São João da Madeira foi um dos centros de revenda de droga de uma alegada rede criminosa que operava entre os distritos de Aveiro e Porto, desmantelada numa megaoperação da GNR. O principal suspeito, agora a ser julgado, nega liderar a organização, mas admite que traficava por conta própria.
O principal suspeito de liderar uma rede de tráfico de droga que operava nos distritos de Aveiro e Porto negou, na última quarta-feira, no Tribunal da Feira, a existência de uma organização criminosa. Admitiu, contudo, que traficava droga por conta própria. Um edifício em São João da Madeira era, segundo a acusação, um dos locais mais relevantes na revenda de estupefacientes.
De acordo com o Ministério Público, e segundo notícia avançada pelo Jornal de Notícias (JN), os arguidos faziam parte de uma estrutura organizada e hierarquizada, dedicada ao tráfico de cocaína, heroína e canábis.
Atuavam de forma coordenada, com o objetivo de lucrar com a venda destas substâncias a terceiros.
A droga era comprada nos bairros do Pinheiro Torres e da Pasteleira, no Porto, sendo depois revendida em vários locais, nomeadamente em São João da Madeira, a cidade mais pequena do país. Aqui, um edifício era frequentemente procurado por arguidos e consumidores para aquisição dos estupefacientes.
Um apartamento localizado na freguesia de Arrifana, em Santa Maria da Feira, funcionaria, segundo a acusação, como espaço para armazenar, preparar e vender a droga. Foram ainda identificadas vendas em Oliveira de Azeméis e Vale de Cambra.
Ainda de acordo com a notícia do JN, a rede foi desmantelada numa operação policial de grande dimensão, levada a cabo pela GNR em maio de 2024, nos distritos de Aveiro e do Porto. Durante a operação, foram cumpridos 28 mandados de busca, dos quais 20 em residências e oito em veículos.
O processo envolve 14 arguidos — 11 homens e três mulheres — acusados de tráfico de estupefacientes agravado e associação criminosa. Dois dos acusados respondem ainda por posse de armas proibidas e um por condução sem habilitação legal.
O arguido apontado como líder do grupo negou, na última semana, ser responsável por qualquer rede organizada, embora tenha confirmado ao tribunal parte das acusações relativas à venda de droga.
Durante o julgamento, admitiu que, no primeiro interrogatório judicial, declarou ser o cabecilha e que não consumia droga, mas disse agora que essa confissão foi feita com o objetivo de conseguir estar presente no nascimento do seu filho. “Ia ser pai e queria ir embora”, justificou.
Nas declarações prestadas na última semana, afirmou que comprava heroína e cocaína por cinco euros e vendia por dez, chegando a alcançar entre 400 e 500 euros por dia em vendas. Disse que o fazia para sustentar o vício em drogas e em jogo.
As suas declarações foram, no entanto, contrariadas por outro arguido que, pedindo para falar na ausência dos restantes por receio de represálias, afirmou ter sido forçado a vender droga por ordens do alegado cabecilha. “Ninguém aqui vendia por conta própria. O que nós vendíamos era para ele”, referiu ainda este diário. O mesmo arguido acrescentou que era ameaçado para guardar droga gratuitamente na sua casa.