Sociedade

“Acho que a cidade não prestou a devida homenagem ao fundador da Oliva”

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Abel Simão trabalhou durante várias décadas na Oliva, onde recebeu formação profissional e pessoal. Ao longo dos anos, contribuiu para diversos trabalhos de investigação ligados à Oliva. Hoje, com 81 anos, lamenta que a cidade nunca tenha prestado a devida homenagem ao fundador da empresa. Nesta entrevista a ´O Regional´, alerta para o misterioso desaparecimento do documento oficial da fundação da Oliva, datado de 1925, que chegou a estar exposto na Biblioteca Municipal de S. João da Madeira — um episódio que, segundo afirma, nunca foi devidamente esclarecido.

 

Jornal O Regional – A metalúrgica Oliva assinala este ano cem anos desde a sua fundação. O que representa para si celebrar o centenário desta empresa onde trabalhou durante várias décadas?
Abel Simão – Acho que é formidável e uma grande satisfação para mim e para todos aqueles que lá trabalharam. Há muito para se escrever e dizer sobre esta empresa. Depois do trabalho de investigação que o Daniel Neto fez sobre a família do seu fundador, António José Pinto de Oliveira, a comemoração do centenário e a publicação de um livro sobre a vida da empresa, lá para fins de julho, são contributos importantes para a história da Oliva e, por consequência, de S. João da Madeira. Apesar de lá ter trabalhado muitos anos, na verdade não tinha grande conhecimento sobre a família do Sr. Oliveira, quem eram os seus elementos e o que faziam. Só conhecia os acionistas, porque era com eles que eu lidava mais.

E, para si, o que representa celebrar o centenário da Oliva? Muitas memórias?
Em termos pessoais, representa uma vida de aprendizagem, numa empresa que me formou a todos os níveis. E, quando se fala da Oliva, é sempre importante lembrar que, no panorama industrial português, foi a segunda maior empresa do país, durante várias décadas, não só do ponto de vista daquilo que lá se produzia, mas também do número de trabalhadores que teve ao seu serviço. Posso garantir que esse número chegou a ser de 3.363. É muito gratificante poder estar vivo e acompanhar a comemoração do centenário e reviver memórias que nunca se apagarão no nosso espírito. De todas elas, há uma que me marcou para o resto da vida. Quando tinha aí os meus 15 anos, andava a entregar papéis, era estafeta. O Sr. Oliveira, o nome maior da Oliva, estava numa reunião, na sala onde elas tinham lugar, que era enorme, com os acionistas todos. Ele virou-se para os acionistas e disse: “Meus senhores, um trabalhador satisfeito rende o dobro da produção.” Isto ficou-me gravado para sempre.

Há livros e muitas histórias. Catarina Moreira escreveu um livro que será apresentado em julho deste ano, que, segundo a investigadora, revela “histórias” ainda não contadas sobre a Oliva. O que acha que ainda se desconhece desta fábrica?
Por exemplo, isto que lhe estou a dizer. A figura do nome maior da Oliva, a gestão que fez da empresa, a sua relação com todos os trabalhadores e o que criou a pensar no bem-estar deles. Aquilo que provavelmente muitos não sabem é que a produção de tubos foi das coisas que mais contribuiu para o desenvolvimento da Oliva. Aconteceu numa altura em que as máquinas de costura tinham preenchido o mercado e a tendência era para um abrandamento da produção, nesta área. A diversificação, que está bem patente na impressionante variedade de produtos que a empresa produzia, foi um dos pontos fortes da Oliva. Estou curioso com o que vamos encontrar nesse livro.

Fale-me da relação do fundador António José Pinto de Oliveira para com os trabalhadores. Essa ligação poderá ter sido o segredo de muitos anos de sucesso da empresa?
Não tenho dúvidas de que a frase que ele dizia muitas vezes “um trabalhador satisfeito rende o dobro” era uma verdade irrefutável. Essa filosofia refletia-se nos prémios dados aos trabalhadores mais produtivos, sinalizados pelos chefes de setor, geralmente informados pelos encarregados. Havia prémios de produtividade, assiduidade e outros, atribuídos através da Fundação Oliveira Júnior.
Durante o período em que fui responsável por admissões, a Oliva confiava em mim para representar a empresa em tribunal. Quando um trabalhador não correspondia e era dispensado, não recebia os prémios previstos, apenas a indemnização. O estatuto era claro: os prémios só eram devidos enquanto mantivesse vínculo ativo. Muitos processos judiciais resultavam dessas queixas, normalmente no sindicato dos metalúrgicos ou na Feira. A maioria das ações girava em torno da questão: “Por que razão recebi só a indemnização e não os prémios?” Os juízes, conhecendo já o padrão, sabiam bem do que se tratava.

