Na outra margem, a experiência na primeira pessoa
A saúde mental pode traduzir-se num mundo desigual, dependendo de quem somos, da informação a que temos acesso e do apoio que é ou não prestado ao longo do nosso ciclo de vida. Com o recente cenário pandémico, a saúde mental tem vindo a conquistar terreno, neste momento, as pessoas valorizam e atribuem-lhe mais importância e ganham coragem para compartilhar as suas experiências nas redes sociais, o que contribui inevitavelmente para a diminuição do estigma que sempre esteve (e está) presente quando se fala nesta temática “porque somos gozados, brincam com a gente, porque nos deitam noutra margem”.
Saúde mental é ter bem-estar emocional e psicológico, ser capaz de criar e manter uma rotina, realizar uma alimentação saudável, estar em contato com a natureza, familiares e amigos, envolvermo-nos em atividades prazerosas (i.e., hobbies, meditação e relaxamento) e ter objetivos de vida, como realizar uma formação e trabalhar naquilo que gostamos.
Para que se possa intervir na doença e promover mais saúde mental é necessário que existam mais estruturas de apoio na comunidade, que o acesso às consultas de psicologia ou outras seja acessível a todos e de forma gratuita, que se diminuam os custos da medicação, que exista maior apoio na formação e no trabalho, assim como, no acesso à habitação. O apoio da família e a disponibilização de informação adequada e atualizada às comunidades, são também fatores que contribuem para o processo de recuperação e para a literacia em saúde mental.
Neste sentido, é também importante estar atento aos diferentes sinais de alerta: o isolamento e a solidão, a tristeza prolongada, a preocupação excessiva e o medo, o cansaço, a ansiedade, a irritabilidade, a falta de interesse na interação com os amigos e familiares, a ausência de rotinas, a falta de vontade de viver, as alterações na ingestão alimentar, alterações do sono, a diminuição dos autocuidados, as alterações do humor, consumo de drogas e bebidas alcoólicas em excesso e a perda de contato com a realidade, todos estes fatores que podem estar relacionados com o sofrimento psicológico. Ainda, é necessário ter em atenção que não é porque me sinto triste durante um ou dois dias que devo ficar preocupado, deve-se sim, estar atento à intensidade com que são sentidos estes sintomas e à gravidade de cada situação, assim como, a duração no tempo da mesma.
Quando a ajuda é necessária, devemos contatar logo que possível com um especialista em saúde mental, como um(a) psiquiatra, terapeuta ou psicólogo(a). Em situação de crise, a prescrição de medicação pode ser necessária e a ida a uma urgência é uma possibilidade a considerar.
Pedir ajuda pode ser difícil, mas não se recomenda que guardemos para nós os nossos problemas, se estes forem partilhados com os profissionais, amigos e família próxima, podemos ter acesso a um conjunto de estratégias que nos permitem lidar com os nossos pensamentos e emoções e promover o nosso bem-estar.
Aprender a meditar ou seguir um guião de relaxamento, ir até ao parque da sua cidade, falar com um amigo, ir ver o mar, não ter vergonha de pedir ajuda, comunicar com as pessoas que lhe são mais próximas, são um conjunto de ações simples que pode realizar. É importante realçar que cada um de nós pode e deve perceber o que é que funciona melhor connosco e colocar essas estratégias em prática.
Não há saúde sem saúde mental!
Utentes da Mentemovimento