a covid-19, administrada aos primeiros utentes referenciados pelas unidades de saúde familiares do Agrupamento de Centros de Saúde Aveiro-Norte, que engloba as estruturas de S. João da Madeira, Oliveira de Azeméis e Vale de Cambra (ACES Aveiro Norte), arrancou dia 15.
Maria Celeste Costa, utente do ACES, demonstra o agrado por ter sido já contactada pelo seu médico de família, que a questionou se queria ou não ser vacinada. Aos 80 anos, aguarda apenas receber uma mensagem no telemóvel, anunciando o dia e hora da toma da vacina. Maria Costa explicou a ‘O Regional’ que foi “contactada pelo Centro de Saúde, que queriam confirmar se os meus dados estavam atualizados na minha ficha, nomeadamente o número de telemóvel. Assim, aguardarei para que enviem a mensagem para que, desta forma, possa ser vacinada”.
“Já sou velhota, mas quero continuar a viver”
Aos 89 anos, Maria diz já não pensar muito no vírus. “Diga-me lá qual era a necessidade na minha idade de fugir a isto? Já sou velhota, mas quero continuar a viver”, e aquilo que mais deseja nesta altura é “matar este vírus maldito que não sabemos onde está e por onde anda, e que nos tem tirado anos de vida”. Dificilmente se ausenta de casa. “Tenho já muita dificuldade em andar”. Quando foi contactada para ser vacinada não teve dúvidas. “Se é para meu bem, por que não?”.
Natural de Oliveira de Azeméis, lamentou que este vírus tivesse mudado o mundo, e que tenha remetido a sociedade para realidades nunca pensadas. “Sabe o que é não se despedir de um familiar que morreu? Ver pessoas novas e amigos nossos morrerem tão rapidamente?”, reforçando que a vacina que agora também chega aos idosos começa a ser uma “esperança”.
“Quero que esta vacina chegue rapidamente a toda a gente”
António Soares, residente em S. João da Madeira, era outro utente que aguardava ansiosamente a chamada da enfermeira para ser vacinado. “Sou uma pessoa nova. Tenho 63 anos, mas tenho problemas cardíacos e sou um doente de risco”. Apesar da vacina, alerta para a importância da população “não facilitar e pensar que já tudo passou”. Nunca escondeu, durante a conversa com ‘O Regional’, a ansiedade para que chegasse este dia. “Quero que esta vacina chegue rapidamente a toda a gente, pois já não aguentamos mais esta tortura do vírus, restrições, ausência da família e confinamento”.
Lembrou que familiares seus testaram positivo à covid-19, “mas, felizmente, não necessitaram de internamento”. Depois de “tudo passar”, espera que as pessoas possam refletir no que vivemos e que “esta tragédia nos transforme em melhores pessoas”, rematou.