Sociedade

“Abrir esta casa à comunidade também é uma forma de combater a solidão”

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A 2.ª edição da Semana Aberta da Casa Azul está de regresso entre os dias 23 e 27 de junho e, este ano, o tema em destaque é a «Solidão». O evento vai contar com momentos de encontro e partilha e, em simultâneo, pretende promover estratégias emocionais e comportamentais para combater um flagelo social que afeta inúmeras pessoas e grupos sociais.
À semelhança do ano passado, a iniciativa da Casa Azul pretende dar a conhecer as instalações e os serviços a qualquer elemento da comunidade, uma vez que acolhe diversas respostas e projetos sociais da Santa Casa da Misericórdia de S. João da Madeira. O programa de atividades da Semana Aberta, que incluem sessões de autocuidado, autoconhecimento e exploração do potencial criativo, pretende alertar e sensibilizar para o tema «Solidão», assim como dar ferramentas aos interessados para se conectarem consigo próprios.
Além de manter as dinâmicas que diariamente caracterizam o trabalho da Casa Azul, como o pequeno-almoço para pessoas em situação de sem-abrigo, nas manhãs da semana de 23 e 27 de junho a Casa Azul vai proporcionar um espaço de autocuidado com várias ações nesse âmbito, como nutrição, meditação e massagens. “Já o espaço sensorial é associado ao autoconhecimento; vai recorrer aos cinco sentidos para promover a reflexão sobre nós mesmos”, explicou a assistente social Renata Silva ao jornal ‘O Regional’. Associado ao espaço sensorial, todos os dias será feito um relaxamento sensorial de grupo às 12h30 e às 17h00. De tarde, os ateliês de expressão artística têm lugar na Casa Azul tal como aconteceu no ano passado, tais como olaria, cerâmica e artes visuais. “O restauro de móveis é a nossa grande novidade deste ano”, revelou Renata Silva. A tertúlia «Sós no meio de nós», que vai contar com profissionais de diversas áreas, também faz parte do programa de atividades, assim como o «Antiarraial», um momento de convívio que pretende unir todos os participantes. De forma permanente, a Semana Aberta vai disponibilizar a rubrica «Vai-me à loja», um espaço de exposição e venda de produtos dos participantes das respostas sociais da Casa Azul, além de um concurso e de uma exposição fotográfica de diversas atividades do projeto.
O tema «Solidão» foi escolhido por ser algo que a equipa da Casa Azul identifica nos seus vários serviços, nomeadamente o ‘Trilho’ – Unidade de Apoio nos Comportamentos Aditivos e Dependências, o Centro Comunitário ‘Porta Aberta’, os Trilhos D’Abrigo – Apartamentos Partilhados, o Projeto de Reinserção Socioprofissional – ‘Trapézio Com Rede’ e o refeitório social ‘Senta.Com’. “O Centro Comunitário acaba por ter uma população mais envelhecida e isolada; importa refletir sobre isso”, exemplificou Renata Silva. “Pessoas que têm questões de saúde mental acabam por se fechar dentro de si e a comunidade acaba por não entender essas pessoas. Mesmo a população com comportamentos aditivos e pessoas em situação de sem-abrigo estão num limiar em que vivenciam percursos muito solitários”, continuou a assistente social, acrescentando: “Todas as populações que acompanhamos acabam por ir ao encontro desta temática; abrir esta casa à comunidade também é uma forma de combater a solidão.”
Outro dos objetivos da Semana Aberta diz respeito à desconstrução de preconceitos e rótulos associados à Casa Azul, como referiu a assistente social Cláudia Reis, do Centro Comunitário ‘Porta Aberta’. “Tem sido um trabalho contínuo e a Semana Aberta é exatamente para isso; o Centro Comunitário trabalha para e com a comunidade e começa a trazer cá pessoas que, até então, rotulavam esta casa com uma conotação negativa”, exemplificou. Claúdia Reis também relembrou a importância de combater a solidão, uma vez que esta acaba por afetar, inevitavelmente, qualquer pessoa. “A título pessoal e individual, precisamos de trabalhar o nosso envelhecimento e a nossa solidão. À medida que envelhecemos, vamos ficando cada vez mais sós”, salientou. A psicóloga Priscila Almeida enalteceu que a solidão pode ser vivenciada em qualquer altura e em qualquer idade e que, além disso, as pessoas vulneráveis acabam por estar mais distantes do movimento habitual da sociedade. “Estando mais distantes do movimento dito normal da sociedade, as pessoas vão estar, à partida, mais excluídas e mais sós”, observou.

«Visitas Solidárias» no combate ao isolamento social

Desde setembro de 2024, surgiu uma nova resposta social da Casa Azul designada por «Visitas Solidárias», uma iniciativa que pretende mitigar o isolamento social dos idosos ou de pessoas dependentes que não saem de casa por vários motivos, como aqueles relacionados com o estado de saúde atual. No total, a psicóloga Catarina Silva acompanha 20 idosos, sinalizados quer pelo Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social (SAAS), quer pelo projeto Radar Social da Câmara Municipal de S. João da Madeira.
A visita semanal periódica permite levar àquelas pessoas conforto emocional e estimulação cognitiva. “Há muita escuta ativa numa parte inicial, porque, muitas vezes, as pessoas têm necessidade de falar de questões que estão muito enraizadas”, explicou Catarina Silva. “Numa fase final de vida em que estão mais sós, relembram muito o que já passaram e há esta necessidade de comunicar, de ter alguém de referência com quem conversar; muitas vezes, não falam com ninguém da família e têm-me a mim como referência para falar”, afirmou.
Além do apoio emocional, a estimulação cognitiva também é bastante trabalhada nas visitas. Catarina Silva deixa cadernos de atividades com os idosos e realçou que estes têm “resultado muito bem”. “Têm feito as atividades todas e querem sempre mais. Descobrem talentos que nem sabiam bem que os tinham e tem sido muito gratificante o trabalho que tenho desenvolvido com eles”, garantiu. No que diz respeito ao isolamento social, a assistente social Cláudia Reis acrescentou que ocupar a mente com algo é fundamental. “Uma forma de combater a solidão, mesmo quando a pessoa está só, é focar-se em algo prazeroso”, considerou.

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