Carlos Coelho: “Penso que devemos saber sair, concluí o meu percurso e fiz o que tinha a fazer”
Após 25 anos de dedicação à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de S. João da Madeira, Carlos Coelho encerra um capítulo significativo na sua vida. O presidente da AHBSJM conversou com o 'O Regional’ sobre o cargo que desempenhou.
Jornal ‘O Regional’: Após 60 anos ao serviço de instituições sanjoanenses e causas humanitárias, nos quais 25 anos foram dedicados aos Bombeiros Voluntários de S. João da Madeira, qual o balanço que faz destes tempos?
Carlos Coelho: Começamos as nossas responsabilidades no início do ano 1999, durante o mandato de 1999/2000, e agora encerramos este compromisso no término do mandato de 2023, totalizando um período de 25 anos e nove mandatos, ou seja uma vida! Atualmente, é notável chegar ao quartel e testemunhar a competência dos bombeiros, muitos dos quais nem teriam nascido quando iniciamos a nossa jornada.
O objetivo que delineamos desde o início do nosso compromisso foi composto, em primeiro lugar, pela defesa da nobre causa dos Bombeiros Voluntários e, em segundo lugar, pela dedicação aos cidadãos sanjoanenses de modo geral e ao socorro em situações particulares.
Nesse contexto, à época, havia uma intensa crispação e uma notável intolerância entre os bombeiros em S. João da Madeira. A nossa missão foi estabelecida com o propósito de trazer tranquilidade e harmonia, um desafio que foi prontamente atingido após algum tempo. A partir desse ponto, o nosso caminho incluiu períodos de relativa facilidade, bem como outros de dificuldade considerável e extrema, mas com diligência e serenidade, sempre alcançamos os objetivos a que nos propusemos. Importando salientar que tal conquista não foi mérito exclusivo da minha pessoa, mas sim de toda uma equipa que me acompanhou ao longo destes 25 anos. Alguns dos quais, infelizmente, já não estão entre nós, mas que partilharam o mesmo compromisso e o mesmo espírito de sacrifício que orientaram as nossas ações em prol da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários, do socorro e dos cidadãos de S. João da Madeira.
De acordo com aquilo a que se referiu ser o seu último ato público no Dia Municipal do Bombeiro, é verdade que encerra este capítulo com o sentimento “de dedicação e dever cumprido”?
Sim, acima de tudo é importante para mim e para os que me acompanham, sairmos com tranquilidade e a certeza de dever cumprido, de termos conseguido atingir todos os objetivos a que nos propusemos ao longo destes anos. Certamente, haverá quem argumente que poderíamos ter feito mais ou de maneira diferente, mas as escolhas que fizemos foram sempre baseadas na nossa consciência e na procura pelo melhor caminho para o engrandecimento da Associação Humanitária do Corpo de Bombeiros.
"Será sempre fácil criticar quem faça, será impossível criticar quem não faça nada"
O que diria que o marcou mais ao longo destes anos de serviço em prol da AHBSJM?
Acima de tudo, o que mais me marcou foi a empatia que desenvolvi com os homens e mulheres bombeiros e ter a verdadeira noção do sentido de responsabilidade e de entrega que estes homens e estas mulheres têm, que o cidadão comum não faz a mínima ideia. Quando alguém necessita de assistência dos bombeiros, espera que eles estejam prontos para ajudar em questão de minutos, mas raramente paramos para considerar o que está por detrás disso.
Há algum tempo, um antigo sanjoanense comentou comigo que, no passado, S. João da Madeira pertencia aos bairristas, enquanto agora é dos que lamentam aquilo que não temos quando na verdade, temos essas coisas mas as pessoas não dão valor. Apenas dão valor quando as perdem e eu concordo um bocado com isso. Os Bombeiros Voluntários de S. João da Madeira são amplamente reconhecidos a nível distrital e nacional como uma das corporações mais eficientes e competentes. No entanto, é lamentável que a maioria das pessoas na nossa comunidade não perceba a qualidade do serviço que prestamos. Às vezes, vemos relatos na televisão de bombeiros que demoram até meia hora ou mais para chegar a uma ocorrência. Aqui, no município, qualquer demora superior a quatro ou cinco minutos é considerada excessiva. Muitas vezes, as pessoas esquecem-se que é necessário tempo para nos equiparmos e deslocarmos para atender a um episódio.
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