Sociedade

Atual traçado ”impede a substituição de uma bitola por outra no mesmo local”

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O auditório do Museu da Chapelaria foi o local escolhido para uma conferência sobre o tema promovida pela Câmara de S. João da Madeira, a terceira iniciativa do género em poucos dias

Com a Linha do Vouga a passar ali bem perto, e numa zona em que se perspetiva uma futura nova estação, teve lugar um novo debate sobre o futuro dessa ferrovia que atravessa a região. O auditório do Museu da Chapelaria foi o local escolhido para uma conferência sobre o tema promovida pela Câmara de S. João da Madeira, a terceira iniciativa do género em poucos dias, depois daquelas que foram realizadas pela Associação de Municípios das Terras de Santa Maria, no Europarque, e do jornal “O Regional”, nos Paços da Cultura.
A grande novidade desta nova conferência - que decorreu no passado dia 22, quarta-feira, e teve como título “A Linha do Vale do Vouga – Que futuro?” - foi a participação de um representante da CP, o que não tinha acontecido nos anteriores debates, como assinalou o presidente da Câmara Municipal, no encerramento da sessão.
Jorge Vultos Sequeira referiu que, para além da discussão política nos órgãos autárquicos, “era fundamental” para o município promover uma abordagem “técnica, independente e, pela primeira vez no cômputo dos três debates, ter a visão da CP”. O edil considerou que a autarquia “cumpriu”, dessa forma, o objetivo que tinha de proporcionar à população “acesso direto a diversos pontos de vista” sobre qual o futuro para a Linha no Vouga, no quadro da consulta pública sobre o Plano Ferroviário Nacional, no qual está prevista uma verba de 100 milhões de euros para a modernização desta infraestrutura centenária.
Para além da novidade que constituiu a presença de Joaquim Guerra, vogal do Conselho de Administração da CP - Comboios de Portugal, a conferência contou com outros dois oradores que já haviam participado noutros momentos de debate: Nuno Freitas, sanjoanense que foi presidente da CP e que é um especialista em transportes e vias de comunicação, e Paulo Melo, diretor do departamento de tráfego e mobilidade da Infraestruturas de Portugal.
Os três concordaram que a Linha do Vouga precisa de investimento para ter futuro e que, concretizando-se a desejada e anunciada modernização, esta ferrovia será fundamental para a mobilidade na região. E também coincidiram na defesa da manutenção da bitola métrica da via, naquele que é o aspeto que tem gerado divergência nesta questão, pois dessa forma não será possível uma ligação direta à Linha do Norte em Espinho.
Na perspetiva dos intervenientes neste último debate, a transformação para bitola ibérica implicaria, na prática, a criação de uma nova linha, devido às alterações de traçado necessárias, com riscos de desvios significativos em relação aos locais atualmente atravessados pela infraestrutura e com custos muito superiores aos que estão previstos no Plano Ferroviário Nacional.
Para contraponto a esta posição faltou a visão de Alberto Aroso, outro especialista em Transportes e vias de comunicação, que tem sido uma das vozes defensoras da bitola ibérica. No início da conferência realizada no Museu da Chapelaria o público presente foi informado de que esse técnico, que esteve na conferência promovida pelo jornal “O Regional”, tinha declinado o convite para esta nova sessão.

A proposta da CP

Na sua intervenção, Joaquim Guerra trouxe a voz da CP pela primeira vez a este amplo debate em torno da Linha do Vouga, tendo reconhecido que o modelo de exploração atual desta ferrovia revela “muitos constrangimentos e limitações”, com velocidades “não competitivas” em termos comerciais, “baixos índices de pontualidade”, “muitos afrouxamentos”,  a “inexistência de sistema de bilhética”, várias estruturas “muito degradadas” e um “desajustamento das mesmas face à real necessidade das populações”.
Em face deste cenário repleto de problemas, aquele responsável apresentou algumas soluções possíveis propostas pela CP para toda a extensão da linha atual. Desde logo, a eletrificação e a “criação de novos locais de paragem”, alguns dos quais em S. João da Madeira, nomeadamente em Fundo Vila, na Oliva e zona industrial de Orreiro, mas também em áreas industriais de outros concelhos, como Santa Maria da Feira, Oliveira de Azeméis ou Albergaria-a-Velha.
Apontou também para a necessidade de correções do traçado, automatização e supressão de passagens de Nível, implementação de novos sistemas de sinalização e de comunicação, a reabilitação das dependências e sua envolvente, a extensão da infraestrutura da estação de Aveiro à praia da Barra e a ligação à Linha do Norte em Espinho.
Neste último ponto, defendeu que o acesso não deverá ser direto, por não obrigar à alteração da bitola métrica atual para bitola ibérica, o que representaria um “investimento avultado” – superior ao que está previsto no Plano Ferroviário Nacional –, além de obrigar ao encerramento da Linha do Vouga – com o risco de poder não voltar a abrir – , dada a necessidade de efetuar alterações profundas, pois o atual traçado da linha do Vouga, como afirmou Joaquim Guerra, ”impede a substituição de uma bitola por outra no mesmo local”.
Na sua apresentação, este responsável assumiu que a “CP está confortável” com a bitola (largura) atual da linha, lembrando que para essa situação há “investimento já aprovado”, com soluções que abrem “excelentes perspetivas de melhoria substancial do serviço”, em linha com “exemplos de outros países cuja manutenção da bitola métrica foi, é e será um sucesso”, como acontece em Espanha, com “cerca de 1.250 km”, incluindo “o turismo ferroviário com o emblemático Transcantábrico”.

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