As opiniões continuam a dividir-se. Se por um lado há cada vez mais escolas a proibir o uso de telemóveis no recinto escolar, para evitar que os alunos não sejam prisioneiros dos ecrãs, e há quem defenda a sua utilização.
O assunto não é novo é tem dado que falar nos últimos tempos, mas parece estar longe de um entendimento. Numa altura em que arranca mais um ano letivo, o Ministério da Educação (ME) enviou, na última sexta-feira, dia 13, às escolas um documento de cinco páginas, com recomendações que tinham sido já anunciadas dia 11 de setembro pelo ministro Fernando Alexandre, relativamente ao uso de telemóveis no interior das escolas. O ministro aconselha mesmo que as recomendações da tutela sejam cumpridas por toda a comunidade escolar.
No documento, que foi também enviado à comunicação social, o ME destaca a importância da regulamentação do uso de telemóveis, uma vez que “tem consequências que ultrapassam os muros escolares, porque visam moldar os comportamentos das crianças e jovens face a esses dispositivos”, pode ler-se. “A eficácia das medidas que as escolas vierem a implementar depende, portanto, da compreensão por parte de toda a comunidade educativa (diretores, professores e pessoal não-docente, alunos, famílias) dos três princípios que norteiam as recomendações do ME”, consta ainda no referido documento.
As recomendações da proibição do uso de telemóveis no 1.º e 2º ciclos e da utilização responsável no 3.º ciclo e ensino secundário não significam “um retrocesso”, esclarece o executivo.
Fernando Alexandre adianta também que estas recomendações vão vigorar durante este ano letivo, período esse que servirá de avaliação para o ME perceber qual “o impacto das diferentes medidas adotadas pelas comunidades escolares”. A informação que sair dessa avaliação vai ser determinante “para futuras orientações sobre o tema, nomeadamente para o ano letivo 2025/2026”.
Mas o documento conhecido na última semana também prevê algumas exceções, nomeadamente para os alunos cuja língua materna não seja o português e que apresentem muito baixo domínio da mesma e possam utilizar o smartphone como instrumento de tradução; alunos que, por razões de saúde, beneficiem comprovadamente de algumas funcionalidades do smartphone; e, ainda, o desenvolvimento de atividades com smartphone dentro da sala ou durante visitas de estudo, quando “expressamente indicado antecipadamente e por escrito” pelo docente, ficando o mesmo responsável e vigilante pela sua adequada utilização e pela garantia de equidade.
Os pais, por sua vez, não andam muito longe desta linha de pensamento do Governo, mas defendem que a proibição poderá “não resolver”.
Pais dizem que medida pode ter impacto positivo
Na opinião de Carla Pinto, o telemóvel não deve ser um “obstáculo ou mesmo intruso”, mas defende a necessidade de haver regras na sua utilização. “Entendo que proibir poderá nada resolver. Essas regras devem começar em casa com os pais, que têm um papel importantíssimo e fundamental na utilização do mesmo junto dos filhos”, garante esta mãe de dois filhos, que frequentam um dos três agrupamentos em S. João da Madeira.
Por seu turno, César e Mafalda justificam que as recomendações do Governo de proibir o uso e a entrada de telemóveis nas escolas, especialmente para os alunos do 1.º e 2.º ciclos, “parece uma medida coerente para a realidade atual. Nesses níveis de ensino, os alunos ainda estão a desenvolver competências importantes de concentração e interação social, e o telemóvel pode ser uma grande distração”, refere César Coriolano.
Relativamente aos dois filhos do casal, alunos do 2° ciclo, “ambos têm telemóvel, mas já estabelecemos limites em casa quanto ao uso, especialmente em situações escolares”, e explicam que as condições de uso se prendem em condições pontuais, como sair mais cedo, em caso de falta de professores ou de doença. “Entendemos que o uso pode ser prejudicial, especialmente no contexto social, e deixa de haver interação nos recreios”.
Assim, César e Mafalda defendem que as escolas “deveriam ter outros entretenimentos nomeadamente ping-pong ou jogos de tabuleiro. No geral, acho que a medida pode ter um impacto positivo, desde que seja aplicada com equilíbrio e diálogo entre escola e famílias”, assumem, acrescentando que, “conversamos sobre o assunto em casa, e eles entendem a importância de se focarem nas aulas e em atividades sociais presenciais”.
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