Sociedade

“A maioria das pessoas quer ir diretamente até ao Porto”

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Realizou-se, no passado dia 4 de fevereiro, nos Paços da Cultura, uma conferência que contou com a participação de dois especialistas e oradores neste tema, Alberto Aroso e Pedro Meda, e da moderadora Cristina Azevedo.

“É possível uma ligação direta entre São João da Madeira e o Porto?” era esta a questão feita pelo jornal ‘O Regional’, que motivou a organização do debate, assim como “os vários pontos de vista que foram deixados pelo público nas semanas anteriores a esta conferência”. Neste sentido, este semanário trouxe a público uma “apreciação técnica” sobre a questão, no sentido de “reforçar o consenso”quanto à importância que o tema tem para a mobilidade da região. A sessão foi promovida ainda com o objetivo de destacar a relevância de outro consenso, o de que para a ligação ferroviária ser concorrente à rodovia tem de ser “cómoda, rápida e mais barata”, tal como clarificou Manuel Ferreira da Rocha, o diretor de ‘O Regional’ responsável pela organização do debate.
“Estamos aqui a discutir uma matéria de responsabilidade para as gerações futuras”, começou por exortar a moderadora do debate, a consultora Cristina Azevedo, chamou a atenção para a “exigência” que o mundo atual nos coloca para “estarmos em rede”, querendo com isto referir que a requalificação desta linha ferroviária “já devia estar definida”. Para fundamentar as suas palavras ressaltou que o Plano Regional de Ordenamento do Território refere que “é uma prioridade requalificar”a Linha do Vale do Vouga.

“Pretendemos para o futuro ficar agarrados ao séculoXX, ou queremos uma infraestrutura a pensar no século XXI”

O especialista Pedro Meda, do Instituto da Construção, da Faculdade de engenharia do Porto, e Alberto Aroso, especialista em transportes e vias de comunicação, (oradores convidados) expuseram as suas conclusões, retiradas de um estudo por si realizado em 2018.
A Linha do Vouga serve uma zona “com muita população” e indústria, de maneira que se “não diminuirmos os tempos de viagem de Oliveira de Azeméis a Espinho”, de forma a aumentar “a atratividade dos tempos de viagem”, temos o “futuro condenado”, evidenciou o eng. Alberto Aroso. A Linha do Vouga é uma estrutura ferroviária do início do século XX, mas que, em 2019, e “apesar do serviço débil”, transportou 600 mil passageiros, nas condições atuais.“Com uma ligação moderna e atualizada quantos passageiros é que se conseguia captar para o transporte ferroviário?”, acabou por questionar.

Conferência pretendeu fazer uma reflexão sobre a linha centenária que serve uma população com mais de 300 mil habitantes

O especialista tocou também no tema das alterações climáticas, na medida em que enalteceu a importância de mudar o paradigma dos transportes, uma vez que estas “já nos afetaram”, sendo a descarbonização da economia “uma necessidade urgente”. “O setor ferroviário é uma das apostas da UE para que seja a espinha dorsal da mobilidade sustentável”, mas para isso são“importantes” as características do “material circulante”.
Para se captar utilizadores para a ferrovia, e mais precisamente para a Linha do Vouga, é necessário que os tempos de viagem sejam “atrativos”. Para Alberto Aroso este fator apenas pode ser assegurado pela mudança para a “via larga”- bitola ibérica, porque, apesar de necessitar de mais investimento do que a via estreita-bitola métrica atual, vai servir de uma forma diferente as populações. Com a primeira opção, os usuários não vão necessitar de realizar um transbordo em Espinho, situação que demoraria “garantidamente 20 a 25 minutos”, pois as pessoas necessitariam de andar a pé da estação de Espinho-Vouga para Espinho. “Chego ao Porto e temos de fazer outro transbordo para a linha rubi, ou linha amarela, e isto vai-me criar duas barreiras- são dois transbordos. Para quem usa todos os dias é uma barreira muito grande- a falta de uma ligação direta afeta a atratividade da linha do Vouga” substanciou Aroso.

O engenheiro Pedro Meda referiu também um aspeto que considera urgente: a necessidade de introduzir tarifariamente “esta linha no esquema do Andante”(sistema de bilhética intermodal usado nos transportes da Área Metropolitana do Porto), uma vez que ainda não é uma realidade para esta linha.
No estudo que os oradores e a sua equipa realizaram verificaram igualmente os elementos comuns aos três cenários que identificaram, para avaliar economicamente as possibilidades de modernização da Linha. Estes elementos comuns seriam, “a integração tarifária do andante independente da solução escolhida”; a melhoria do interface em Espinho de forma a tornar-se “atrativo” para a mobilidade e a requalificação da via “independente da solução escolhida”(alteração do traçado para aumento de velocidade e supressão de passagens de nível).

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