Mas havia bom ambiente?
Bom ambiente, claro. Mas numa empresa com mais de três mil trabalhadores, era inevitável que não acontecessem, pontualmente, pequenos problemas. Aconteceu, frequentemente, durante um período em que a PIDE – polícia política do antigo regime – estava mais ativa, haver uma espécie de ajuste de contas entre trabalhadores e chefes de produção, com denúncias infundadas. Era a exceção à regra.

“Quem casasse com alguém da Oliva recebia um prémio, e também havia apoio no próprio casamento”

Mas trabalhar nesta empresa com tantas regalias dava prestígio, é isso?
Trabalhar na Oliva dava muito prestígio, criavam-se famílias dentro da empresa e até se incentivava a isso. Quem casasse com alguém da Oliva recebia um prémio, e também havia apoio no próprio casamento. Os filhos desses casais beneficiavam de apoio escolar com material, como lápis e canetas, subsidiado pela Fundação. Tinham ainda direito a férias em Oeiras, na colónia balnear, onde eram acompanhados por monitores e os pais podiam visitá-los aos fins de semana. Tudo isto era totalmente pago pela Oliva.

Qual foi a maior lição de vida que aprendeu durante o seu tempo na Oliva?
A Oliva formou-me, tanto a mim quanto a outros, homens e mulheres. A maior lição de vida que aprendi na Oliva, foi quando me tornei responsável pelo pessoal de admissão e transferência.

Já referiu que esta empresa mudou a sua vida por completo. Não seria o homem que é hoje se não tivesse trabalhado lá?
Uma das lições que levei muito a sério, nesse processo de formação pessoal, foi a de não aceitar subornos. Levei isso tão a peito que, às vezes, sentia receio de tomar decisões, como uma admissão ou transferência.

A empresa ajudou muitos funcionários a crescer enquanto pessoa. No seu caso em particular, em que aspetos é que sente que evoluiu, durante o tempo em que lá trabalhou?
Quando o Sr. Oliveira decidiu criar uma cantina, para que os funcionários não ficassem nas imediações da fábrica a comer o que levavam nas marmitas, eu fui chamado para a dirigir. Eram refeições baratas, 25 tostões na altura, e até os diretores iam lá comer. Eu cuidava de tudo, desde o controlo das senhas até ao pagamento das refeições. No início, eu não entendia de comida, mas passei a envolver-me mais no processo, até observar que os cozinheiros profissionais estavam a fazer um bom trabalho. Questionava os diretores sobre a cobrança do valor pago e atrevi-me a sugerir que as refeições fossem gratuitas para os trabalhadores.

Sentiu que era uma pessoa de confiança aos olhos daquela empresa, é isso?
Posso dizer que sim.
Eu na altura deixei claro, que era chefe de uma área de escritórios e que não percebia nada de comes e bebes. Porém, isso não abalou o propósito de quem tinha o poder de decisão. Entre outras coisas, eu era responsável pelas encomendas e pelos pagamentos aos fornecedores, que eram feitos de forma impecável. Contudo, devo dizer que fui aliciado, repetidas vezes, para alterar as decisões que tomava. Nunca cedi. Investigava quem me enviava os produtos e tentava garantir que os valores requisitados correspondiam ao que era realmente necessário. Nunca tive intenção de aceitar qualquer proposta indevida.

“A Oliva pagava acima da média, com aumentos anuais”

Posso concluir que foi sempre uma pessoa muito rigorosa?
Muito, até em casa e comigo, devido aos grandes valores que me foram transmitidos.
Mas sente que algum dia terá sido injusto com alguém dentro da Oliva?
Quem é que não foi? Olhe, não me custava nada pedir desculpa disto ou daquilo. Ou, se me parecesse que estava mal, não me custava nada. Devido, talvez, já aos cursos de formação que eu ia fazer ao Porto.

