Comemorado anualmente a 1 de outubro, o dia internacional da pessoa idosa tem como objetivo sensibilizar a sociedade para as questões do envelhecimento. 'O Regional' “saiu à rua” para conversar um pouco com os velhos.
Aldina Silva tem 74 anos, vive em Cucujães e considera que tem boas condições de habitabilidade. “Não vivo num lar, vivo bem sozinha”, afirmou, acrescentando que o seu marido faleceu há 24 anos e desde esse acontecimento, esteve, “quase sempre”, por sua conta. “Ainda estive uns meses com um senhor que me apareceu”, inteirou, todavia “não correu bem”. Depois dessa experiência “negativa” escolheu estar sozinha, em sua casa, uma vez que quer “paz e sossego”. Revela-se fã dos transportes públicos, pois sente-se “mais segura”, e garante ser saudável conseguindo “correr, pular e dançar”. Confidenciou não ter nada a apontar, de forma geral, à cidade e, principalmente relativamente ao centro de saúde, uma vez que tem “um médico maravilhoso” e é sempre “bem atendida”.
Com o semblante um pouco mais carregado contou não possuir reforma, uma vez que teve “de tomar conta dos três filhos”, até tarde, pois não podia comportar o preço de uma creche. “Quando eles cresceram comecei a fazer umas horinhas, mas também não podia descontar, senão, não levava nada para casa”, explicou. Atualmente, recebe a “pensão de viuvez”, mas também tem “apoio para a renda”, duas ajudas pelas quais expressou a sua maior gratidão. “Agradeço muito a este governo e à Segurança Social”. Terminou o seu testemunho salientando que sempre trabalhou, apesar de nunca ter descontado, e que ainda hoje faz “a lida” da sua casa.
De seguida encontramos Rosalinda Almeida (80 anos). O que mais a incomoda é “o lixo” nas ruas de S. João da Madeira. Para a octogenária, natural da cidade, e que ainda aqui vive, o TUS é uma grande mais valia, uma vez que já não consegue andar “como desejaria”, devido a um problema nos “joelhos”, por isso aproveita “as viagens”. “Os passeios infelizmente estão um pouco maus”, notou, porque sofreu uma queda “há uns anos” e, apesar de ter “feito fisioterapia”, tem alguma dificuldade em locomover-se. “Há dias, a vir dali do campo de futebol para baixo, em frente à florista, tropecei no passeio, num paralelo, porque tenho dificuldade em levantar os pés, e tive de me agarrar a uma cadeira do café, foi o que valeu”, relatou. Também relativamente à saúde revelou ter mais alguns problemas, não muito sérios, associados à sua idade. Recordou que dirigiu com o marido um snack-bar, ao longo de 30 anos, e, antes disso, ajudava os seus pais na “mercearia da família”. Após relatar estes pormenores lembrou, saudosista, que o companheiro era uma grande ajuda para si nesse negócio.
“Já me perguntaram se eu tinha estudos, mas não o que tenho é a cabeça fresca”
A maior preocupação de Manuel Pinho, (87 anos) é “ver o que se passa na cidade de S. João da Madeira”, e referir o que está bem e menos bem nas “reuniões de câmara”, para o “bem da população” e para o seu “conforto”. Vive com a sua esposa e é “muito feliz”, tal como fez questão de frisar. Devido ao facto de ser um munícipe atento, e que circula diariamente pela cidade, já notou que existem alguns “buracos na estrada”, mas considera que “é muito trabalho para fazer para pouco pessoal”. Alertou-nos igualmente para outra situação preocupante que está a ocorrer atualmente, e à qual já assistiu, “pessoal que depois das 22 horas vai para as casas isoladas bater à porta, e chatear as pessoas”, fazendo-se passar por “operadores da EDP e de outras empresas” para “sacarem dinheiro”, contou, acrescentando que também já lhe fizeram chegar mais informações sobre casos semelhantes. No que concerne à saúde revelou que será operado em breve para retirar uma “pedra na bexiga”, e orgulhoso expôs que, há um ano, recebeu uma carta onde o “diretor do Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga e médicos e enfermeiros”, parabenizando-o pelas intervenções relativas à saúde nas reuniões de Câmara. O sénior quis também notar a “boa jardinagem” efetuada junto ao cemitério, uma vez que nos aproximamos do dia “1 de novembro”, deixando agradecimentos a Jorge Vultos Sequeira, Presidente da Câmara, Padre Álvaro e o Comandante da Polícia pelo “bom trabalho desempenhado”. Manuel Pinho é natural de Vale de Cambra, de onde saiu “há 66 anos”, esteve no Brasil e desempenha um papel de cidadania ativo através das intervenções quinzenais nas reuniões do executivo sanjoanense. Aos que lhe perguntam se tem “estudos”, responde simplesmente que “não, apenas uma cabeça fresca”.
Maria Alves (75 anos) vive “no Lar”, situação que lhe desagrada uma vez que gostaria mais de estar em sua casa. “O que me vale é que eu saio para dar umas voltinhas”, declarou. Muito embora receba na estrutura residencial cuidados como a alimentação, e outras ajudas, garantiu que sofre de assédio moral por parte dos restantes utentes, situação que lhe causa revolta e ansiedade. “Chamam-me nomes dizem que eu sou uma ladra e que vou aos quartos roubar, e isso é mentira”, afirmou revoltada. A septuagenária já teve Covid-19 “três vezes” e não sofre de mais nenhuma doença, trabalhou muitos anos na “fábrica dos guarda chuvas”, e, no seu ponto de vista, o que falta em Portugal é um “auxílio domiciliário” para a terceira idade, contrariamente à institucionalização contínua dos idosos.
Durante as próximas três décadas está previsto que o número de pessoas idosas em todo o mundo mais que duplique, atingindo mais de 1,5 mil milhões, em 2050. Os estudos indicam que é nos países em desenvolvimento que o crescimento desta franja da população será mais rápido, onde o número de pessoas com mais de 65 anos, ou mais, poderá aumentar de 37 milhões, em 2019, para 120 milhões, em 2050. Perante esta conjetura, medidas têm de ser tomadas pelos estados para promover o envelhecimento saudável e melhorar a vida dos seniores, suas famílias e comunidades. Estas mudanças essenciais não apenas se traduzem em ações, mas também na forma como encaramos e pensamos a idade e o envelhecimento. Muitos idosos em todo o mundo ainda não têm acesso aos recursos básicos para terem uma vida com dignidade, e enfrentam muitas barreiras que impedem a sua plena participação na sociedade.
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