O novo livro do padre Anselmo Borges, “O Mundo e a Igreja que Futuro?”, editado pela Gradiva, já na 3.ª edição, foi apresentado, na Biblioteca Municipal Dr. Renato Araújo, no último sábado, dia 26.
Jornal ‘O Regional’ – O livro “O Mundo e a Igreja que Futuro?” permite aos leitores fazerem uma reflexão sobre os novos tempos da igreja. Como surgiu a ideia de escrever este livro muito polémico?
Padre Anselmo Borges – Este livro foi uma surpresa para mim, e, na verdade, já vai na sua 3.ª edição. Surge, porque estamos numa situação com graves problemas na história da humanidade. A guerra nuclear, guerras dispersas, ciberguerras, fluxos migratórios, incontrolados e incontroláveis, já para não falar das alterações climáticas. É importante pensar em erguer uma Governança Global. Dentro desta governança, julgo que a Igreja Católica tem um papel decisivo a desempenhar, uma vez que é a única instituição, hoje, verdadeiramente global, no duplo sentido de que não só está em todo o mundo, do ponto de vista geográfico, mas em todas as camadas sociais. Nesse sentido, a Igreja pode, e deve, neste mundo, dar um contributo decisivo para o futuro do mundo, desde que o faça em união com as outras igrejas cristãs, mas também em diálogo inter-religioso. Isto é, com as outras religiões mundiais.
Está a falar-me de um entendimento entre o islão e o cristianismo?
Exatamente. Se ambos se entendessem, ocupavam no mundo mais de metade da humanidade. E é em todo este quadro que o meu livro se situa. Mas é importante esclarecer que a igreja católica, para se enquadrar neste quadro, obriga a pensar numa governança global, pois, assim, a igreja católica tem que renovar-se, porque tem imensos problemas.
Mas que renovação é que a Igreja Católica necessita de operar para desempenhar esse papel que fala “fundamental e decisivo”, em união com as outras religiões cristãs mundiais. Afinal do que é que a Igreja precisa?
Em primeiro lugar, a Igreja precisa renovar-se. Renovar a sua fé. É necessário que cada católico pergunte a si mesmo: eu estou na igreja porquê? Qual é a mensagem que Jesus trouxe? É importante questionarem-se sobre a sua fé verdadeira! Já a nível institucional, a igreja tem que renovar-se. E é necessário acabar com esta pandemia da pedofilia, que é uma verdadeira tragédia. Uma vergonha.
É necessário acabar também com os escândalos financeiros no Vaticano. É essencial a transparência, a nível económico. Julgo que é necessário acabar com o celibato obrigatório, entendo que as mulheres devem ter um papel na Igreja em igualdade com os homens, porque não podem ser descriminadas, porque Jesus não as descriminou. É também sobre todas estas problemáticas que o meu livro se debruça.
Falou, há pouco, em pandemia de pedofilia. Acha que as pessoas vão sair diferentes da Pandemia da Covid-19, que ainda afeta o Mundo?
Não, necessariamente. A covid é um vírus, e não é um milagre. Para sairmos melhores, era necessário pensar, e hoje pensamos muito pouco. As pessoas vivem muito à superfície, na correria, dão mais valor ao ter do que ao ser, há egoísmo, desequilíbrios sociais, as pessoas vivem mais do imediatismo. O ser humano caracteriza-se por pensar. Isso cura. Atualmente, não se pensa.
E quanto aos valores e educação?
Há valores. O que entendo é que o que tem acontecido é uma inversão de valores. Os valores, que valem mais, não se compram nem se vendem. A honra, a dignidade, mas as pessoas colocam como valor primeiro o ter, o dinheiro, o poder. Quanto à educação, dou o exemplo dos professores que não são ainda valorizados como deviam nas suas carreiras. Os jovens, em vez de lerem livros, para estruturar a sua personalidade, está todos com os aparelhos digitais a viverem e a lerem banalidades.
Artigo disponível, em versão integral, na edição nº 3881 de O Regional,
publicada em 3 de março de 2022