O que seria de S. João da Madeira sem a Metalúrgica Oliva? Que impacto teve junto dos trabalhadores e da própria cidade?
Seria uma cidade diferente. Havia uma grande percentagem de trabalhadores dos arredores. As empresas em S. João da Madeira eram boas, mas nenhuma oferecia o que a Oliva oferecia, especialmente em termos de vencimentos e de regalias sociais. A Oliva pagava acima da média, com aumentos anuais. Havia assistência médica e medicamentosa. Dois médicos permanentes na Oliva: um de manhã e outro à tarde, além de enfermeiros sempre presentes. Não precisávamos de ir à Segurança Social, estava tudo lá dentro, controlado. Se fosse preciso baixa, era passada ali mesmo. A Oliva era uma cidade dentro da cidade. Estava tudo lá. Colónia de férias para os filhos dos colaboradores, apoio escolar para os trabalhadores e também para os filhos.
A Oliva tinha um espaço próprio só para bicicletas. Primeiro vinham de bicicleta, depois começaram a vir de motorizada. Lembro-me de admitir pessoas que vinham de aldeias do concelho de Arouca, debaixo de chuva, no inverno, para entrarem às seis da manhã. Aquilo marcava-me…
A Oliva atribuía subsídios de casamento, nascimento, doença, invalidez, velhice, morte e luto. Os trabalhadores sabiam que, caso perdessem um familiar próximo ou enfrentassem uma situação difícil, não ficavam desamparados. Existiam apoios que, pelo menos, permitiam começar de novo e evitar a miséria. Era algo verdadeiramente notável. Também as refeições fornecidas pela empresa eram extremamente económicas, pensadas para responder às necessidades dos colaboradores. A formação era constante. A empresa indicava os cursos que os trabalhadores deviam frequentar, investindo diretamente no seu crescimento profissional e pessoal. Foram 25 anos da minha vida de dedicação à empresa. Durante esse tempo, vi nascer também uma cooperativa que fornecia géneros alimentares, vestuário, eletrodomésticos e outros bens essenciais, tudo a preço de custo, sem lucro. Era um modelo de apoio social que hoje dificilmente se encontra. A Oliva não era apenas uma fábrica, “era uma cidade dentro da cidade”.

Como descreve afinal o fundador da Oliva?
Um homem à frente do seu tempo. Posso dizer que, ao longo desses anos, a Oliva esteve sempre à frente de muitas práticas que só agora começam a ser reconhecidas, como os prémios aos trabalhadores. Por exemplo, recentemente vi na televisão que uma fábrica de automóveis, no Alentejo, estava a oferecer prémios aos seus colaboradores, algo que a Oliva já fazia há 60 anos. Eu mesmo recebi vários desses prémios, bastava cumprir com as exigências, como as horas de trabalho e as obrigações solicitadas, embora não fosse operário, mas estava sempre à altura das responsabilidades. O fornecimento desses prémios vinha por intermédio do Dr. Carlos Pinto ou do Dr. Salgueiro, que eram os meus superiores.

Voltando ao centenário da empresa. A determinada altura da sua vida passa a investigador da própria Oliva, como chegou e conseguiu fomentar essa investigação?
Cheguei até a fornecer informações para um livro que foi encomendado a uma historiadora pela ERT. A tese de uma estudante que estava a fazer o seu curso superior, Mariana, também falava sobre a Oliva. No entanto, os dados que eu dei à Mariana nunca foram passados para a Câmara. Na verdade, a Oliva acabou por não ser mencionada na tese dela, porque era um mundo tão grande que mereceria uma tese à parte.
O que sabemos é que a Câmara, sob a presidência de Castro Almeida, não possuía muitas informações sobre a Oliva, apesar de o pai dele ter trabalhado lá nos anos 40 do século passado. O pai, por exemplo, não sabia de muitos prémios, porque, naquela época, a Oliva ainda não os oferecia da mesma forma. Foi só mais tarde que isso começou.

Mas não lhe parece estranho uma autarquia, como S. João da Madeira, não ter essa informação da Oliva?
Eu acho muito estranho que, em algumas situações, se interessem por pequenas empresas, até oferecendo apoio, mas não pelo que a Oliva fez. A Fundação Oliveira Júnior foi uma homenagem ao pai do Sr. Oliveira, e o dinheiro que, de outra forma, iria para os acionistas, era canalizado para essa fundação. Era uma maneira de apoiar causas e projetos, sem que fosse distribuído diretamente entre os acionistas. Era assim que eles viam a gestão dessa verba. A fundação dava muito apoio, e tudo isso está documentado nos papéis que eu lhe forneci. Para mim, a questão central era tentar contactar algumas empresas para ver se podiam fazer algo mais, mas, muitas vezes, ficavam impressionados, sem entender como é que a Oliva conseguia dar tanto

Mas como e onde fez essa investigação?
Eu pesquisei em todos os lugares possíveis: nos jornais, na Biblioteca de S. João da Madeira, na Feira, em Arrifana, e noutros locais onde achava que poderia encontrar algo. Juntei todo esse espólio e informação. Algumas dessas informações já as tinha, mas, sem a pesquisa adicional que fiz, não conseguiria ter escrito a história que está documentada. Foi o que eu disse ao Dr. Castro Almeida, na altura presidente da Câmara Municipal.
Eu tenho documentos comigo que estão registados e que entreguei à biblioteca. Um dos mais importantes é o documento oficial da fundação da Oliva, registado em Oliveira de Azeméis, datado de 1925. Esse documento é uma peça crucial, o verdadeiro ‘nascimento’ da Oliva. Quando entreguei esse documento à responsável na altura pela biblioteca, ela ficou impressionada, e disse que o colocaria na vitrina, devidamente guardado e fechado à chave.
No entanto, dois meses depois, recebi uma chamada dela. A notícia não era boa, dizia-me. Contou-me que alguém tinha retirado o documento da vitrina. Afinal, a vitrina estava trancada e só quem tinha acesso à chave poderia abri-la. Isso é algo muito estranho. Quando percebi o que havia acontecido, pareceu-me claro que deveriam reunir o pessoal da biblioteca para tentar esclarecer a situação.

