Sociedade

Auxiliares de Saúde denunciam casos de “assédio moral e intimidação”

• Favoritos: 19


O assunto continua na ordem do dia e poderá estar longe de uma resolução. Aproximadamente, 70 queixas já foram entregues à ACT contra a administração e chefias da ULS EDV, com sede no Hospital São Sebastião, em Santa Maria da Feira, segundo o STTS.
Como 'O Regional' deu conta na última edição, auxiliares de saúde e esta força sindical alertavam para “alegadas práticas de assédio moral e pressão excessiva sobre os Técnicos Auxiliares de Saúde”.
Com medo de represálias, algumas trabalhadoras reuniram-se com o jornal 'O Regional', na última sexta-feira, pedindo reserva de identidade. Estas funcionárias referem estar a ser “pressionadas” para desempenhar tarefas que não correspondem à sua categoria profissional, como limpezas de casas de banho, corredores exteriores e copas.
“Sinto-me completamente explorada. O hospital pressiona-nos, diariamente, para que façamos as nossas tarefas, mas também outras que não nos competem. Isto é uma angústia constante. Já não aguentamos mais. Até nomes nos chamam”, afirmou uma das funcionárias, que diz ser porta-voz de outros técnicos auxiliares de saúde, que também “estão a sofrer em silêncio”.
A ULS EDV, que gere um universo de aproximadamente 300.000 utentes, diz manter a informação adiantada na última semana a 'O Regional', assumindo que “mantém um diálogo permanente com as equipas profissionais, e mesmo com as estruturas sindicais, assegurando a prestação de cuidados de saúde com qualidade e segurança e em pleno respeito pela Lei”. Acrescenta ainda que, da parte da ULS EDV, “mantém-se sempre a disponibilidade para o diálogo, sendo que é importante referir que refutamos as acusações que nos são feitas, com particular ênfase nas que respeitam à existência de um clima de intimidação ou de assédio moral, práticas que repudiamos e somos os primeiros a condenar”, concluem.
Uma informação desmentida, no entanto, pelas trabalhadoras. “É pura mentira. Não há diálogo nenhum. Houve, sim, uma tentativa de intimidar outros colegas, e, de certa forma, até conseguiram, mas só em alguns casos, porque as pessoas têm contas para pagar e sentem a pressão do medo. A chefe do nosso serviço continua a dizer-nos que não tem respostas para nós. Isto é revoltante, quando dizem que há diálogo”.

Sindicato diz que há mais de 70 queixas na ACT

O número de queixas, segundo a sindicalista Catarina Magalhães, poderá ultrapassar as 70, e as “denúncias continuam a aumentar”. Esta responsável explica que a situação não se limita ao Hospital de S. Sebastião, em Santa Maria da Feira, mas a “todas” as unidades supervisionadas pela ULS, que engloba os hospitais de S. João da Madeira, Oliveira de Azeméis, Ovar, Arouca e Vale de Cambra.
Neste momento, o sindicato refere que aguarda que o processo da ACT termine. “Já tivemos a confirmação de que a ACT esteve no Hospital S. Sebastião, pela segunda vez, com inspetores”. Catarina Magalhães acrescenta também que o sindicato já reuniu com a Secretária de Estado da Gestão da Saúde. “Ficou deveras surpreendida com tudo aquilo que se está a passar”. Na próxima segunda-feira, dia 17, o Conselho de Administração vai reunir com representantes deste sindicato. “Finalmente, vamos tentar chegar a algum consenso, porque são práticas que não podem continuar a ser exercidas num hospital”, enfatiza.
A nossa reportagem questionou o gabinete de Cristina Vaz Tomé relativamente a este assunto, que remeteu “qualquer esclarecimento” para a Direção Executiva do SNS. Até ao momento, esta entidade não respondeu às questões enviadas por 'O Regional'.

“Já apresentei três queixas formais. Peço ajuda”

Uma outra trabalhadora revela que o conflito se intensificou desde que foi reconhecida, por lei, a nova carreira profissional dos técnicos auxiliares de saúde. Apesar de terem passado da categoria de assistentes operacionais para técnicos auxiliares de saúde, as trabalhadoras afirmam que continuam a desempenhar as mesmas funções que exerciam anteriormente, o que consideram ilegal. “Um decreto-lei nunca pode ser alterado, mas foi isso que fizeram. Eu já apresentei três queixas formais na ACT. Pedi ajuda. Peço ajuda. Sinto-me desesperada, as colegas estão desesperadas. Precisamos muito de ajuda. Ninguém consegue trabalhar assim. Há um elevado número de baixas médicas por exaustão psicológica”, desabafou.

Ambiente de intimidação contante

Estas profissionais denunciam ainda um “ambiente de intimidação constante”, com ameaças de processos disciplinares e transferências forçadas para outras unidades hospitalares. “Há chantagem neste hospital: ou continuamos a exercer as mesmas funções ou somos transferidos para outra unidade hospitalar. Foi isso que me aconteceu a mim, fui enviada para o Hospital de Ovar. Obviamente, foi uma forma de retaliação, para espalhar o pânico e o medo entre os restantes colegas. O ambiente vivido, principalmente no Hospital da Feira, é de medo”, denunciou outra funcionária.
A mesma funcionária diz a 'O Regional' que tentou reunir-se com o presidente do Conselho de Administração da ULSA. “Ele refuta todas as acusações e diz sempre que está aberto ao diálogo. Mas a verdade é que não está. O diálogo serve apenas como tentativa de manipulação dos colaboradores, e foi isso que aconteceu comigo”
A trabalhadora explica que não consegue exercer funções na Unidade de Saúde de Ovar, pois garante não ser compatível com a sua vida pessoal. “Com os horários que me impuseram, não consigo, por exemplo, deixar a minha filha, atempadamente, na escola e chegar a tempo a Ovar”. Segundo a trabalhadora, tudo terá começado há pouco mais de um mês.
O STTS reforça que a situação “exige uma resposta rápida e eficaz” por parte das organizações competentes, “a fim de assacar responsabilidades, restaurar a confiança” e, desta forma, “garantir um ambiente de trabalho saudável para todos os profissionais da ULS EDV. Além disso, é imprescindível que a trabalhadora seja imediatamente devolvida ao seu local de trabalho”.
Está agendada uma manifestação destes e de outros trabalhadores para o dia 25 de fevereiro, na entrada do Hospital São Sebastião.

19 Recomendações
127 visualizações
bookmark icon