Sociedade

“A história da Misericórdia é riquíssima”

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Numa altura em que a instituição assinala o seu centenário, o provedor faz uma radiografia da história de um lugar que se esforça diariamente para disponibilizar, aos utentes, a dignidade que merecem.

Jornal ´O Regional’ - A Misericórdia está a completar cem anos de existência. Este centenário revela a importância histórica da instituição...
Provedor José António Pais Vieira - É verdade. Em sete de dezembro completam-se 100 anos sobre a data em que o Governo Civil de Aveiro aprovou dos estatutos elaborados e assinados pelos 124 fundadores da instituição. Estávamos em plena I República e eramos uma freguesia de Oliveira de Azeméis. O contexto não podia ser mais difícil, mas testemunha bem a fibra e pertinácia daqueles 124 fundadores.

Neste século de vida, que marcos históricos identifica?
Logo no início, a intenção de construir e pôr em funcionamento o antigo Hospital, era uma enorme ambição. Repare que S. João da Madeira era uma pequena aldeia e os raros hospitais só existiam nas grandes cidades. O clima social em Portugal também não ajudava, era desastroso, tinha acabado a monarquia e os republicanos não se entendiam. O país estava endividado e não merecia a confiança de nenhuma entidade externa para obter financiamento. Foi este ambiente que a comissão escolhida para materializar o sonho teve de enfrentar. Foram anos muito difíceis, com uma inflação galopante que rapidamente tudo derretia, mas os sanjoanenses de cá e da emigração não se intimidaram e em 1921 já haviam conseguido edificar o tão desejado hospital.

O ano de 1974 também foi importante...
Tudo o que se passou no final de 1974. Despoticamente, e numa atitude usurpadora, um governo da extrema-esquerda retirou-nos a administração do nosso Hospital e deixou a Misericórdia quase sem atividade e em risco de ter de fechar portas. Felizmente, o Provedor e toda a Mesa Administrativa da altura não se deixaram intimidar e promoveram uma espécie de refundação. Começaram a desenvolver esforços no sentido de providenciarem à sua terra um lar, onde os trabalhadores, depois de uma vida inteira de canseiras, tivessem na velhice um lugar onde pudessem ser amparados e tratados com toda a dignidade. Em 1980 esta estrutura já era uma realidade.
O enorme dinamismo que então se criou, manteve-se nos anos seguintes e rapidamente deu origem à construção de dois novos infantários, uma nova residência para idosos e um centro de acolhimento para crianças negligenciadas.

Mas recentemente a Misericórdia também escreveu na página da sua história outros acontecimentos…
A história da Misericórdia é riquíssima, como poderemos ver nos três volumes já publicados. Nos últimos anos surgiu também um facto que considero inolvidável. A aquisição do Centro Social de Fajões pela nossa Misericórdia foi um ato de muita coragem e do acreditar que esta instituição nasceu para ser grande. Grande no auxílio que presta às populações, não só no concelho, como também nas freguesias vizinhas. Repare que todas as organizações de caracter social da região foram convidadas a salvar aquela instituição de Fajões e S. João da Madeira foi a única que respondeu positivamente. E devo confessar, que tivemos de recorrer a endividamento, porque não tínhamos dinheiro para fazer a aquisição.

A pandemia condicionou muitas das vossas ações, mas também criou na Misericórdia desafios. Já há data para a escritura de assinatura de Compra e Venda em Nogueira do Cravo para criar mais uma valência?
Nogueira do Cravo é outro exemplo do que acabei de afirmar. Toda a nossa atividade mereceu a atenção de instâncias superiores que passaram a ver-nos com uma instituição com muito boa gestão e com coragem para enfrentar dificuldades. Por vontade da Diocese e nossa o assunto já estaria arrumado há muito. Dependemos, no entanto, do Instituto da Segurança Social em Lisboa, que, até ao momento, não deu luz verde. Acreditamos que, depois de conversas havidas recentemente, será possível, ainda este ano, encerrar o processo.

Entrevista em versão in­te­gral, na edição nº 3869 de O Re­gi­onal,
pu­bli­cada em 9 de dezembro de 2021

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