Mas o que foi feito nesse sentido?
Nada, ao que parece. Confesso que na altura fui bruto com a responsável pela biblioteca, admito. Pedi-lhe para reunir o pessoal. Dei-lhe um prazo para encontrar o documento e disse-lhe que se isso não acontecesse, só lhe restava uma saída: demitir-se. Nunca mais me convidou para reuniões. O documento original da fundação da Oliva desapareceu da Biblioteca de S. João da Madeira… e, até hoje, ninguém sabe o que aconteceu? Ninguém sabe quem o tem.

Toda essa informação que o senhor diz ter nomeadamente cópias dos documentos forneceu na altura à Câmara Municipal, é isso?
Sim, sim... Os documentos fiquei eu com eles e com a cópia do documento que referi.

“A cidade não lhe prestou a homenagem devida ao nome maior da Oliva”

Disse, antes de começarmos a nossa conversa, que é a favor do 25 de Abril. Amanhã assinala-se 51 anos da revolução dos cravos e disse-me mesmo que foi depois de Abril de 1974 que a empresa mudou…
Não tenho dúvida nenhuma. Havia plenários todos os dias. Reunia-se todo o pessoal, mais de três mil trabalhadores, mas ninguém trabalhava. Era esse o cenário. Depois, começaram a organizar-se por setores. Um setor de cada vez, para tentar manter alguma produção mínima. Mas, mesmo assim, muitos desses plenários continuavam a acontecer à tarde, quando o impacto na produção era menor.
Era um ambiente muito politizado.

Posso concluir que há uma Oliva antes do 25 de Abril e uma depois do 25 de Abril?
O 25 de Abril trouxe-me coisas boas, como a liberdade, e muitas outras vantagens. No entanto, a Oliva já oferecia muito antes disso. Já fornecia tudo o que estava ali e, no entanto, não recebia nada em troca. Já não se produzia. Apenas aqueles que realmente precisavam da produção, como o toldo, ou material para as casas é que estavam a ser construídas, ainda recebiam algo. Mas, no geral, tudo estava a ficar negativo. Foi nesse contexto que passei para a direção financeira, ou melhor, para a contabilidade.

A empresa faliu em 2010. A Câmara Municipal comprou e reconverteu, pouco tempo depois, as principais peças do complexo. Com um investimento de cerca de 12 milhões de euros, maioritariamente de fundos comunitários, a torre da Oliva passou a ser a receção do Turismo Industrial, com o Museu do Calçado e o Núcleo Histórico da Oliva. A área das fábricas abrigou a incubadora Oliva Creative Factory (OCF) e um núcleo de arte contemporânea. Como vê esta nova vida da Oliva?
A Oliva já não existe, e os edifícios da Oliva estão cada vez mais degradados, especialmente na parte velha. Quanto ao edifício da Torre e ao aproveitamento da parte nova, acho que foi uma aposta ganha do município.
Nunca acreditei que o Dr. Castro Almeida fosse capaz de fazer isso. Já o tornei público e disse-lhe mesmo isso. Foi o meu pensamento na altura, enganei-me. Admito que estava enganado sobre aquilo. Fazem-se lá muitos eventos, muita coisa que tem contribuído para o enriquecimento cultural de S. João da Madeira.
Relativamente à parte velha, o “coração da fábrica”, não entro lá, tal é o estado de degradação a que chegou. Prefiro ficar com as memórias que tenho e que são muitas. Nos tempos áureos do Oliva, as pessoas perdiam-se lá dentro. Não sabiam onde estavam, tal era a dimensão daquilo. O comboio, entrava, despejava as encomendas e saía do outro lado. Havia ruas, passeios, iluminação à noite e umas bombas de gasolina. Era para os veículos da empresa e os diretores abastecerem os carros.
Hoje, tal como aquilo está, é a pior maneira de honrar a monumental obra de António José Pinto de Oliveira. Se não fosse ele e as suas exigências, em benefício de todos, a terra não teria o que tem. Infelizmente, a homenagem que aquele homem merecia não foi feita.

Foi a cidade que não lhe fez a homenagem? Ou foram os trabalhadores?
Os trabalhadores não tinham autonomia. A cidade não lhe prestou a homenagem devida ao nome maior da Oliva. Um homem excecional, figura ímpar da galeria dos notáveis e dos beneméritos de S. João da Madeira. Eu sei que, na altura, havia outros, mas nenhum fez tanto, nem sequer metade do que ele fez por S. João da Madeira.

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